Associação de Leiria quer sensibilizar prostitutas para prevenção de doenças
Uma associação de Leiria está a desenvolver um projecto de sensibilização das prostitutas para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis junto de prostitutas que trabalham em residências.
A Associação Novo Olhar (ANO) - criada em Coimbra em 1994 e a trabalhar em Leiria desde há cinco anos - tem desde Setembro dois técnicos a actuarem junto de prostitutas que trabalham em casas, depois de ter desenvolvido um projecto semelhante com a prostituição de rua.
Os técnicos abordam as prostitutas, entregam-lhes um kit com preservativos e material de informação sobre as doenças sexualmente transmissíveis e procuram, a partir daí, apoiá-las na prevenção de doenças e, sempre que possível, na sua reintegração social.
Segundo Ana Patrícia Nobre, presidente da ANO, este trabalho junto da prostituição residencial segue-se ao desenvolvido desde há cinco anos no apoio às prostitutas de rua na cidade de Leiria.
Actualmente, em Leiria, estão referenciadas pela ANO 15 prostitutas de rua, 14 das quais toxicodependentes, com idades entre os 16 e os 45 anos.
Quanto às que se prostituem em casa, não há estimativas, "pois os números disparam, quer neste caso, quer no que se refere à prostituição por telefone".
"As motivações para a prostituição são diversas, mas no caso das toxicodependentes normalmente é porque precisam de arranjar dinheiro para doses diárias, para elas e para os companheiros", disse hoje Ana Patrícia Nobre, à margem dos trabalhos do Colóquio "Nós, que não somos como as outras", promovido pela ANO na Escola Superior de Educação de Leiria.
"Nós actuamos basicamente na redução de danos, com a distribuição, às consumidoras de droga, de material de injecção seguro e preservativos", explicou.
A responsável acrescentou que a actuação da associação se verifica, também, "quando há pedidos de ajuda para a reabilitação e reinserção social".
Temos duas mulheres em formação profissional", disse.
Um programa que falhou, por manifestação de desinteresse dos proprietários dos estabelecimentos, foi o de sensibilização para as doenças sexualmente transmissíveis em "dancings" da região.
Entretanto, na Marinha Grande, são oito as prostitutas de rua apoiadas pela ANO, todas toxicodependentes.
"Já foram mais, mas nos últimos anos morreram três e outras desapareceram", disse Ana Patrícia Nobre.
Nos trabalhos do colóquio - dirigido essencialmente a alunos da Escola Superior de Educação de Leiria - foram apresentados dados de um estudo de fim de curso de três enfermeiras, sobre a prostituição e as doenças sexualmente transmissíveis, em áreas apoiadas por associações congéneres à ANO em Coimbra, Leiria e Lisboa.
A amostragem, através de questionários respondidos por 61 mulheres - dos quais apenas 56 foram validados - revelou que 60 por cento das prostitutas recorre a esta prática por necessidade económica, 3,5 por cento possui o Ensino Superior, a média de clientes diários é de cinco e 37,5 por cento sofre de hepatite C e 12,5 por cento de Sida.
Quanto às doenças sexualmente transmissíveis, "as toxicodependentes são as que maiores riscos correm e representam, pois facilmente dispensam o preservativo se o cliente pagar mais", revela a amostragem, da responsabilidade de três enfermeiras dos hospitais de Torres Novas, Tomar e Peniche.