Bombeiros Cruz Branca de Vila Real aprendem a lidar com o stress

por Agência LUSA

Os bombeiros da Cruz Branca de Vila Real estão a aprender a lidar com situações de stress motivado por acidentes graves como o que ocorreu quarta-feira no IP4, que matou cinco jovens militares.

"O objectivo é atenuar os efeitos que o stress provoca nos bombeiros e ajudar os voluntários a lidar com os choques emocionais com que são confrontados tanto em casos de acidentes como também de incêndios", afirmou à Lusa o comandante da corporação, Álvaro Ribeiro.

A Cruz Branca de Vila Real é uma das corporações que socorre as vítimas dos acidentes rodoviários que no Itinerário Principal 4 (IP4), que liga os distritos do Porto, Vila Real e Bragança.

Desde a sua abertura, em 1993, já morreram 230 pessoas no IP4.

Em 2004, o ano mais negro, houve 33 mortos no IP4 e este ano, o número já vai em oito.

Quarta-feira, ao fim da tarde, os Bombeiros da Cruz Branca de Vila Real foram chamados a prestar socorro em mais um acidente no quilómetro 80, na zona do Alto Espinho.

Deste acidente que, na opinião do comandante Álvaro Ribeiro, foi uma dos mais "brutais" de sempre naquela estrada, resultaram cinco mortos, quatro mulheres e um homem, com idades entre os 19 e 20 anos.

Por coincidência, naquela noite, na sede da Cruz Branca, começou uma acção de formação ministrada por um psicólogo que, falou aos voluntários sobre as formas de lidar com o stress pós traumático.

Numa primeira fase, estas acções de formação são dirigidas apenas aos doze formandos do curso de socorrismo, mas depois serão alargadas a toda a corporação.

"O psicólogo ficará também disponível para atender de forma particular qualquer bombeiro que sinta necessidade de um aconselhamento", frisou o comandante.

Durante a sua formação, os voluntários não recebem preparação psicológica para aprenderem a lidar ou atenuar as situações de stress e, por isso, Álvaro Ribeiro considerou necessário introduzir esta vertente na sua corporação.

"Com o psicólogo também aprendemos a identificar os sintomas do stresse", salientou.

Segundo o comandante, a ansiedade e a preocupação ou alheamento em relação à realidade são alguns dos sintomas que os voluntários poderão sentir após um grave acidente.

"Durante o sinistro os bombeiros têm também a grande preocupação de não falhar, pois qualquer falha no tratamento das vítimas pode ter efeitos nefastos na sua recuperação", sublinhou.

Os incêndios florestais, por seu turno, provocam sintomas de cansaço e muita irritação nos bombeiros, muitas vezes por causa da longa duração, exposição ao perigo na frente do fogo e frequência com que ocorrem no Verão.

Álvaro Ribeiro é bombeiro há 25 anos e comandante da Cruz Branca desde 1993.

São já muitos os acidentes graves ou os incêndios de grande dimensão com que ele teve que lidar ao longo destes últimos anos.

"Ás vezes, o mais fácil é mantermos um certo distanciamento em relação às vítimas dos acidentes, ou seja, não nos preocuparmos em as identificar, até porque nos podemos deparar com alguém que conhecemos", referiu.

Acrescentou que "este tratamento impessoal" ajuda os bombeiros a concretizar a sua principal tarefa que é "ajudar".

"Falar sobre o assunto e as emoções que sentimos é uma das formas mais eficazes que nós temos de lidar com os efeitos nefastos que estas situações deixam em nós", garantiu.

Referiu ainda que as imagens de um acidente ficam retidas na memória "durante muito tempo" e sempre que se passa num local onde ocorreu um acidente é "impossível não relembrar aqueles momentos".

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