Amadora-Sintra. Níveis de segurança clínica "abaixo de todos os limites", alerta a Ordem dos Médicos

por Andreia Martins - RTP
Foto: João Marques - RTP

A Ordem dos Médicos alerta esta segunda-feira para a situação no Hospital Fernando da Fonseca, ou Amadora-Sintra, considerando que esta unidade está a funcionar abaixo dos limites de segurança clínica. Em entrevista à RTP3, o bastonário Carlos Cortes deixou um "apelo desesperado" a uma intervenção direta por parte do Ministério da Saúde.

Em causa está a situação concreta do Hospital Amadora-Sintra, cuja situação se tem degradado “de forma muito perigosa nos últimos meses”, destacou o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.

“Ao contrário daquilo que é recomendado, isto é, a presença de seis médicos na equipa de urgência, (…) tivemos a informação de que por vezes só está um médico especialista, ou dois médicos especialistas”, ou mesmo turnos que “são só feitos por um médico especialista e um ou dois médicos internos”
, alertou o responsável.

Carlos Cortes destacou ainda que este hospital responde a uma área geográfica com “mais de 550 mil habitantes”. O Hospital de Amadora/Sintra serve uma área populacional de mais de meio milhão de habitantes. Os protocolos do serviço de urgência definem como seis o número mínimo de médicos nestes casos. No fim de semana passado, o Hospital Amadora/Sintra tinha uma escala com apenas três médicos, sendo um médico especialista e dois médicos internos, o que está “contra todas as recomendações técnicas”, denuncia a Ordem dos Médicos em comunicado.


A Ordem apelou a uma intervenção imediata do Ministério da Saúde e avisou para um preocupante descalabro de segurança, tanto para doentes como para profissionais de saúde.

“Os próprios médicos aconselharam o Conselho de Administração a encerrar a urgência para os doentes cirúrgicos poderem ser encaminhados para outro hospital que tenha outras condições mais adequadas. Isso foi negado e os médicos tiveram de trabalhar em condições de insegurança”, acrescentou o bastonário.

Para além disso, estes médicos fazem por vezes “15 turnos por mês” de urgências, muitas vezes “em períodos de 24 horas”, vincou, assinalando ainda a “degradação das condições de formação” dos médicos internos.

"Os níveis de segurança em muitos casos estão abaixo de todos os limites. É impossível nestas condições garantir permanentemente os níveis de segurança adequados tanto para os doentes que se dirigem para o hospital como para os profissionais, para os médicos”, afirmou Carlos Cortes.

Questionado sobre outros hospitais na mesma situação, o bastonário admitiu que há outras unidades a trabalhar com um número de profissionais abaixo dos números recomendados, mas salientou que a unidade que mais preocupa a Ordem dos Médicos é mesmo a do Hospital Fernando da Fonseca.

“Pedimos a intervenção direta da Ministra da Saúde. (...) Chegamos a um ponto insustentável e de rotura”, alertou o responsável.

O bastonário da Ordem dos Médicos considerou ainda que os planos de contingência para este inverno “não estão a funcionar” e que a situação é “extremamente preocupante”, com urgências fechadas e tempos de espera para doentes urgentes que chegam a ultrapassar as 30 horas precisamente no Hospital Amadora-Sintra, acusou.

“Os planos de contingência a nível nacional e nas ULS, apesar das boas intenções (…), não estão à altura daquilo que foi este período de inverno”, considerou em entrevista à RTP.

Numa altura em que ainda se verifica uma elevada afluência às urgências em período de inverno, Carlos Cortes espera uma resposta positiva por parte dos hospitais, Ministério da Saúde e direção executiva do Serviço Nacional de Saúde. 

Mas "o historial dos anos anteriores e destas últimas semanas é francamente negativo e dececionante", assinalou o bastonário, concluindo que o Serviço Nacional de Saúde não esteve "à altura dos acontecimentos" por "falta de organização, meios humanos e uma verdadeira estratégia de captação de profissionais".
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