"Apenas é lícito olhar alguém de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se". O apelo do papa na vigília

por Joana Raposo Santos - RTP

Miguel A. Lopes - Pool via Reuters

Num discurso em que fugiu ao guião, o papa transmitiu a mais de 1,5 milhões de jovens que "a alegria é missionária". Cumprimentando os peregrinos com um "boa noite" dito em português, Francisco focou-se numa mensagem de ajuda ao próximo e frisou que "o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se".

“Podemos perguntar-nos por que é que Maria se levanta e sai apressadamente ter com a prima. Certamente porque acaba de saber que ela está grávida. Mas a Maria também o está. Então por que foi ela, se ninguém lhe pediu?”, perguntou o papa.

“Maria vai porque ama. E quem ama voa, corre e alegra-se. Isto é o que o amor nos faz fazer”, respondeu. “Porque a alegria é missionária. A alegria não é só para um”.

Por essa razão, o sumo pontífice apelou aos presentes que não fiquem com esta experiência da JMJ só para si, mas que a levem para outros.

Francisco afirmou ainda que, “se olharmos para trás, vemos pessoas que foram como um raio de luz: pais, avós, amigos, padres, religiosos, catequistas, animadores, professores. Eles são como as raízes da nossa alegria”.

“E a alegria não está fechada na biblioteca, não está guardada com uma chave. A alegria tem de se procurar, de se descobrir no nosso diálogo com os outros, onde temos de dar essas raízes de alegria que temos recebido”.

“Isso, às vezes, é cansativo”, reconheceu o papa, referindo que nessas alturas podemos desistir e cair. “Acham que uma pessoa que cai na vida, que tem um fracasso, que até comete erros pesados, deixou de ser? Não”.

“O que é preciso fazer nessas ocasiões é levantar-se”, como acontece com “os alpinos que gostam de subir montanhas” e dizem que o que importa “não é cair, é não permanecer caído”.

“Quem permanecer caído reformou-se da vida já, fecha a porta da esperança e fica caído no chão. Quando vemos alguém caído, o que precisamos de fazer? Levantá-lo, com força”, aconselhou.

E “o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para ajudá-la a levantar-se”.
“Não tenham medo”
Francisco fez ainda uma analogia ao futebol, desporto do qual é fã assumido: “por trás de um golo há muito treino”, assim como, “na vida, nem sempre podemos fazer aquilo que queremos, mas cada um tem uma vocação que nos faz caminhar e, se cairmos, que alguém nos ajude a levantar para voltarmos a treinar”.

“Isto tudo é possível não porque façamos um curso sobre caminhar, porque isso é algo que se aprende. Aprende-se dos pais, dos avós, dos amigos, quando vamos de mãos dadas”, disse o papa à multidão que o ouviu atentamente.

Francisco lembrou ainda que, “na vida, nada é grátis, tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus”.

“Portanto, com isto que temos gratuito e com a vontade de caminhar, caminhemos com esperança e com as nossas raízes e vamos para a frente, sem medo. Não tenham medo”, pediu.
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