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Cavaco Silva propõe "novo olhar sobre a escola"

por © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Proposta de Cavaco Silva RTP

O Presidente da República propôs um "novo olhar sobre a escola", uma escola ligada à comunidade, em que os pais estejam envolvidos de forma mais activa e participante e em que a figura do professor seja prestigiada.

"Gostaria de propor aos portugueses um novo olhar sobre a escola, sobre o modelo escolar construído à luz da ideia da inovação social", afirmou o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na sua intervenção da cerimónia das comemorações do 97 anos da proclamação da República.

Sublinhando não estar a dirigir-se em especial ao Governo e à Assembleia da República, mas "a todos os portugueses", Cavaco Silva defendeu a implementação de "novas estratégias, conceitos e práticas", considerando que é possível inovar "nos mais variados campos, incluindo a educação".

"Temos, de facto, de adoptar uma nova atitude perante a escola", insistiu, classificando como "imperioso" ter a consciência de que "o investimento mais reprodutivo que poderemos fazer é nas crianças e nos mais jovens".

Essa consciência, continuou o Presidente da República, tem de existir "antes de mais" nos pais, a quem "não basta adquirir livros e manuais escolares, assistir de vez em quando a reuniões de pais ou transportar diariamente os filhos à escola".

Desta forma, é preciso acabar com a ideia de que a educação é uma tarefa que "compete sobretudo aos outros" e deixar de encarar as escolas como "fábricas de ensino", acrescentou o Presidente da República.

"Há toda uma cultura de autoexigência que deve ser estimulada nos pais, levando-os a envolver-se de forma mais activa e participante na qualidade do ensino, na funcionalidade e na conservação das instalações escolares, no apoio ao difícil trabalho dos professores", referiu.

Os professores mereceram, aliás, uma nota especial no discurso do Presidente da República, que defendeu a necessidade de prestigiar e acarinhar a figura do professor.

"Há que promover um verdadeiro sentimento de comunidade em relação à escola e ao sucesso educativo (...). Esse envolvimento pressupõe também, como é natural que a figura do professor seja prestigiada e acarinhada pela comunidade, o que requer, desde logo, a estabilidade do corpo docente", salientou Cavaco Silva.

Além disso, acrescentou, a dignidade da função docente assenta também, em larga medida, "no respeito e na admiração que os professores são capazes de suscitar na comunidade educativa, junto dos colegas, dos pais e dos alunos".

O papel da comunidade foi também destacado por Cavaco Silva, que defendeu que as autarquias devem assumir maiores responsabilidade relativamente aos estabelecimentos de ensino e a entrega gradual da gestão dos estabelecimentos de ensino "às suas comunidades de pertença".

"Além das autarquias, as organizações não-governamentais da sociedade civil e as empresas da região devem ser chamadas a desempenhar um papel activo neste processo de inovação social, na linha de algumas experiências que já vêm sendo realizadas com sucesso em certos pontos do país", declarou, insistindo que "há que promover um verdadeiro sentimento de comunidade em relação à escola e ao sucesso educativo".

Na sua intervenção, que não foi escutada pela ministra da Educação que, ao contrário de outros ministros do executivo de José Sócrates, não esteve presente nas comemorações dos 97 anos da proclamação da República, Cavaco Silva alertou ainda para que as deficiências na educação das crianças e dos jovens é "a principal causa no nosso atraso estrutural".

"Tratámos a escola como um problema de governo e não como um problema de regime. E concentrámo-nos em demasia na relação entre o Estado e a escola, sem atender ao papel e às responsabilidades próprias da sociedade civil", lamentou, preconizando uma "estratégia nacional para a educação das novas gerações".

"Sei que não é fácil pormos em prática este modelo de uma escola ligada à comunidade. Sei que é necessário vencer constrangimentos de diversa ordem para alcançarmos este ideal. A República também foi um ideal. Por isso, acredito na vontade e no empenho dos poderes públicos, das autarquias, das famílias, dos professores e da sociedade civil", pediu Cavaco Silva.

À semelhança do que já tinha acontecido o ano passado, as cerimónias das comemorações dos 97 anos da proclamação da República realizaram-se no exterior do edifício da Câmara Municipal de Lisboa.

O início das cerimónias ficou marcado por uma quebra de protocolo por parte do primeiro-ministro, que chegou atrasado, já depois do Presidente da República e quando já se ouvia tocar o hino na Praça do Município.


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