Amadora-Sintra investiga espera de dois anos por colonoscopia

por RTP
Eric Gaillard, Reuters

O Hospital Fernando Fonseca decidiu esta quarta-feira abrir um inquérito para apurar por que motivo uma doente oncológica encaminhada para aquela unidade teve de esperar dois anos por uma colonoscopia, com o consequente agravamento do quadro clínico. O caso, revelado pelo Diário de Notícias, foi já encarado como “intolerável” pelo Ministério da Saúde, que em novembro prometera pôr cobro a dificuldades experimentadas por doentes da Grande Lisboa na marcação deste tipo de exames. O “problema”, admite a Administração Regional de Saúde, é “preocupante”.

Numa nota divulgada ao início da tarde, o Hospital de Amadora-Sintra sublinha ter visto “com grande preocupação” a notícia agora conhecida.
Também a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde vai abrir um processo de averiguações ao caso ocorrido no Hospital Fernando Fonseca.


Um caso, reforça-se no texto citado pela agência Lusa, que “contraria todas as boas práticas deste hospital que realiza mais de seis mil colonoscopias por ano e tem um método de referenciação que não permite que um doente sinalizado como urgente esteja mais de um mês sem realizar aquele exame”.

O Hospital Fernando Fonseca abriu entretanto um inquérito interno para “apurar, com rigor, o que aconteceu, para evitar que casos destes se repitam, assumindo, no entanto, toda a responsabilidade sobre eventual má prática”. E acrescenta que “a doente em causa está em processo de tratamento”, com “todos os cuidados que a sua situação justifica”.

Nas páginas da edição desta quarta-feira do Diário de Notícias, porém, o diretor do Serviço de Gastrenterologia do Amadora-Sintra, Nuno Alves, avançava já com uma explicação: carência de recursos humanos.

“A população do hospital é vasta, 500 a 600 mil pessoas, e só temos sete médicos no serviço, quanto tivemos 11. Estamos à espera há um ano para contratar”, assinalou o responsável ao jornal, para reconhecer que, tendo em conta a “resposta limitada”, os médicos têm de proceder a uma triagem. “Quando há mais sintomas ou suspeitas, a espera é um mês”, explicou.

“Há sempre risco. Não estamos contentes. Mesmo triando, acontecem situações destas, infelizmente. E a resposta na colonoscopia é má no país”, disse ainda o diretor de Gastrenterologia do hospital.
“Intolerável”

O Diário de Notícias revelou que uma doente com cerca de 60 anos foi encaminhada para o Hospital de Amadora-Sintra depois de uma análise positiva durante um rastreio ao cancro colorretal. Mas teria de esperar um ano até conseguir uma consulta de gastrenterologia naquela unidade hospitalar. Depois disso, aguardaria mais um ano por uma colonoscopia.
Em novembro o ministro da Saúde comprometera-se a resolver, até final de 2013, dificuldades na marcação de colonoscopias para doentes da Grande Lisboa.

“A colonoscopia é uma situação preocupante, no sentido em que há uma escassez anormal na oferta desse tipo de serviços. Essa escassez tem que ser ultrapassada. No caso em concreto da região de Lisboa é um microcosmos do fenómeno que existe em várias especialidades. Vamos estar muito atentos e queremos corrigir essa situação até final do ano”, afiançava então Paulo Macedo.

“Ao fim de dois anos, tinha cancro no intestino, grande e inoperável. Agora está a fazer quimioterapia neoadjuvante para reduzir, para ver se pode ser operada”, relatou ao jornal o médico de família que acompanha a doente. O mesmo clínico adianta que esta situação “está a acontecer com vários doentes”: “Demoram dois anos a responder e por vezes ainda me mandam carta para eu os mandar para o convencionado”.

“Neste caso a doente tinha cancro, mas esta espera significa que estes doentes estão há dois anos a sangrar e sem ter um diagnóstico. Muitos acabam por não esperar. Vão para o privado e pagam tudo”, frisou o médico.

Também ouvida pelo Diário de Notícias, uma fonte do Ministério da Saúde admitiu que “há escassez e quem produz não está interessado no acordo com o SNS. Estamos a averiguar se há pressões em relação aos preços e aos tempos de espera”.

À Lusa, “fonte oficial” do Ministério de Paulo Macedo disse entretanto tratar-se de um caso “intolerável”, que a tutela “lamenta produndamente”.
“Preocupante”

Por seu turno, o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo admite a existência de um “problema preocupante” com a capacidade para a realização de colonoscopias na região, quer no sector público, quer no privado. Em declarações à agência Lusa, Cunha Ribeiro remeteu para as próximas duas ou três semanas a definição de uma estratégia de resposta.

O responsável antecipou que o plano deve passar pela “maximização da capacidade instalada nos hospitais públicos” e pelo recurso a entidades sociais e privadas. Cunha Ribeiro disse ainda que estão em análise as dificuldades de realização de colonoscopias em entidades privadas convencionadas com o Estado.

O presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo apontou ainda um número de especialistas “insuficiente para as necessidades” da Grande Lisboa, algo que não terá uma solução a breve trecho. Quanto à doente que esteve dois anos à espera de uma colonoscopia, Cunha Ribeiro remeteu uma posição para depois do inquérito anunciado pelo Hospital de Amadora-Sintra.
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