Meia centena de bailinhos, danças de pandeiro e de espada exibem-se a partir de sábado por toda a ilha Terceira, numa forma de teatro popular para comemorar o Carnaval considerada única no mundo.
Durante quatro dias, mais de duas mil pessoas vão exibir-se nos palcos das casas do povo e sociedades recreativas e culturais de toda a ilha açoriana.
Para este ano, os autores dos "enredos" (argumentos), escolheram títulos para as "peças" como "Bate Papo - uma casa de alterne", "A mafia está em todo o lado", "As térmitas na Terceira", "Quintas das Celebridades" e "Operação Triunfo nos Açores".
Outros enredos abordam temas como o património, a política e o ambiente, enquanto que, para este Carnaval, apenas uma dança explora motivos históricos para falar de Vasco da Gama.
Com um custo que varia entre os 1.500 e os 5 mil euros, as danças recebem um apoio da direcção regional da Cultura, valor que ainda não está definido para este ano, mas que oscilará entre os 500 e os 900 euros, de acordo com o número de participantes e trajes usados.
Cada elemento das danças gasta uma média de 200 euros do seu próprio bolso para o traje se fizer parte de um bailinho, ou 300 euros se integrar uma dança de espada ou pandeiro.
Eles suportam, também, os custos dos transportes entre as diversas sociedades recreativas e casas do povo dos dois concelhos da ilha Terceira onde se exibem.
A Polícia de Segurança Pública tem vindo a aconselhar a maior prudência na circulação automóvel durante os próximos quatro dias, avisando particularmente para um condução sem álcool.
Espectáculo considerado único no mundo, as suas raízes apresentam ténues relações com outros tipos de dança do mundo, mas com nenhuma se identificam ao pormenor.
Segundo o investigador Frederico Lopes, as danças da Terceira são únicas e não se comparam à dança dos Pauliteiros de Miranda, a dança da Velha da Beira Alta ou à dança dos Pretos de Moncorvo.
Também José Orlando Bretão, um advogado que se dedica à investigação etnológica e etnográfica, se interroga sobre a que formas ou tipos mais antigos de teatro popular se ligam as danças de entrudo da ilha Terceira.
Este fenómeno, espontâneo entre a população local, é transportado pelos emigrantes terceirenses e, por isso, nos núcleos de emigração "saem à rua" cerca de uma dezena de danças nos Estados Unidos e Canadá.
Considerada uma verdadeira festa do povo, as danças e bailinhos, em cada um dos palcos onde actuam, têm pelo menos 400 pessoas a assistir às suas representações.
São divididas em três géneros: a Dança de Espada ou de Dia, Dança de Pandeiro ou da Noite e os Bailinhos, representação mais ligeira e de enredo reduzido.
Os enredos são escritos, e posteriormente ensaiados, por poetas e tocadores do povo e tratadas em redondilhas maiores (quintilha, sextilha ou quadra).
JAS.
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