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Sapadores em protesto. Governo suspende reunião negocial

por Joana Raposo Santos - RTP
Os bombeiros, todos fardados e muitos com capacetes, percorreram a Avenida de Roma em marcha lenta até à sede do Governo. Foto: Miguel A. Lopes - Lusa

Centenas de bombeiros estão em protesto em Lisboa, no dia em que decorria uma reunião entretanto suspensa entre os sindicatos que representam estes profissionais e o Governo. Os sapadores exigem a revisão da carreira e o aumento do subsídio de risco.

Cerca de três centenas de bombeiros de várias zonas do país rodearam o Campus XXI, em Lisboa, onde decorriam as negociações, alguns deles com tochas e petardos que provocaram fumo intenso no local.

Após cerca de duas horas de reunião, o Governo decidiu suspendê-la por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação, indicou à RTP uma fonte do Executivo.

A mesma fonte avançou que não estão em causa, até ao momento, as condições de segurança e que as negociações poderão ser retomadas se e quando forem assegurados o respeito pelo diálogo e tranquilidade no exercício do direito de manifestação.

A concentração dos sapadores começou em Alvalade e o grupo de bombeiros, todos fardados e muitos com capacetes, percorreu a Avenida de Roma em marcha lenta até chegar ao local onde se encontra a sede do Executivo.

Entre o som dos sucessivos petardos, ouvia-se repetidamente a palavra “vergonha”, assim como pedidos de respeito.

Para impedir o acesso ao edifício, foi criada uma barreira policial pela Unidade Especial de Polícia, que bloqueou a passagem com viaturas e elementos. A Avenida João XXI foi cortada ao trânsito pelas autoridades.

À saída da reunião, António Pascoal, do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, usou um megafone para transmitir aos profissionais reunidos no local que “a proposta que chegou à mesa continua a não satisfazer os bombeiros”.

“Enquanto o Governo não aceitar a nossa proposta e reivindicações, nós não vamos parar, não vamos baixar a guarda”, declarou, indicando que, no que depender do sindicato, essa negociação irá ser retomada.

Questionado sobre os petardos lançados pelos sapadores em protesto, o sindicalista respondeu que, “conhecendo os bombeiros, a segurança nunca está em causa. Os bombeiros são soldados da paz, não são soldados da guerra”.

Momentos antes de ter sido anunciada a suspensão da reunião, os sapadores ajoelharam-se em sinal de "submissão" ao Governo que, segundo eles, os quer dessa maneira. Pouco depois, entoaram o hino nacional e ergueram-se do chão.
Governo fala em jornalista ferida
Entretanto, o Governo alegou junto dos bombeiros que uma jornalista teria sido ferida no contexto da manifestação. Os sapadores no local disseram, por sua vez, ter-se tratado de um incidente menor, após o disparo de um petardo perto do pé de uma jornalista.

“Está a haver uma tentativa de descredibilizar a imagem dos bombeiros sapadores. Não somos arruaceiros, não houve agressões a jornalistas, não houve agressões à polícia”, declarou à RTP a bombeira Frederica Pires.

Sobre as negociações, esta profissional disse não ver vontade nem respeito por parte do Governo. “E, mais grave, é um verdadeiro desconhecimento daquilo que é um bombeiro sapador”, considerou.

“O Governo é que vai estar ao ritmo das nossas manifestações, não somos nós”, vincou a bombeira, acrescentando que no final do dia de hoje os profissionais vão “reagrupar e determinar outras forças de luta”.
"O Governo é que nos anda a fazer bullying
Antes da reunião, os sindicatos indicaram que havia a possibilidade de abandonarem a mesa das negociações ainda hoje caso não houvesse uma aproximação das posições de ambas as partes.

“Queremos uma valorização da carreira. A carreira está estagnada há mais de 22 anos, desde 2022. Neste momento estamos a chegar a um ponto de não retorno. A carreira, pura e simplesmente, deixou de ser apelativa, temos dificuldades muito grandes de recrutamento”, explicou à RTP um dos bombeiros no protesto.
Este profissional condenou ainda as propostas do Governo, considerando-as insuficientes. “Está a oferecer-nos um subsídio de risco mensal de 37 euros e meio. Nós consideramos que isso é altamente ofensivo para o risco que corremos diariamente”, afirmou.

Questionado sobre o dispositivo policial no local do protesto, este bombeiro disse não entender a mobilização. “Não percebo porque é que nós somos catalogados de arruaceiros, quando o Governo é que nos anda a fazer bullying, vincou.
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