Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Miguel Guimarães apela à criação de um programa, de apenas alguns meses, porque considera que se isso não for feito não será possível recuperar o que se perdeu. Admite que haja já hospitais a trabalhar no limite e diz que aquilo que a ministra da Saúde está a fazer não é suficiente, porque a resposta é urgente e as pessoas precisam de ajuda agora.
Sobre os atos médicos que ficaram por realizar, o bastonário já fez as contas. Comparando março, abril e maio, com o período homólogo de 2019, registaram-se menos 3 milhões de consultas nos cuidados primários, o que corresponde a uma quebra de 57 por cento; menos 900 mil consultas nos hospitais, ou seja, uma redução de 38 por cento; menos 93 mil cirurgias, e uma redução de 44 por cento no acesso às urgências. Acrescem a estes números, milhares de exames de diagnóstico complementar que ficaram por fazer.
Miguel Guimarães diz que os médicos "precisam de parar", que não parar "pode ter consequências desastrosas" para os médicos e para os doentes e que essa situação já se reflete nos serviços. Adianta que a ministra da Saúde não está a par da gravidade de situação.
Já quanto ao número de médicos infetados com a COVID, Miguel Guimarães revelou nesta entrevista os resultados do último inquérito feito pela Ordem dos Médicos. Dos 2600 questionários realizados, 49 responderam que estavam ou tinham estado infetados. Segundo o bastonário, extrapolando para o total do país, o resultado corresponde a 2 por cento ou seja a 1017 médicos. Um número mais elevado do que aquele que é apresentado oficialmente e que, segundo Miguel Guimarães, corrobora a necessidade que a Ordem desde sempre defendeu de testar regularmente os médicos, porque também eles podem ser uma fonte de contágio.
Sobre o prémio de desempenho a atribuir aos médicos, Miguel Guimarães diz que os médicos não precisam de prémios, nem de um prémio que não se sabe o que vai ser, precisam, isso sim, de ver a sua carreira valorizada. Mais: acusa a ministra da saúde de não ter valorizado o trabalho dos médicos. Aliás, Miguel Guimarães adianta que o primeiro-ministro esteve e continua a estar bem na condução da gestão da pandemia o mesmo não acontece com a ministra da Saúde, que não ouve as recomendações dos médicos e a diretora-Geral da Saúde, a quem Miguel Guimarães acusa de mentir.
A propósito da falta de verdade, o bastonário não tem duvida que os transportes públicos são uma fonte de contágio e espera que os jogos da champions não tenham público. Quanto a uma eventual nova vaga da pandemia no inverno, Miguel Guimarães espera que as vacinas cheguem a tempo e considera que a encomenda devia ter sido maior. Adianta ainda que devem ser desde já preparados dois hospitais de retaguarda, um em Lisboa e outro no Porto.
Uma entrevista conduzida pelos jornalistas Rosário Lira, da Antena1 e Catarina Almeida Pereira do Jornal de Negócios.