Um participante nas manifestações em Lisboa contra o governo angolano, dadas a conhecer pela autarquia lisboeta às representações diplomáticas de Angola, considera que esta situação demonstra que, afinal, os ativistas não estão tão seguros em Portugal, como pensavam.
Pedro Santana, do Partido do Renascimento Angolano - Juntos por Angola (PRA-JA) em Portugal, reagiu desta forma à notícia da Lusa divulgada hoje e que indica que Angola, através das representações diplomáticas, foi o segundo país mais notificado pela Câmara de Lisboa sobre os promotores das manifestações antigovernamentais.
De acordo com o relatório preliminar da auditoria solicitada para averiguar os processos de comunicação prévia, depois de conhecida a divulgação de dados de ativistas a países terceiros, o consulado e a embaixada Angola foram informados um total de nove vezes sobre promotores das manifestações na cidade de Lisboa.
"Eu também me coloco no lugar dos ativistas russos. A Câmara [Municipal de Lisboa], sendo uma instituição, uma entidade, devia zelar mais pela privacidade, tentarmo-nos resguardar e não nos entregar na boca do lobo. Sinto-me injustiçado com esse comportamento da parte da câmara", disse à Lusa.
E acrescentou: "Estamos aqui, mas também estamos ligados com a nossa terra, com os nossos concidadãos, com os nossos familiares que estão lá e, cada vez que há lá uma situação, nós aqui praticamente servimos de retaguarda deles, pois aqui estamos na condição de dar voz aos que não têm. Ver uma exposição destas é muito complicado, muito complicado mesmo".
Pedro Santana, que acompanhou as primeiras revelações do caso, envolvendo manifestantes russos, nunca imaginou que Angola estaria envolvida.
"Nunca imaginei. Fomos apanhados de surpresa, completamente. Agora... temos de repensar muita coisa", pois "afinal não estamos tão seguros como pensávamos", referiu.
O ativista recordou que vive em Portugal porque foi neste país que encontrou "o sossego, a paz e a tranquilidade" que não tinha no país de origem.
Angola foi o segundo país mais notificado pela Câmara Municipal de Lisboa sobre os promotores das manifestações antigovernamentais, nomeadamente em 2015, quando um grupo de ativistas esteve preso em Luanda, entre eles o luso-angolano Luaty Beirão.
De acordo com o relatório preliminar da auditoria solicitada para averiguar os processos de comunicação prévia, depois de conhecida a divulgação de dados de ativistas a países terceiros, o consulado e a embaixada Angola foram informados um total de nove vezes sobre promotores das manifestações na cidade de Lisboa.
Em 2015, a autarquia lisboeta notificou o consulado e a embaixada por quatro vezes, devido a concentrações solidárias com jovens ativistas angolanos detidos em Luanda, conhecidos como `revus`, que incluem Luaty Beirão, o mais mediático do grupo que fez uma greve de fome de protesto.
Em 2021, a embaixada foi notificada por uma ocasião, relativa a uma manifestação de cidadãos "não conformados com o quadro sócio político de Angola", segundo o relatório camarário a que a Lusa teve acesso.
Em 2020, três manifestações pela democracia e a exigir o "cumprimento do programa político eleitoral" foram objetos de notificação.
O relatório explicita que em 2012, na sequência da publicação da legislação referente à tramitação de avisos de manifestações, a Câmara de Lisboa elaborou um protocolo para o tratamento destes dados, no qual está patente a necessidade de o município comunicar às embaixadas a ocorrência de manifestações.