Cirurgias ao cancro da mama. Ordem dos Médicos critica fecho em sete unidades locais

por Inês Moreira Santos - RTP
Rodrigo Lobo - RTP

A partir desta segunda-feira, sete unidades locais de saúde deixam de realizar cirurgias ao cancro da mama - nas regiões do Oeste, Cova da Beira, Guarda, Baixo Mondego, Barcelos/Esposende e do Nordeste. Em entrevista à RTP, o bastonário da Ordem dos Médicos não questionou os critérios científicos da decisão, mas considerou que esta não favorece o "acesso aos cuidados de saúde", ou o tratamento das mulheres doentes com este problema oncológico.

A Ordem dos Médicos não "põe em causa" os critérios usados para a decisão de encerramentos destas unidades de saúde, nem a "necessidade de concentração de recursos". Contudo, o bastonário considera que "não deixa de ser curioso" que se faça esta intervenção numa área médica "que não tem problemas".

"Portugal na área do cancro da mamã, da cirurgia do cancro da mama, é dos países com melhores resultados a nível europeu"
, argumentou Carlos Cortes. "Portanto, é curioso estar a alterar uma área da intervenção em saúde (...) em que os resultados portugueses são bons resultados".

Mas há outro aspeto que preocupa a Ordem dos Médicos: "a questão do acesso", para além dos critérios técnico-científicos que considera "compreensíveis".

"Há aqui outros aspetos muito importantes, que é a capacidade que as mulheres doentes nesta área oncológica possam ter para ter acesso a cuidados de saúde", começou a enumerar. "Em segundo lugar, isto vai contra tudo o que tem sido desenvolvido para fixar médicos em área mais carenciadas. Nomeadamente, áreas do Interior (...), que têm falta de médicos, têm falta nomeadamente de cirurgiões".

Segundo Carlos Cortes, estas alterações também "põem em causa, obviamente, a formação médica".

"Portanto, há aqui um conjunto de aspetos que, do nosso ponto de vista, não foram tidos em conta", continuou, acrescentando que esta solução "acaba por não ter em conta o acesso das mulheres aos cuidados de saúde".
Um dos problemas apontados pelo bastonário é a existência de listas de espera e as distâncias que as doentes poderão ter de percorrer.

"Aquilo que ser quer é uma resposta adequada, uma resposta enquadrada para estas mulheres".

Usando o exemplo da Covilhã, da Guarda e de Castelo Branco, Carlos Cortes sublinhou que são "três hospitais concentrados no Interior Centro do país, têm que referenciar as mulheres doentes nesta área para Coimbra". Solução que para a Ordem dos Médicos "não faz muito sentido".

"Podia-se ter encontrado outra solução. Por exemplo, juntando estes três hospitais ou juntando estes três hospitais a outro hospital, como o Hospital de Viseu, que está na mesma área geográfica".

"As soluções que foram adotadas, do nosso ponto de vista, não favorecem o acesso aos cuidados de saúde, não favorecem o acesso das mulheres aos tratamentos", concluiu.

Esta decisão prende-se com novos critérios da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde e determina que as unidades que tenham menos de uma centena de cirugias ao cancro da mama por ano, e menos de dois cirurgiões dedicados encerrem.

De acordo com a deliberação, o objetivo é garantir maior experiência, qualidade e segurança nas intervenções cirugicas.
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