Centro de Saúde de Viana do Castelo começa em Outubro com IVG medicamentosa
O Centro de Saúde de Viana do Castelo começa a fazer abortos por medicamentos em Outubro, depois de acertados "os últimos pormenores" do processo de articulação com o hospital, disse à Lusa fonte ligada ao processo.
Segundo Paulo Sarmento, coordenador da área de saúde materna da Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), também alguns médicos de família dos centros de saúde de Penafiel, Paredes e Amarante começarão a fazer, ainda este ano, interrupção voluntária da gravidez (IVG) quimicamente.
"Só que nestes três casos, numa primeira fase, os médicos de família farão a IVG no Centro Hospitalar do Vale do Sousa, uma vez que ainda não estão criadas todas as condições logísticas para o fazerem nos centros de saúde", disse.
O responsável estima que dentro de um máximo de três meses a IVG já será possível naqueles três centros de saúde.
Paulo Sarmento explicou que o arranque no Centro de Saúde de Viana do Castelo, que chegou a estar previsto para Setembro, ocorrerá logo no início de Outubro.
Acrescentou que a escolha desta unidade se ficou a dever à circunstância de reunir todas as condições necessárias, começando pelo facto de "ter bem perto" o Centro Hospitalar do Alto Minho.
"Esta proximidade, por um lado, permite a realização da necessária ecografia sem obrigar a paciente a grandes deslocações, e, por outro, é garantia de uma intervenção imediata em caso de se registar qualquer complicação na IVG", frisou.
Além disso, disse, o Centro de Saúde de Viana do Castelo beneficiou ainda do facto de ter no seu quadro médicos e enfermeiros não objectores de consciência, a quem entretanto já foi ministrada a respectiva formação.
Naquele centro, a IVG medicamentosa será assegurada por uma equipa constituída por dois médicos, dois enfermeiros, uma assistente social e uma psicóloga.
O processo é simples: a mulher vai ao centro de saúde, para a consulta prévia, e são-lhe dados três dias para reflexão. Findo esse prazo, e se decidir mesmo avançar para a IVG, volta ao médico e é-lhe dada a primeira medicação, ficando o tratamento concluído dois dias depois, com a administração da restante dose.
Quinze dias depois, regressa ao centro de saúde, para verificar se a IVG correu normalmente e para completar o ciclo de planeamento familiar.
"Para evitar que tenha que recorrer novamente ao aborto", disse.
O arranque da IVG no Centro de Saúde de Viana do Castelo vai aliviar o Centro Hospitalar do Alto Minho, que se viu na contingência de contratar dois obstetras, em regime de tarefeiros, uma vez que os oito especialistas de que dispunha eram todos objectores de consciência.
A realização de abortos com medicamentos nos centros de saúde está prevista na nova legislação sobre a IVG.
Paulo Sarmento garante que 95 por cento das IVG nos hospitais é feita quimicamente, pelo que, acrescenta, os médicos de família "estão perfeitamente aptos" para a fazer, deixando para os hospitais os casos que necessitam de intervenção cirúrgica.
O presidente da Comissão de Saúde Materna e Neonatal, Jorge Branco, já disse à Lusa que o panorama da realização de IVG em Portugal vai "mudar progressivamente até ao final do ano", deixando de constituir um exclusivo dos hospitais para passar a ser feito em vários centros de saúde.
Jorge Branco considerou que a IVG nos centros de saúde "vai aliviar um pouco a pressão dos hospitais e será muito vantajosa", sublinhando que há médicos de clínica geral e familiar aptos a realizarem abortos.
"Há médicos que já têm alguma experiência em saúde materna, que seguem alguns passos normais e que podem fazer perfeitamente este trabalho. Não é nada transcendente que os médicos de família, com experiência e interesse, possam fazer estas intervenções", sustentou.