Captura ilegal de enguias bebé agrava problemas do Rio Douro

por Agência LUSA

A Polícia Marítima (PM) está a investigar a pesca ilegal de enguias bebé no Douro, actividade altamente lucrativa mas que ameaça uma das poucas espécies ainda existentes num rio com elevadas cargas poluentes, disse hoje à Lusa fonte da PM.

Várias fontes que desenvolvem actividades relacionadas com o rio, nomeadamente a pesca à linha, afirmaram que as enguias em estado larvar - popularizadas pela designação de louras - estão a ser vendidas a valores entre 200 e 300 euros o quilo.

Admitindo como correctos esses valores, a fonte policial contactada pela Lusa afirmou que a pesca das louras é feita pelo sistema de arrasto, a partir de pequenas embarcações, com uma rede tão fina "que mais correcto seria designá-la por tela".

"Isto é completamente ilegal", disse. Este tipo de pesca é punível pelo menos com contra-ordenação e implica a apreensão de barcos e todos os apetrechos usados na captura, o que já aconteceu em alguns casos, segundo a PM.

A fonte acrescentou que as investigações ainda não conseguiram determinar o mercado de destino das louras, mas os pescadores à linha João Rodrigues, 66 anos, e José Paredes, 48 anos, asseguraram que é fundamentalmente o espanhol.

João Rodrigues disse ter indicadores de que a pesca das louras é feita sobretudo em período nocturno, para "fugir" à fiscalização da Polícia Marítima.

O pescador, antigo funcionário público, assegurou que todos os dias há "dezenas" de pequenas embarcações paradas à borda de água e em "grande actividade" em período nocturno.

"Como a malha que usam é muito fininha, o que esses pescadores fazem é +varrer+ toda a pescaria. Esses senhores contribuem tanto como a poluição para a destruição de tudo quanto é peixe no Douro", afirmou o pescador.

Lamentou também "haver gente que consegue comer peixe tirado de um rio tão sujo".

"O que não mata, engorda!", afirma João Rodrigues, por entre sorrisos, assegurando que ele próprio devolve ao rio tudo o que pesca e admitindo que outros "trabalham para a balança", ou seja, para vender a restaurantes.

Também o barqueiro Manuel Mourão, 70 anos, não quer no seu prato o que vai pescando no Douro, junto à Ribeira do Abade, concelho de Gondomar. Mas, na sua avaliação, também já há pouco para pescar.

Os robalos, que faziam as delícias dos pescadores do Douro há escassas décadas, são agora "meia dúzia" e a pesca ao sável "acabou por completo", em parte devido à construção das barragens a montante do estuário - o que implicou alteração das correntes, mas também por culpa da poluição.

Mesmo a lampreia, que ainda hoje atrai muita gente aos inúmeros restaurantes da beira-rio, de Entre-os-Rios ao Freixo, já pouco se pesca no troço final do grande rio ibérico.

"A maioria é comida com o Douro à vista mas vinda do rio Minho", garante Manuel Mourão, acrescentando que já ninguém fala de outras pescarias outrora comuns no Douro e da presença, "em águas límpidas" dos botos ou toninhas, assemelhados a golfinhos.

A poluição no Douro tem especial reflexo na marina do Freixo, uma infra -estrutura inaugurada em Fevereiro de 2005, que chegou a ter listas de espera, mas que hoje se limita a abrigar 70 embarcações num rio que, apesar de tudo, ainda "vende bem" nos mercados turísticos.

João Pinheiro, 29 anos, director da marina, admitiu à Lusa que "a grande vantagem da marina, a localização no Porto, diluiu-se pela má qualidade das águas".

No perímetro da marina - construída pelo Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM) e concessionada ao Sport Clube do Porto - desaguam, com intervalos de 50 metros, dois dos mais poluídos afluentes do Douro, os rios Tinto e Torto.

"Por aqueles rios abaixo vem tudo, até animais mortos", lamenta João Pinheiro, explicando que "está no domínio das hipóteses, e não mais do que isso, a construção de um paredão que faça desaguar os rios Tinto e Torto mais a montante da marina.

Ainda assim, o responsável da infra-estrutura, que também é praticante de remo, assinala alguma melhoria na qualidade da água do Douro, ocorrida ao longo dos últimos anos.

Segundo dados do hidrobiólogo Bordalo e Sá, a contaminação nos oito quilómetros finais do Douro está este mês a um décimo da registada em 2003, mas ainda permanece cinquenta vezes acima do limite legal.

Imunes aos problemas da poluição acentuada no Douro parecem estar os cruzeiros fluviais, que até 31 de Outubro cativaram 161,4 mil turistas, valor similar ao registado em igual período de 2005, com 162 mil viagens turísticas no rio.

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