A polícia cercou esta madrugada o Bairro da Princesa, no Seixal, na sequência de confrontos entre moradores, que levaram à identificação de várias pessoas e à detenção de uma delas. Os incidentes começaram ontem à noite e envolveram grupos de jovens e trocas de tiros que poderão estar relacionados com o controlo do pequeno tráfico de droga.
De acordo com a reportagem da RTP no local, a situação é agora calma, com a polícia a controlar as ruas no Bairro da Princesa.
Os incidentes começaram cerca das 20 horas de segunda-feira, prolongando-se até às sete da manhã desta terça-feira. Só então a PSP conseguiu controlar o bairro, depois da desordem e do tiroteio que opôs moradores. Foram disparados tiros de caçadeira e revólver, no que poderá ter constituído uma escaramuça entre grupos locais que lutam pelo controle do pequeno tráfico de droga.
Ao chegarem ao local, os agentes da PSP foram recebidos com pedradas e cocktails molotov, situação que evoluiu para a troca de tiros entre as forças da ordem e os moradores envolvidos nos incidentes anteriores.
A polícia foi chamada àquele bairro do Seixal cerca das 2:30, depois de ter sido accionado um alerta na sequência de cenas de violência e vandalismo: duas viaturas e vários caixotes do lixo foram incendiados. Perante a incapacidade da primeira patrulha de controlar a situação foram posteriormente chamados reforços policiais ao local, encontrando-se neste momento no Bairro da Princesa um forte dispositivo de segurança.
"A situação acabou por ser controlada cerca de uma hora depois, tendo sido circunscrito o prédio de onde haviam partido os disparos", indicou à Agência Lusa uma fonte policial, tendo o comandante distrital da PSP de Setúbal, José Carlos Leitão, acrescentado posteriormente que na sequência da intervenção um homem foi detido e doze pessoas ficaram referenciadas.
Neste momento, o acesso ao Bairro da Princesa está condicionado, com os agentes a patrulharem as ruas e sem que ninguém circule sem ser identificado e revistado.
Moradores criticam acção da polícia
Uma jovem moradora da Quinta da Princesa tem uma versão bastante diferente da das autoridades policiais. Luísa Semedo, de 26 anos, representante da associação juvenil Esperança, refere que os incidentes da noite passada estão relacionados com um episódio na noite de domingo.
"Tivemos um churrasco no domingo com gente de outros bairros; estávamos a confraternizar e estava tudo bem, mas ao início da noite a polícia chegou ao bairro para apreender uma moto que julgava ser roubada. O dono da mota mostrou os documentos e estava tudo certo. Inadvertidamente, a polícia começou aos tiros, a mandar dispersar a multidão e eu fui agredida", contou Luísa Semedo à Lusa.
Uma outra moradora no bairro concorda que "a tensão se agravou desde domingo" e há maior movimento de pessoas.
"A atitude da polícia é discriminatória e abusiva: os agentes chegam de arma na mão, não perguntam nem respeitam. A situação não é nova", acrescenta um antigo morador.
Nem todos os moradores concordam com as queixas. Um morador de um prédio próximo do que está cercado disse "não ter razões de queixa" da actuação policial. "Houve mais de 200 disparos esta noite, mas isto estaria muito pior se a polícia não viesse cá", comentou um habitante de um prédio vizinho do que está cercado.