Autores apontam censura. Cartaz a denunciar abusos sexuais na igreja retirado pela Câmara de Oeiras

por Paulo Alexandre Amaral - RTP

Os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica Portuguesa são um assunto que estará a causar incómodo no início da Jornada Mundial da Juventude. Um cartaz a assinalar as mais de quatro mil vítimas apontadas pela comissão independente designada para averiguar as queixas de potenciais vítimas desapareceu em Oeiras pouco após ter sido afixado. A autarquia fala em "publicidade ilegal", leitura rejeitada pelos autores do cartaz, que falam agora em levar o caso para os tribunais.

Neste arranque da Jornada Mundial da Juventude, Lisboa, Loures e Algés acordaram com cartazes do movimento This Is Our Memorial – thisisourmemorial.pt – a recordar as vítimas de abusos sexuais na igreja portuguesa.

O cartaz apresenta cruzes de um lado (significando o número de vítimas de abusos sexuais) e a frase "Mais de 4.800 crianças abusadas pela Igreja Católica em Portugal" do outro.



Os cartazes da Alameda – na jurisdição da Câmara Municipal de Lisboa – e Loures mantêm-se. O cartaz da rotunda de Algés, como se pode ver em relatos na rede social X, foi visitado por elementos da polícia municipal e posteriormente retirado.

Questionada pelo online da RTP sobre a retirada do cartaz da rotunda de Algés, a autarquia de Oeiras responde liminarmente que “no Município de Oeiras toda a publicidade ilegal é retirada, neste e em todos os casos”.

Na rede social, Telma Tavares, uma das promotoras dos cartazes, escreve "Censura em Algés, após quase 50 anos do 25 de abril. Luto pela liberdade de expressão das +4800 vítimas, por um memorial que erguemos para que ninguém se esqueça delas. Não esquecemos".


Numa reacção que chegou ao fim da tarde às redações, a This Is Our Memorial diz ponderar levar o caso para os tribunais: "Repudiamos a decisão ilegal e autoritária da CM de Oeiras de mandar retirar o cartaz de cariz político - e não de publicidade, como erradamente comunicaram aos media - colocado naquele Município respeitando a legalidade".

Para o movimento, "a retirada do cartaz viola injustificamente o direito à liberdade de expressão", já que "o cartaz não colocou minimamente em causa a realização da JMJ, nem tem um cariz ofensivo".

"Temos o direito de expor o cartaz e iremos lutar por esse direito", conclui o comunicado, onde prometem, "analisar o recurso à via judicial para reagir a esta injustiça, de forma a compensar, dentro do possível, esta forma de censura ilegal por parte da CM de Oeiras".
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