Consultas para IVG medicamentosa no Centro de Saúde de Viana

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

As consultas prévias para a interrupção voluntária da gravidez (IVG) medicamentosa no Centro de Saúde de Viana do Castelo arrancam terça-feira e terão lugar às terças e quintas-feiras, informou hoje a Sub-Região de Saúde.

O coordenador da Sub-Região de Saúde Viana do Castelo, João Carneiro, especificou à Lusa que as consultas das terças-feiras terão lugar entre as 09:00 e as 13:00 e as das quintas-feiras entre as 14:00 e as 18:00.

Estas consultas serão asseguradas por duas equipas, cada uma delas constituída por um médico, uma enfermeira e uma técnica de serviço social.

Da equipa da IVG medicamentosa também faz parte uma psicóloga, que dará consultas às sextas-feiras, das 09:00 às 13:00.

"Esta consulta com a psicóloga será marcada a todas as grávidas que fizerem a IVG", explicou João Carneiro.

Todas estas consultas terão lugar no edifício onde anteriormente funcionou o Serviço de Luta Anti-Tuberculose (SLAT).

O Centro de Saúde de Viana do Castelo será, assim, o primeiro do País a fazer IVG por medicamentos, mas, segundo Paulo Sarmento, coordenador da área de saúde materna da Administração Regional de Saúde do Norte, a intervenção vai ser alargada ainda este ano a outras unidades da região.

Paulo Sarmento disse que também alguns médicos de família dos centros de saúde de Penafiel, Paredes e Amarante começarão a fazer, ainda este ano, interrupção IVG medicamentosa.

"Nestes três casos, numa primeira fase, os médicos de família farão a IVG no Centro Hospitalar do Vale do Sousa, uma vez que ainda não estão criadas todas as condições logísticas para o fazerem nos centros de saúde", disse.

O responsável estima que dentro de um máximo de três meses a IVG já será possível naqueles três centros de saúde.

Paulo Sarmento explicou que a escolha de Viana do Castelo para o arranque da IVG medicamentosa nos centros de saúde se ficou a dever à circunstância de estarem reunidas todas as condições necessárias, começando pela grande proximidade do Centro Hospitalar do Alto Minho.

"Esta proximidade permite, por um lado, a realização da necessária ecografia sem obrigar a paciente a grandes deslocações e, por outro, garante uma intervenção imediata no caso de se registar qualquer complicação na IVG", frisou.

Além disso, afirmou, o Centro de Saúde de Viana do Castelo beneficiou ainda do facto de ter no seu quadro médicos e enfermeiros não objectores de consciência, a quem, entretanto, já foi ministrada a respectiva formação específica.

Para a realização da IVG medicamentosa, o Centro de Saúde de Viana do Castelo conta com dois médicos, dois enfermeiros, duas técnicas de serviço social e uma psicóloga, além de uma funcionária administrativa.

O processo começa quando a mulher vai ao centro de saúde marcar a consulta prévia, que deverá acontecer num prazo de cinco dias.

Segue-se a consulta com a psicóloga e, depois, são-lhe dados pelo menos três dias para reflexão.

Findo esse prazo, e se decidir avançar para a IVG, volta ao médico e é-lhe dada a primeira medicação, ficando o tratamento concluído dois dias depois através da administração da restante dose.

Quinze dias mais tarde, regressa ao centro de saúde para verificar se a IVG correu normalmente e para completar o ciclo de planeamento familiar, "para evitar de recorrer novamente ao aborto", disse Paulo Sarmento.

O arranque da IVG no Centro de Saúde de Viana do Castelo vai aliviar o Centro Hospitalar do Alto Minho, que se viu na contingência de contratar dois obstetras, em regime de tarefeiros, uma vez que os oito especialistas de que dispunha eram todos objectores de consciência.

A realização de abortos com medicamentos nos centros de saúde está prevista na nova legislação sobre a IVG.

Paulo Sarmento garante que 95 por cento das IVG nos hospitais é feita quimicamente, pelo que, acrescenta, os médicos de família "estão perfeitamente aptos" para as fazer, deixando para os hospitais os casos que necessitam de intervenção cirúrgica.

O presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal, Jorge Branco, disse à Lusa que o panorama da realização de IVG em Portugal vai "mudar progressivamente até ao final do ano", deixando de constituir um exclusivo dos hospitais para passar a ser feito em vários centros de saúde.

Jorge Branco considerou que a IVG nos centros de saúde "vai aliviar um pouco a pressão dos hospitais e será muito vantajosa", sublinhando que há médicos de clínica geral e familiar aptos a realizar abortos.

"Há médicos que já têm alguma experiência em saúde materna, que seguem alguns passos normais e que podem fazer perfeitamente este trabalho", sustentou.

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