Comunidade em crescimento, ortodoxos festejam Páscoa no próximo fim de semana

por Lusa

Lisboa, 09 abr (Lusa) - O número de católicos ortodoxos triplicou numa década em Portugal, onde existem 30 paróquias, que no próximo fim de semana festejam a Páscoa com um rito diferente do católico-romano, mas igualmente centrado na ressurreição de Cristo.

No último censos realizado à população portuguesa (2011), 56.550 pessoas declararam-se católicos ortodoxos, um número mais de três vezes maior do que o registado nos censos de 2001 (17.443), mas que ainda assim poderá não dar a dimensão total desta comunidade, uma vez que as respostas sobre religião são opcionais.

Os estrangeiros, sobretudo da Ucrânia, Rússia, Roménia, Moldávia e Bulgária, constituem a maioria dos ortodoxos residentes em Portugal e, em todo o país, existem 30 paróquias organizadas e mais 20 em criação, segundo disse à agência Lusa o padre Alexandre Bonito, representante da Igreja Ortodoxa e fundador de paróquias de várias nacionalidades.

Engrossada pelos fluxos de imigrantes ucranianos e russos que chegaram a Portugal a partir do final da década de 90, o desvio, nos últimos anos, deste fluxo imigratório para outros países não impediu o crescimento desta comunidade, que tem como líder o patriarca de Constantinopla.

Alexandre Bonito assinala as dificuldades de organização das paróquias, "afetadas pela ausência de estruturas específicas" para o culto, pelo "conservadorismo de alguns setores da sociedade portuguesa", pelas "profundas divisões" em `nacionalismos` e a `matriz hierárquica ortodoxa` muito difusa e indiferente".

A Igreja Ortodoxa não tem templos próprios em Portugal, dependendo, por isso, do empréstimo de igrejas católicas romanas para realizar as suas celebrações.

"São usadas sobretudo capelas emprestadas por católicos mais progressistas ou por cristãos da reforma e ainda outros locais improvisados sem qualquer apoio dos municípios ou do governo central, salvo no caso de Setúbal, que cedeu um terreno para a construção de uma Igreja Russa, que será a primeira construída em Portugal", adiantou.

É possível encontrar celebrações ortodoxas em Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Coimbra, Mafra, Santarém, Castelo Branco, Alcochete, Évora, Santiago do Cacem, Sines, Faro, Portimão, Silves, Funchal e Açores.

As celebrações começam sexta-feira com uma cerimónia em que Cristo é retirado da cruz e colocado numa estrutura móvel decorada com flores, explicou o padre Alexandre Bonito.

No sábado, os fiéis trazem para a igreja cestos com os alimentos para o padre abençoar.

Um dos costumes mais comuns da Páscoa dos ortodoxos é o de preparar e dar a consumir ovos cozidos e pintados.

Os ovos representam o sepulcro que contém uma nova vida selada no seu interior e que ao partir-se simboliza a ressurreição de Cristo.

Os ovos são benzidos durante a missa e são o primeiro alimento daqueles que praticaram o jejum de quaresma.

O jejum dos ortodoxos organiza-se em várias fases e proíbe o consumo de alimentos como carne, peixes com espinha, ovos, lacticínios, vinho ou azeite.

Começa uma semana antes da quaresma e termina após a missa de domingo de Páscoa.

Os ortodoxos seguem nas suas celebrações o rito bizantino, as missas são cantadas e o pão e vinho (não se usam hóstias) são dados em comunhão numa colher.

A Páscoa é a principal celebração dos ortodoxos, que partilham com as outras igrejas cristãs a crença de que Deus se revelou através de Jesus Cristo, e acreditam na encarnação, na crucificação e ressurreição de Cristo.

O Concílio de Nicéia (ano 325 a.D.) determinou que a Páscoa fosse comemorada por todos os cristãos no mesmo dia, sempre no domingo seguinte à lua cheia do equinócio da primavera, isto é, após o dia 21 de março.

A Páscoa foi comemorada por católicos romanos e ortodoxos no mesmo dia até 1582, altura em que a Igreja Romana adotou o calendário gregoriano, elaborado pelo papa Gregório XIII e a igreja ortodoxa manteve o calendário juliano, instituído por Júlio Cesar.

A partir dessa data a Páscoa é celebrada em separado pelas duas igrejas, com as comemorações a coincidirem apenas de 4 em 4 anos.

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