COP27. António Costa reforça compromissos de Portugal e aposta nas energias verdes

por RTP
Reuters

O primeiro-ministro discursou, esta terça-feira, perante a COP27 para transmitir que Portugal não abranda metas ambientais por causa da crise energética nem da guerra na Ucrânia, nem recua nos seus "compromissos". António Costa reafirmou, na conferência climática no Egito, que será antecipado para 2045 o objetivo da neutralidade carbónica.

"A ciência é clara: a emergência climática é já uma crise que nos afeta hoje", começou António Costa.

Mas o "drama da guerra na Ucrânia" não pode sobrepôr-se à "urgência da resposta aos desafios das alterações climáticas".

Tendo como plano de fundo a crise energética e o conflito entre a Ucrânia e a Rússia, o chefe de Governo frisou que as consequências da guerra "têm mostrado quão necessário é acelerar a transição energética e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis" e que a "dramática escalada de preços na energia" afeta toda a população, "deixando milhões em situação de pobreza energética".
Segundo António Costa, Portugal "é um exemplo de como investir na transição" garante que menos dependência e mais segurança do "ponto de vista energético", visto que "há mais de 15 anos iniciou a aposta nas energias renováveis".

"Não podemos recuar nos nossos compromissos".

Para o primeiro-ministro português, é importante que no fim da COP27 os Governos tenham "uma visão clara" e que permita alcançar resultado desde "a mitigação ao financiamento, passando pela adaptação e revisão das contribuições nacionais".

E este esforço, sublinhou António Costa, "tem de ser liderado pelos países desenvolvidos e pelos países grandes emissores".

Portugal mantém compromissos
No discurso, o primeiro-ministro anunciou que Portugal vai organizar em 2023 a Conferencia Internacional sobre Incêndios Florestais e mais um fórum de investimento em economia azul sustentável.

“Uma palavra muito dolorosa sobre os incêndios rurais - uma realidade nem sempre abordada neste fórum, mas da maior importância para a redução de emissões e para a capacidade de a floresta desempenhar o seu papel de sequestro de carbono”, declarou António Costa.

De acordo com o líder do executivo português, estima-se que 6 por cento das emissões mundiais resultem de incêndios
de causa humana e assinalou que em anos mais extremos esse valor pode chegar a representar 20 por cento.

“Melhorias significativas nas políticas e nos processos de prevenção e extinção de incêndios são assim um importante contributo para a redução de emissões e a defesa das florestas. É nesse quadro que, em 2023, organizaremos em Portugal a 8ª Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais, onde se pretende construir um referencial do risco de incêndio e o modelo de governança do mesmo”, disse.

O primeiro-ministro convidou então todos os países representados na COP27 a participarem neste evento.

“Portugal não perde de vista os seus compromissos. As nossas metas são ambiciosas, mas temos conseguido cumpri-las e até antecipá-las”.

O Governo português, referiu, acredita que "a transição energética justa pode ser sinónimo de crescimento e prosperidade económica" mas, acima de tudo, "um imperativo moral"

"Como líderes, devemo-la às nossas populações, ao resto do mundo, e às gerações futuras"
, sublinhou.

Por isso, continuou, foi reforçado o objetivo de "atingir a neutralidade carbónica até 2050, com o compromisso de estudar a viabilidade da sua antecipação até 2045".

"Conseguimos antecipar em dois anos o encerramento das nossas últimas centrais a carvão, que já deixaram de funcionar no ano passado e, apesar da crise energética, não vamos reativar. Continuamos também a apostar nas renováveis e temos a capacidade e a ambição de passar de importadores de energia fóssil a exportadores de energia verde”, sustentou.

O líder do executivo observou então que as energias renováveis em Portugal “representam já cerca de 60 por cento da eletricidade consumida” no país, sendo a meta “atingir os 80 por cento até 2026”.

“Estamos também convictos de que o hidrogénio verde e outros gases renováveis são energias para o futuro. E alcançámos há poucos dias um acordo com a França e a Espanha para a criação de um corredor verde para servir o Centro da Europa”, referiu a seguir.

No discurso, relembrou ainda que, este ano, Portugal coorganizou com o Quénia, em Lisboa, a 2.ª Conferência dos Oceanos em Lisboa.

“A gestão sustentável dos oceanos é também central para a nossa resiliência às alterações climáticas. Destaco, nesse âmbito, o Fórum de Investimento em Economia Azul Sustentável, no qual foram assumidos compromissos no valor de 10 mil milhões de euros. Dado o sucesso desta iniciativa, iremos realizar em 2023 a segunda edição deste fórum”, acrescentou.
Esforço global

Na conferência climática, António Costa considerou ainda tem de haver respostas para os problemas do continente africano e adiantou que Portugal vai reforçar a sua cooperação no domínio ambiental em 2023.

"Se estamos a fazer a nossa parte não podemos também esquecer as nossas responsabilidades no esforço global de financiamento", afirmou. "Esta COP27, realizada em África, tem de conseguir também dar respostas aos problemas deste continente”.

Na perspetiva do primeiro-ministro, Portugal tem vindo a “intensificar a cooperação para a ação climática” e em setembro assinou com o Banco Africano de Desenvolvimento um acordo de garantias de 400 milhões de euros.

“Um acordo para apoiar o investimento nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), em setores prioritários tais como as energias renováveis”, apontou.

De acordo com Costa, o país pretende “fazer mais” em termos de cooperação e, no quadro da Estratégia da Cooperação Portuguesa 2030 haverá um pilar dedicado ao planeta.

“E iremos reforçar em 25 por cento o apoio aos nossos parceiros da cooperação neste domínio”, acrescentou.

Além disso, Em tom de conclusão, António Costa deixou claro que o "diálogo multilateral é fundamental para atingir os objetivos de Paris e encontrar as respostas para fazer face aos desafios globais".

"Juntos, podemos caminhar rumo a sociedades neutras em carbono. Sociedades resilientes aos impactos das alterações climáticas. Sociedades que gerem de forma eficiente, circular e sustentável os seus recursos".

O objetivo, continuou, são "sociedades movidas por energias renováveis e apoiadas num princípio de transição justa".

"É esta a sociedade que Portugal deseja construir. É este o caminho da paz, da prosperidade e do desenvolvimento sustentável", concluiu.

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