Lisboa, 11 Mai (Lusa) - O antigo director do Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas (CEVDI) alertou hoje que a Brucelose e a Tularémia são actualmente as principais doenças transmitidas por animais, ao mesmo tempo que defendeu ser impossível prever o aparecimento de novas zoonoses.
No mesmo dia em que começa em Viseu um colóquio subordinado ao tema "Zoonoses: ameaça invisível?", Armindo Filipe elegeu a brucelose e a tularémia como as zoonoses (doenças transmitidas por animais) mais importantes no panorama nacional.
"A brucelose continua a ser importante, consegue-se eliminar das vacas, mas por exemplo nas ovelhas é mais difícil, (Ó) Temos ainda a tularémia, que é uma doença que se transmite, por exemplo, pelas carraças que se passeiam nos coelhos e que pode passar para as pessoas", explicou.
Segundo dados disponíveis na página da Internet da Direcção- geral de Saúde, os casos de brucelose em 2004 chegaram aos 111, mas quando comparados com o ano de 2000 regista-se uma queda acentuada, já que nesse ano o número de casos ultrapassou os 500.
Já por região, é no centro do país que se regista o maior número de casos, 38 no ano de 2004, contra um na região autónoma dos Açores, seis no Algarve, 22 no Alentejo, 24 em Lisboa e Vale do Tejo e 20 na região Norte.
A brucelose pode ser contraída ao ter contacto directo com as secreções e excreções de animais infectados, ao beber leite não pasteurizado de vaca, ovelha ou cabra ou ao comer produtos lácteos (como manteiga e queijo) que contenham microrganismos vivos do género Brucella.
Esta é uma afecção característica das zonas rurais, é uma doença profissional dos veterinários, dos embaladores de carne, dos agricultores e dos vaqueiros, mas raramente se transmite de pessoa para pessoa.
Já a Tularémia, vulgarmente chamada de febre do coelho ou febre do moscardo, pode transmitir-se às pessoas através da ingestão ou do contacto com animais infectados. A doença pode igualmente transmitir-se quando as bactérias dos tecidos animais são transportadas pelo ar e inaladas ou através de parasitas que se alimentem de sangue, como as carraças ou mosquitos.
à agência Lusa, o antigo director do Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas (CEVDI) do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), defendeu também a necessidade de realizar constantemente novos estudos sobre estas doenças como única forma de antecipar modos de operação na altura do aparecimento de novas doenças.
"Em relação ao aparecimento de novos tipos de zoonoses, não é possível prevenir nem quando podem aparecer nem de que tipo serão porque não se pode prevenir o que não se conhece e a única forma de colmatar essa falha é haver quem vá estudando e fazendo trabalhos como por exemplo nos Estados Unidos, onde se preocupam em recolher dados no estrangeiro para depois quando a nova zoonose aparece já terem bases de estudo", explicou Armindo Filipe.
O especialista lembrou também que ao mesmo tempo que as novas zoonoses não podem ser combatidas com antecipação, constantemente vão sendo criadas as "condições favoráveis" ao aparecimento de novas doenças, por exemplo com a construção de uma barragem, porque, consequentemente, desenvolvem-se as condições favoráveis ao aparecimento de novos vectores transmissores das doenças, como os mosquitos ou as carraças.
O colóquio "Zoonoses: ameaça invisível?", onde vão ser debatidas as vias de contágio e os sintomas das doenças transmitidas pelos animais, decorre durante o dia de hoje, em Viseu, e conta, entre outros, com a presença dos presidentes da Direcção-geral de Veterinária e da Comissão de Acompanhamento da Gripe das Aves e do director-geral de Saúde.
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