Casal naturalista estuda há sete anos vida de quatro alcateias

por Agência LUSA

A vida de quatro famílias de lobos, que deambulam pelos dois lados da fronteira luso-espanhola do Parque da Peneda/Gerês, está a ser acompanhada há sete anos por um casal de naturalistas radicado em Castro Laboreiro, Melgaço.

"Queremos publicar um livro que contenha não só registos sobre os há bitos de vida, refúgios, número de animais, modo de alimentação e épocas de repr odução, mas também as fotos conseguidas em estado selvagem", disseram hoje à Lus a Pedro Alarcão e Anabela Moedas.

Os dois ex-jornalistas, de 40 anos, trocaram definitivamente, há doi s anos, o conforto da vida urbana pela pacatez da aldeia nas serranias da Peneda a fim de se dedicarem ao estudo dos lobos.

"Não pretendemos, como acontece habitualmente, publicar uma obra com fo tos de lobos em cativeiro e, por isso, temos desenvolvido um trabalho longo e pa ciente, dado que os lobos não têm por hábito mostrar-se facilmente", sublinhou P edro Alarcão.

O casal já produziu um documentário sobre uma alcateia de lobos desta zona, intitulado "A vida secreta dos Lobos", que demorou mais de dois anos a pro duzir e foi transmitido pela RTP em 2005.

A recolha fotográfica para o livro resultou em várias dezenas de imagen s, embora não tenham sido mais de vinte as de grande qualidade, pretendendo, por conseguinte, Pedro e Ana "fotografar mais alguns aspectos particulares da vivên cia das alcateias".

Para observar os lobos, o casal desloca-se em jipe até meio do percurso e faz o resto a pé, com as máquinas de filmar e de fotografar às costas até per to do covil.

Esta actividade de acompanhamento das quatro alcateias, uma delas fixa da em território português e as outras em movimento entre o Minho e a Galiza, na serra do Gerês, motivou os dois naturalistas a criar uma empresa, a Ecotura- Ce ntro de Ecoturismo e Turismo Equestre de Castro, para promover passeios pela mon tanha, em garranos (o cavalo típico do noroeste de Portugal) em busca de vestígi os da passagem do lobo.

A Ecotura está, assim, a construir um Centro de raiz, onde os dois prop rietários - com dois filhos em idade escolar - vão ficar instalados e com uma ca valariça para os nove garranos disponíveis para os percursos turísticos e de est udo.

"Além da nossa subsistência, conseguiremos, com esta empresa, mostrar aos residentes que a preservação da fauna e da flora da região pode ser uma mai s-valia", salientou Pedro Alarcão. O naturalista referiu, a propósito, que a empresa acabará também p or dinamizar o comércio local ao adquirir vários produtos e serviços na aldeia, tais como os de hotelaria e restauração. Aos grupos de visitantes que ali se deslocam são também proporcionad os cursos sobre preservação da natureza, iniciação ao cavalo garrano e saídas de um ou mais dias em busca do lobo.

Durante o percurso, são visitadas zonas naturais e pequenas aldeias formadas por casas de granito e habitadas por pastores, vales glaciares povoados por rochas de estranhas formas e antigas pontes sob as quais correm as águas cr istalinas dos rios de montanha.

Os visitantes percorrem densos carvalhais, bosques de bétulas, abrig os naturais de corços e javalis, atravessam manchas de castanheiros e azevinhos onde habitam esquilos, gaios e papa-figos e descansam junto a fragas onde se avi stam águias e algumas espécies raras de gralhas.

No roteiro surgem fojos (antigas armadilhas em pedra para a captura de lobos, construídas pelo homem em lugares inóspitos) e, com sorte, diz Pedro A larcão, os visitantes podem ser brindados com o som mais espectacular da naturez a, que é o uivo do lobo.

Os dois ex-jornalistas trabalharam para jornais e revistas e produzi ram várias peças sobre conservação da natureza, designadamente nas revistas Fóru m Ambiente e Ozono. Em Novembro de 1999, com a ajuda do biólogo Francisco Alvares, decid iram escolher uma das alcateias para iniciar o estudo da vida dos lobos. Referenciada a alcateia, arranjaram uma casa no Parque Nacional e co meçaram, no início de 2000, o trabalho de campo.

Descobrir a localização de uma família de lobos, acompanhar os seus hábitos, seguir rotas de passagem e, finalmente, ver pela primeira vez os pequen os lobachos (filhotes de lobo) "compensou todas as horas de espera", confessa Pe dro Alarcão. Ao fim de sete meses de observação da alcateia, surgiu a primeira hi pótese de fotografar a fêmea com três lobachos. Mas, rapidamente o casal de naturistas conheceu também alguma frustr ação devido à morte a tiro de um dos lobos num fim de semana de caça, o que orig inou que a alcateia se dispersasse, deixando de ser vista durante vários meses. Na Primavera seguinte, o casal estava de volta às serranias da Pened a-Gerês e, depois de algumas horas de espera silenciosa, Pedro Alarcão regressou a casa com a imagem impressa de um grande plano de um jovem lobo.

Segundo Anabela Moedas, a área de distribuição do lobo tem a norte d o rio Douro sete núcleos populacionais, nomeadamente na Peneda-Gerês, Alvão/Falp erra, Padrela/Valpaços, Arga/Paredes de Coura, Cabreira/Barroso, Marão/Baião e B ragança/Montesinho.

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