Boaventura Sousa Santos demite-se do CES e alega ser alvo de "guerra mediática"

por Cristina Santos - RTP
António Silva - Lusa

O sociólogo acusa a direção do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra de promover "o linchamento, sem provas e sem qualquer preocupação com a verdade", isto após acusações de assédio sexual e moral por mais de uma dezena de mulheres. O académico anuncia ainda que vai mover novo processo judicial e demite-se do cargo de diretor emérito do CES.

No comunicado que assina, Boaventura Sousa Santos garante que a renúncia ao cargo “longe de significar desistência, significa centrar-me noutras lutas bem mais importantes para a universidade, para a ciência e para o mundo”.
“Não confio que possa haver no CES qualquer tipo de julgamento imparcial e não tenho quaisquer dúvidas de que o objetivo da direção do CES é (e sempre foi) expulsar-me”.
Fundador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o sociólogo anuncia a saída uma vez que o processo de averiguações interno que sobre ele incide chegou ao fim “mesmo sem eu ter sido ouvido, nem ter tido a possibilidade de apresentar a minha defesa perante acusações formalizadas".

Sendo um de três visados do CES nas acusações de assédio sexual e moral e de extractivismo intelectual num artigo científico de 2023, Boaventura Sousa Santos alega ser alvo de uma “guerra mediática” e diz-se “inconformado com a acumulação de ilegalidades” alegadamente existentes nos processos que o investigam.
“Não tenho dúvidas de que a direção do CES age de modo parcial, com total violação das regras do direito democrático (presunção de inocência), politicamente motivada, devido às disputas internas na instituição, e quer condenar-me publicamente, antes que os Tribunais se pronunciem sobre os casos que estão a ser tramitados”.
Boaventura Sousa Santos recorda alguns pontos das conclusões da Comissão Independente (que recomendou que as acusações mais graves e de teor criminal fossem encaminhadas para o Ministério Público), e sublinha: “Não posso pactuar com esta conduta de uma direção da instituição que criei, a qual, descontente com o relatório da comissão independente, promove o linchamento, sem provas e sem qualquer preocupação com a verdade”.

O sociólogo adianta que vai disponibilizar publicamente "todos os documentos que sustentam a minha versão dos factos" e que "vai entrar nos próximos dias" na justiça uma segunda ação contra as mulheres “não residentes" em Portugal e que pertencem ao "coletivo de vítimas do CES". Portanto, uma ação semelhante àquela que já corre nos tribunais contra as mulheres “as residentes em Portugal” que assinaram a carta em março deste ano “na qual me acusavam de ter cometido crimes e faziam exigências ao CES”.

Neste comunicado, Boaventura afirma que “aqueles que internamente me apoiavam têm sido silenciados e alvos de perseguição, havendo recusa na publicação de textos e artigos, como nunca havia sucedido na instituição”.
“Isto não é o CES, uma instituição onde antes toda a diversidade de opiniões poderia ser expressa”, sublinha o académico.
As denúncias contra Boaventura Sousa Santos surgiram em março de 2023 após a publicação de um artigo em que se descreviam situações de assédio e "extractivismo intelectual" ocorridas num centro académico que não era identificado, mas onde “reinava” um professor denominado de “professor estrela”.

Uma das acusações feitas no artigo era a do silenciamento das denúncias dentro da instituição.

O artigo estava inserido num livro (da editora científica internacional Routledge) que, por decisão da editora, foi retirado de publicação.
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