Bispo Carlos Azevedo nega assédio sexual a membros da Igreja

por RTP
D. Carlos Azevedo, nasceu há 59 anos em Milheirós de Poiares, Feira, no seio de uma família com dez filhos, considerada católica e austera RTP


O bispo Carlos Azevedo, alvo de denúncias de assédio sexual a membros da Igreja católica, segundo uma investigação da revista Visão, nega as acusações e afirma nunca ter sido contatado pela Nunciatura Apostólica para prestar esclarecimentos. O atual membro do Conselho Pontifício da Cultura do Vaticano foi denunciado pelo padre José Nuno Ferreira da Silva, coordenador nacional das capelanias hospitalares.

“Nego totalmente a acusação de assédio sexual. Remexer em assuntos de há 30 anos que não ofenderam a moral pública, não serve de modo ético a informação, mas visa, meramente, sensacionalismo para distruir as pessoas”, afirmou o ex-bispo auxiliar de Lisboa à SIC, quando confrontado com as acusações de assédio sexual de que é alvo.

“A Nunciatura nunca me contactou sobre este processo, nunca me chamou a depor sobre qualquer processo, nunca nenhuma pessoa me chamou, me repreendeu por qualquer atitude nesse sentido”, garantiu.

Para o bispo Carlos Azevedo, “atos da vida privada que não atentem contra a dignidade dos outros, das outras pessoas, não são objeto de tratamento assim”.

“As pessoas que acolhi, que me procuraram, feridas na sua história, e que eu entendia, não os excluo do meu amor e da minha dedicação se me contactam”, esclareceu o religioso.

“Conviver, estimar, sem exclusões, procurar caminhos de vivência feliz para quem experimentou limites da condição humana, quaisquer que sejam, tem trazido olhares de suspeita e atitudes de ambiguidade que me fazem objeto de má-língua, mas com a graça e a misericórdia de Deus, espero não me afastar da sua proteção nesta prova”, frisou.
A acusação
Segundo a edição em papel da revista Visão, que hoje chegou às bancas, os alegados casos de assédio sexual a membros da Igreja Católica remontam aos anos 80 e foram conhecidos após uma denúncia feita em 2010 ao núncio apostólico em Portugal.

Na altura Rino Passigato, o representante da Santa Sé em Portugal, terá recebido a queixa de um sacerdote validando-a e desencadeando um inquérito realizado pela Nunciatura que terá permitido referenciar outros casos suspeitos. A investigação foi efetuada com o conhecimento e colaboração de sectores da hierarquia católica.

O padre José Nuno Ferreira da Silva, de 48 anos, e coordenador nacional das capelanias hospitalares, atualmente capelão do Hospital de São João no Porto, foi o autor da denúncia ao embaixador do Papa em Portugal.

A revista revela que “o sacerdote e o bispo cruzaram-se pela primeira vez, nos anos 80, no Seminário do Porto, no qual D. Carlos era diretor espiritual. Ordenado em 1989, o padre José Nuno foi presença regular nas reuniões da Conferência Episcopal quando se discutiu a polémica regulamentação da assistência espiritual e religiosa nos hospitais”.

Um segundo encontro entre os dois religiosos terá ocorrido em maio de 2012, quando o padre José Nuno procurou o ex-bispo auxiliar de Lisboa em Fátima e ao qual solicitou um encontro privado. Segundo a Visãom, que cita fontes eclesiásticas presentes no local, “o sacerdote terá assumido, olhos nos olhos, a autoria da denúncia”.

Ontem, nas declarações à SIC, o bispo Carlos Azevedo reconheceu que quando conheceu “a pessoa em causa”, (padre José Nuno ), ela “já era adulta e grande”.

“De maneira nenhuma tive qualquer relação com essa pessoa. Não há atitude de assédio para com ninguém nem nunca tive qualquer reparo nesse sentido comigo”, acrescentou.

Já o capelão do Hospital de São João deu instruções ao gabinete de comunicação do centro hospitalar de que não queria pronunciar-se sobre o assunto.

No entanto, em declarações por e-mail à Visão, o sacerdote afirmou: “Sou padre. O que tinha a dizer sobre a questão disse-o no tempo oportuno e necessário, nas instâncias certas, dentro da Igreja”.
De Lisboa para o Vaticano
D. Carlos Azevedo nasceu há 59 anos em Milheirós de Poiares, Feira, no seio de uma família com dez filhos, considerada católica e austera.

Foi ordenado sacerdote em 1977 e durante 12 anos, entre 1981 e 1993, foi o diretor espiritual do Seminário do Porto. O ex-bispo auxiliar de Lisboa e doutorado na Faculdade de História Eclesiástica da Universidade Gregoriana em Roma, foi professor de Teologia na Universidade Católica tendo chegado a vice-reitor da instituição.

O atual membro do Conselho Pontifício da Cultura do Vaticano liderou ainda a paróquia portuense da Senhora da Conceição onde ocupou várias funções na direção da diocese. Entre 2005 e 2011 exerceu funções de bispo auxiliar do Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Foi ainda presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e membro da Comissão Episcopal da Cultura Bens Culturais e Sociais. Em 2010 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

D. Carlos Azevedo foi o último português a ser ordenado bispo por João Paulo II, com a sua ordenação a ter lugar em abril de 2005. Poucas horas depois da cerimónia, à qual assistiram mais de duas mil pessoas, Karol Wojtyla morria.

Em novembro de 2011, a Nunciatura Apostólica em Portugal anunciou que D. Carlos Azevedo tinha sido nomeado pelo Papa Bento XVI, delegado do Conselho Pontifício para a Cultura, o organismo que procura assegurar as melhores relações da Igreja e Santa Sé com a Cultura.

D. Carlos Azevedo chegou a ser um dos nomes falados para suceder ao atual patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, juntamente com D. Manuel Clemente (bispo do Porto) e D. António Marto (bispo de Leiria-Fátima).

Segundo a Visão, o facto de D. Carlos Azevedo ter abandonado Lisboa rumo ao Vaticano ,“sem dar uma palavra aos amigos e sem realizar um jantar de despedida”, terá levantado desconfianças no clero lisboeta.

“Quando demos por isso, ele já tinha empacotado tudo e partido. Foi então que alguns começaram a questionar-se sobre a veracidade de tal convite e o porquê de tanta pressa”, afirmou um dos membros da diocese de Lisboa à Visão.
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