O antigo cônsul português Aristides de Sousa Mendes, que salvou milhares de judeus do regime nazi, recebe hoje honras de Panteão Nacional, em Lisboa. A cerimónia realiza-se com um túmulo sem corpo, já que não há trasladação dos restos mortais.
Nascido em 19 de julho de 1885, Aristides de Sousa Mendes morreu em abril de 1954, no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa.
A cerimónia iniciou-se com uma interpretação do hino nacional pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos.
De seguida, Margarida de Magalhães Ramalho - académica e coautora do Museu Virtual 'Aristides de Sousa Mendes', fez o elogio fúnebre onde recordou o papel do ex-cônsul de Portugal em Bordéus em Portugal e no mundo.
A historiadora recordou a vida de Aristides Sousa Mendes a sua luta contra o regime nazi e os milhares de judeus aos quais o ex-cônsul deu visto à revelia de Salazar. A desobediência do diplomata permitiu salvar milhares de vidas.
O documentário “O cônsul injustiçado” realizado em 1982 pela jornalista Diana Andringa da RTP, revelou o testemunho de vários descendentes de judeus que foram salvos pelo diplomata.
Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, realçou no seu discurso os passos dados para que Aristides de Sousa Mendes recebesse homenagens de Panteão Nacional.
O grupo de trabalho responsável por definir o processo de concessão de honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes foi constituído em outubro do ano passado, contando com representantes de todos os partidos (exceto Chega) e familiares do antigo cônsul.Este grupo de trabalho surgiu no seguimento da aprovação, em julho de 2020, de um projeto de resolução proposto pela deputada não inscrita Joacine Katar Moreira - na altura ainda deputada do partido Livre.
Para Ferro Rodrigues, o papel desenvolvido pelo ex-cônsul “enobrece Portugal”.
"Aristides de Sousa Mendes foi figura maior do século XX português. Que o exemplo da sua conduta, a que hoje aqui prestamos homenagem, sirva de farol em tempos de novas dificuldades e desafios para a memória coletiva, demonstrando o valor da resistência ao injusto e desumano. Que a sua entrada no Panteão Nacional contribua para perpetuar a sua memória”, concluiu.
Já Marcelo Rebelo de Sousa, que elevou Aristides Sousa Mendes a título póstumo, com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade, em 2016, elogiou o papel humano realizado pelo diplomata.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, declarou que Portugal se curva perante a personalidade moral do antigo cônsul Aristides de Sousa Mendes, que salvou milhares de judeus, “eternamente grato”, recordando-o "hoje e para sempre".
“Aristides de Sousa Mendes serviu, com coragem extrema, provação pessoal e familiar e exemplar humildade esses valores na sua mais notável expressão. Portugal, curvando-se perante a sua personalidade moral, eternamente grato, hoje e para sempre o recorda e homenageia”, declarou o Presidente da República.
“Aristides de Sousa Mendes serviu, com coragem extrema, provação pessoal e familiar e exemplar humildade esses valores na sua mais notável expressão. Portugal, curvando-se perante a sua personalidade moral, eternamente grato, hoje e para sempre o recorda e homenageia”, declarou o Presidente da República.
Para o Presidente da República, “Aristides mudou a história de Portugal e projetou Portugal no mundo”.
“Mudou a história de Portugal nesse momento trágico chamado genocídio em plena guerra mundial. Porque de genocídio se tratava, já na perseguição de comunidades, que haveria de acabar em Holocausto”, considerou.
No Panteão Nacional estão sepultadas figuras como os escritores Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro, Almeida Garrett e Sophia de Mello Breyner Andresen, a fadista Amália Rodrigues, o futebolista Eusébio, e o marechal Humberto Delgado, ex-candidato à Presidência da República.
No Panteão estão também alguns dos antigos Presidentes da República, como Sidónio Pais, Manuel de Arriaga, Óscar Carmona e Teófilo Braga.