Chumbos, abandono escolar e "escola muito feminina". O Estado da Educação

por RTP
Portugal atingiu no ano passado a taxa de retenção mais baixa da década RTP

Todos os indicadores estão a melhorar mas Portugal continua com uma taxa de retenção de alunos acima da média europeia. O mesmo acontece em relação ao abandono escolar precoce. São dados hoje revelados pelo relatório "Estado da Educação 2018", que revela ainda que os rapazes têm menos sucesso na escola do que as raparigas.

A evolução é positiva, mas Portugal ainda não atingiu a média europeia.

"Todos os indicadores têm vindo a melhorar, designadamente as taxas de retenção", diz Maria Emília Brederode Santos, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), entidade que realizou o estudo.

O trabalho agora apresentado sobre o Estado da Educação faz um retrato do país em 2018 e analisa a evolução na última década. Portugal está a aproximar-se das metas estabelecidas com a União Europeia para 2020 e aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU em relação à frequência da educação pré-escolar e à taxa geral de escolarização no ensino básico.
Taxa de retenção
Tem sido um dos temas em debate nos últimos tempos, com, ainda recentemente, uma discussão acesa no Parlamento.

Os dados mais recentes indicam que Portugal atingiu no ano passado "a taxa de retenção mais baixa da década" entre os alunos do 1.º ao 3.º ciclos. Diminuiu em todos os anos de escolaridade, excepto no 3.º ano, que se manteve inalterado. Neste nível de ensino ainda há 7,8% de retenção.
 
No 1.º ciclo (do 1.º ao 4,º ano), o problema atinge 2,8% das crianças. Indo ao pormenor deste ciclo, a realidade demonstra que no 1.º os alunos não chumbam. Já no 2.º ano, no qual pela primeira vez é permitido reter um aluno, 6,6% dos estudantes não passam.

No 2.º ciclo, as taxas também diminuíram, estando agora nos 5 por cento.

No 3.º ciclo, a taxa de retenção é de 7,8%. Uma vez mais, indo ao pormenor, a grande melhoria encontra-se entre os alunos do 9.º ano: em 2012/2013, a taxa de retenção e desistência era de 17,7% e agora é de 6,5%.
São indicadores no sentido positivo mas que, mesmo assim, continuam acima da média europeia. "Continuamos preocupados, porque se nos compararmos com outros países, a taxa ainda é elevada", disse à Lusa a presidente do Conselho Nacional de Educação. Maria Emília Santos realça que o chumbo "tem consequências a médio e longo e médio prazo". Ficar retido aumenta os casos de abandono escolar, reduz as possibilidades de um aluno entrar no ensino superior e frequentar a educação de adultos.

Olhando para estes números, a presidente do CNE é muito clara ao afirmar que a escola precisa mudar: "Era importante também pensar que mudanças são necessárias na escola e que mudanças estão a ocorrer". Abandono escolar
Sobre o abandono escolar, o relatório revela que Portugal também está acima da média da União Europeia. Atinge 11,8% dos alunos. A média dos 28 países da UE é de 10,6%.

A evolução da última década, deste indicador, é no entanto notável. Em 2009 o abandono escolar precoce em Portugal era de 30,9% enquanto na Europa era de 14,2%.

O estudo sobre o Estado da Educação 2018 revela também que o abandono escolar tem mais impacto no sexo masculino. "A escola está nitidamente muito feminina. As mulheres têm muito mais resultados positivos na escola do que os rapazes, uma diferença quase de metade no secundário e depois com a entrada no superior", afirmou Maria Brederode Santos.

No ensino secundário essa realidade é muito clara: a maioria das mulheres (54%) entre os 25 e os 44 anos terminou o ensino obrigatório, ao passo que entre os homens a percentagem é de 44,8%.
Apenas um em cada quatro homens tem o ensino superior
A falta de qualificações dos jovens adultos tem vindo a melhorar. Nos dias de hoje, praticamente metade das pessoas entre os 25 e os 44 anos têm o ensino secundário completo. Um valor que duplicou em dez anos.

Uma vez mais, a percentagem de adultos com formação superior é muito diferente quando se compara homens com mulheres. Até 2020, pelo menos 40% dos adultos em Portugal deverão ter uma formação de ensino superior, mas a média nacional ainda ronda os 33,5%, segundo o relatório que mostra que Portugal manteve em 2018 a taxa de 2017.

No entanto, as mulheres já ultrapassaram a meta (42,5%), ao contrário dos homens em que apenas um em cada quatro tem o ensino superior (24,1%).

A proporção de mulheres com formação superior aumentou 2,1 pontos percentuais. Entre os homens houve uma redução de 2,1 pontos percentuais.

Uma das explicações para a baixa percentagem de homens com formação superior está na opção por cursos vocacionais no ensino secundário, diz a presidente do Conselho Nacional de Educação.

Sublinhando a importância e qualidade destes cursos, a presidente do CNE lembrou que estes jovens acabam por ficar "em desvantagem" quando se candidatam ao ensino superior, uma vez que têm de fazer as mesmas provas de acesso.


c/Lusa
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