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Análise a colesterol "remanescente" poderá ser útil na avaliação de risco do doente - Especialista

por Lusa

Lisboa, 22 jan (Lusa) - O cardiologista Ricardo Seabra Gomes considerou hoje que a análise de um terceiro tipo de colesterol, que faz aumentar ainda mais o risco do bloqueio das artérias, poderá ter utilidade em termos de avaliação de risco do doente.

O especialista comentava à agência Lusa um estudo dinamarquês divulgado hoje pelo Público, publicado na revista Journal of the American College of Cardiology, que envolveu 73 mil participantes e visou avaliar a responsabilidade de um terceiro tipo de colesterol, denominado "feio" ou "remanescente", nas doenças cardiovasculares causadas pela obstrução das artérias.

Além dos chamados "bom" e "mau" colesteróis, respetivamente o HDL e o LDL, existe um terceiro tipo, que quase ninguém conhece, mas é o que faz mais aumentar o risco de bloqueio das artérias, a aterosclerose, principal causa do enfarte cardíaco.

O estudo envolveu 73 mil participantes, quase 12 mil dos quais tinham sido diagnosticados, entre 1976 e 2010, com uma cardiopatia isquémica decorrente de aterosclerose coronário, e cerca de 20 mil apresentavam, devido a mutações genéticas, altos níveis de colesterol "feio

O estudo mostra, pela primeira vez, que existe uma relação causal entre os altos níveis de colesterol "feio" e a aterosclerose, com as pessoas com altos níveis de colesterol a correrem um risco quase três vezes maior do que as outras de desenvolver uma cardiopatia isquémica.

Em declarações à Lusa, Ricardo Seabra Gomes adiantou que esta análise "é uma maneira mais sofisticada de calcular o conteúdo de gorduras no sangue".

"Usamos habitualmente o colesterol total, o bom, o mau e os triglicéridos, mas há muitos outros componentes lipídicos, que não são avaliados habitualmente na prática clínica", explicou.

As análises ao sangue indicam os níveis de colesterol "bom" e do "mau". Contudo, a soma destes dois tipos de colesterol não é igual ao colesterol total. É nessa discrepância que se esconde o colesterol "feio", de densidade muito mais baixa do que o colesterol mau, explica o jornal.

"Até aqui, as pessoas, os médicos e os cientistas têm-se focado principalmente no colesterol LDL. A maior parte dos médicos ignora o colesterol remanescente", disse ao Público Borge Nordestgaard, um dos autores do estudo, da Universidade de Copenhaga.

Seabra Gomes adiantou que, "dificilmente, [este exame] será feito em larga escala", porque são análises muito específicas e a maior parte dos laboratórios não terá capacidade para o fazer.

Mas tem uma "potencial vantagem" de não necessitar de ser realizado em jejum. "Este é um primeiro estudo a mostrar isso", acrescentou.

Com este estudo, "há bases para justificar que não se tem ligado muito a esta maneira de avaliar o colesterol feio ou remanescente", frisou.

Como utilidade, Seabra Gomes apontou que "poderá ter mais utilidade em termos de avaliação de risco do que os que são utilizados atualmente".

Esta análise permitiria descobrir um "maior risco" nalguns doentes que, neste momento, não são detetados só com a determinação clássica do mau e do bom colesterol.

"Até que ponto vai entrar na prática clínica eu acho que ainda é prematuro dizer. Há tantos trabalhos científicos, há centenas de fatores de risco o que o próprio artigo diz é que isto não vai mudar muito", comentou.

"Não muda na prevenção e não muda no uso das estatinas", medicação usada para tratar o colesterol alto.

Para o especialista, tem de continuar a apostar-se na prevenção, através de uma alimentação saudável, do exercício físico e na medicação.

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