O consumo de drogas sintéticas está a aumentar acentuadamente e pode superar o consumo das drogas de origem vegetal, lamentou hoje o secretário executivo da CPLP, Zacarias da Costa, na apresentação de um relatório anual sobre entorpecentes.
O consumo das "drogas sintéticas está a aumentar de forma muito acentuada" e pode "tomar o lugar de algumas drogas de origem vegetal", tendo-se "verificado um aumento muito significativo do número de mortes decorrentes do consumo destas substâncias, com um impacto muito negativo na saúde pública", declarou Zacarias da Costa na apresentação `online` do primeiro capítulo do relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE) 2024, pela primeira vez em língua portuguesa e em parceria com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Para nós, CPLP, é uma honra associarmo-nos à apresentação do relatório da JIFE de 2024, um evento que decorre pela primeira vez em língua portuguesa", reiterou.
Segundo Zacarias da Costa, tendo como base o relatório da JIFE 2024, a indústria das drogas sintéticas está a evoluir de forma muito rápida devido às suas próprias características: não necessita, por exemplo, de terrenos para cultivo e as instalações ou laboratórios podem ser móveis.
Por sua vez, a representante da JIFE na apresentação do relatório, Mariângela Simão, acrescentou que o aumento do fabrico das substâncias sintéticas se deve aos custos operacionais reduzidos, à flexibilidade geográfica, à globalização, à maior resiliência contra apreensões, aos novos compostos criados por mudanças na estrutura molecular das substâncias, à adoção de novos métodos, aos custos baixos e lucros altos e ao facto de as remessas de drogas terem cada vez mais um tamanho menor (são mais leves que as drogas vegetais).
Segundo o estudo, as drogas sintéticas podem ser muito mais potentes do que as drogas de origem vegetal e causam centenas de milhares mortes por overdose todos os anos.
Relativamente a África, "o tráfico para mercados nas regiões sul, leste e oeste tem aumentado constantemente", explicou Mariângela Simão.
De acordo com o relatório, existe um tráfico de drogas em larga escala no continente africano, visível "pelas apreensões significativas de cocaína e outras drogas no Sahel".
África aumentou o seu consumo de cocaína, "provavelmente um efeito colateral do uso do continente como região de passagem para o tráfico de cocaína para a Europa", mas os dados permanecem escassos.
Por sua vez, o uso de `kush` - uma mistura de drogas que pode conter diversas substâncias psicoativas - continua a ser uma preocupação na África Ocidental, frisou.
Vários países africanos introduziram medidas para priorizar programas de prevenção e tratamento em detrimento de medidas punitivas.
No entanto, o número de pessoas que recebem tratamento para transtornos por uso de drogas em África continua muito baixo, lamentou Mariângela Simão.
Segundo a investigação, África continua a ser uma região de preocupação particular em termos de disponibilidade de entorpecentes e substâncias psicotrópicas, como drogas sintéticas farmacêuticas falsificadas para fins médicos e científicos.
Um dos exemplos citados na apresentação pela representante da JIFE é o uso do medicamento tramadol.
Mariângela Simão citou ferramentas e iniciativas para o controlo deste tráfico, nomeadamente convenções internacionais de controlo de drogas ou o Programa JIFE GRIDS.
A representante indicou ainda algumas políticas públicas para o combate deste tráfico, como coordenação nacional, aplicação da lei, partilha de informações e parcerias público-privadas.
A JIFE é um órgão de fiscalização independente para a implementação das Convenções Internacionais das Nações Unidas de controlo de drogas. Foi estabelecida em 1968 de acordo com a Convenção de Drogas de 1961, segundo a informação no seu `site`.
A CPLP, fundada em 1996, é constituída por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.