O Bloco de Esquerda de Sintra manifestou-se hoje contra a produção de um reality show, a ser exibido pela TVI, em terrenos do Parque Natural de Sintra-Cascais, autorizada quinta-feira pela empresa Parques de Sintra-Monte da Lua.
"É com grande espanto e uma severa crítica que o Bloco de Esquerda encara a autorização dada à Endemol/TVI para a filmagem de um reality show na Tapada do Mouco (Parque da Pena) pelo Parque Natural de Sintra-Cascais e pela Parque de Sintra, Monte da Lua S.A", afirma o BE, em comunicado.
A realização do programa televisivo "1ª Companhia" na área do Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC) foi aprovada quinta-feira por unanimidade pelo conselho de administração da empresa pública Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML), que tutela a área.
O director do PNSC e um dos sete administradores da PSML, Carlos Albuquerque, afirmou quinta-feira à Lusa que a Endemol, produtora do programa, se comprometeu a deixar o local em melhores condições do que se encontra actualmente, "infestado de acácias".
O BE considera que o espaço "apesar de deixado ao abandono pela sociedade Monte da Lua, constitui uma área muito sensível em termos ambientais e patrimoniais".
Para os bloquistas de Sintra, as filmagens irão comportar "um intolerável aumento da pressão ambiental sobre o local, pela afluência e circulação de gente e meios técnicos ligados à produção, pelo aumento dos níveis de ruído e pelo aumento da circulação de curiosos".
"A recuperação do património deve ser da responsabilidade pública e as contribuições de mecenas não podem ter como contrapartida utilizações que atropelem o equilíbrio da zona", considera o BE, referindo-se às contrapartidas que a PSML está a negociar com a Endemol.
A CDU de Sintra tinha emitido quinta-feira um comunicado manifestando-se contra as intervenções realizadas no terreno nos últimos dias, mas o comunista António Abreu, um dos sete administradores da Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML), acabaria por votar favoravelmente a realização do programa na Tapada do Mouco.
O director do PNSC explicou à Lusa que emitiu um parecer favorável, e não uma autorização, à realização do programa na Tapada do Mouco, depois de se ter mostrado desfavorável à proposta da Endemol de que o reality show tivesse lugar na Tapada do Saldanha.
"Como é um programa de televisão que tem prazos muito apertados e uma logística pesada começaram a fazer-se preparações no terreno" antes do conselho de administração da PSML tomar quinta-feira a "decisão formal" de autorizar o programa, sustentou o director do PNSC.
Carlos Albuquerque afirmou que estão a ser negociadas contrapartidas com a Endemol para que haja uma "benefício real [da zona] após o fim do programa".
Para António Abreu, só na reunião de quinta-feira foram estabelecidas regras para a produção do programa, nomeadamente que a Endemol restrinja o acesso ao local apenas a pessoas ligadas à produção do programa.
Uma das objecções manifestadas no comunicado emitido pela CDU era o aumento da circulação de pessoas e carros no local.
"O trabalho será diariamente fiscalizado", declarou o administrador da PSML e também vereador da CDU na Câmara de Lisboa.
Segundo o director do PNSC, não há risco de um impacto ambiental negativo para a flora e fauna do local.
"Nesta zona da serra, infelizmente, a fauna não constitui um valor relevante", disse Carlos Albuquerque, acrescentando que depois da recuperação feita pela Endemol essa situação pode mudar.
O director do PNSC disse à Lusa que a Endemol se vai comprometer em acções de "mecenato" na zona, sem querer concretizar os valores dessas eventuais comparticipações.