Copo na mão, copo no chão. Câmara de Lisboa quer acabar com rasto de plástico à noite

por Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Fotos: Gonçalo Costa Martins - Antena 1

Intactos, dobrados ou partidos. Todas estas formas de copos de plástico têm duas coisas em comum: estão fora de um caixote do lixo e estão vazios. A equipa de José Antunes encontra uma "fortuna" na Rua da Atalaia, no Bairro Alto.

Intactos, dobrados ou partidos. Todas estas formas de copos de plástico têm duas coisas em comum: estão fora de um caixote do lixo e estão vazios. A equipa de José Antunes encontra uma “fortuna” na Rua da Atalaia, no Bairro Alto.

“Um euro cada copo e já ganhava aqui o dia”, comenta José com uma colega. “Uma fortuna”, sugere a Antena 1 e ele concorda “sem dúvida”.

Habitualmente são as equipas da junta de freguesia que colhem esta “fortuna” no interior dos bairros, mas, às seis da manhã de sábado, uma equipa da câmara municipal guia o microfone da Antena 1 por um dos principais pontos negros da noite de Lisboa.

As ruas “sujas” com copos de plástico, garrafas de vidro, latas, palhinhas e até limas de caipirinhas “são o resultado da noite, de pessoal que veio para os bares”, diz José Antunes.


Entram e saem dos bares e ficam nas ruas, mas muitos clientes têm uma mão fechada, uma bebida entre os dedos. À medida que os bares fecham, que os caixotes do lixo enchem (e que as mãos começam a ficar vazias), os copos de plástico de utilização única começam a acumular-se no chão. Formam um rasto nas estradas e nos passeios.

Quando o dia começa a ganhar luz, as equipas municipais de higiene urbana entram em ação e trazem consigo um camião que faz quase todo o trabalho.

Os cantoneiros puxam o lixo que conseguem do passeio para a estrada, onde depois uma “varredeira” com rodas (que é um camião pequeno) aspira o que encontra pela frente.

“Puxa-se as coisas para a ‘coxia’ [as laterais das estradas] para a máquina poder varrer”, explica José Antunes. O camião anda para trás e para a frente, do lado esquerdo para o lado direito das estradas, tudo até às ruas voltarem a estar apresentáveis.

Cortar o mal pela raiz

Os locais mais problemáticos acabam por ser as zonas de diversão noturna. Isso mesmo verificou a Antena 1 numa noite de sexta-feira para sábado, ao percorrer a pé as zonas do Bairro Alto e do Cais do Sodré.

O lixo fica “à frente dos bares” e até fazem “uma pilha” nos caixotes, comentam Filipa Ribeiro e Hugo Gomes na zona envolvente do Cais.

Outra jovem, animada junto ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, afirma que viu “imensos” copos e “uma amiga atirou um para o chão”. Diz até como resolveu: “tive de apanhar e dar ao senhor do bar para ele deitar no lixo, porque [o copo no chão] estava a poluir as tartarugas”.

A Câmara Municipal de Lisboa também quer varrer o assunto, mas pretende cortar o mal pela raiz. “Temos que arranjar formas de reutilizar e reintroduzir nos sistemas os copos, os talheres e todos estes utensílios de uso único que usamos diariamente na sociedade”, aponta o diretor do Departamento de Higiene Urbana, Nuno Vinagre.

A autarquia já fez saber, no início de maio, que os restaurantes têm 60 dias para deixar de servir para fora produtos em que sejam utilizados materiais de plástico com utilização única.

Além de uma mudança de hábitos “necessária e urgente”, Nuno Vinagre diz que a atividade da restauração e das bebidas “não deve ser feito à custa da limpeza da cidade e da responsabilidade ambiental”. Assegura que a câmara municipal está a trabalhar as soluções com associações de comerciantes e juntas de freguesia.


O sistema público para contornar essa limitação ainda está a ser pensado, mas, das conversas com a câmara municipal, o presidente da Associação de Bares, Discotecas e Animadores antevê uma espécie de circuito de copos reutilizáveis.

Reconhecendo um “custo inicial maior” para os bares, Ricardo Tavares diz que serão cobrados aos clientes, embora, “na devolução do copo, têm a devolução exatamente do mesmo valor” e que “vão e vêm”.

“É para o bem do ambiente e é para tirar este peso dos bares, que são os responsáveis pelo lixo nos bairros históricos”, refere Ricardo Tavares, não deixando de notar que “existe mais lixo que os copos nos bairros históricos”.

Outra das alterações previstas é a necessidade de os estabelecimentos limparem a via pública num espaço de dois metros em relação à porta.

As alterações deverão entrar em vigor até ao final de junho ou, mais tardar, início de julho.
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