Um em cada dez portugueses sofre de doença renal crónica, patologia que pode conduzir à falência da função deste órgão e obrigar o doente à diálise ou transplantação, como acontece a 14 mil pessoas em Portugal.
Para sensibilizar a opinião pública para o impacto da doença renal crón ica, que é potencialmente prevenível, assinala-se quinta-feira o Dia Mundial do Rim.
Este ano, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) escolheu a doença renal crónica como tema da efeméride, lembrando que 800 mil portugueses sofrem d esta patologia.
A doença renal crónica "constitui um grave problema de saúde pública", alerta a SPN, acrescentando que os rins nunca como agora estiveram tão ameaçados .
"A actual epidemia de diabetes e obesidade poderão contribuir para núme ros ainda mais elevados no futuro", frisa a SPN.
Se não for diagnosticada e tratada, a doença renal crónica pode conduzi r a graves problemas de saúde, incluindo a falência renal (insuficiência renal c rónica terminal).
Portugal regista, todos os anos, 2.200 novos casos por ano de insuficiê ncia renal crónica terminal, existindo actualmente 14 mil doentes dependentes de diálise ou de transplante renal.
A doença renal crónica pode afectar qualquer pessoa, embora seja mais f requente nos idosos, nas pessoas com diabetes, hipertensão arterial de longa, ob esidade, com algumas doenças hereditárias ou que têm antecedentes familiares de doença renal.
Para os que necessitam de um transplante de rim, o problema é acrescido se sofrerem de obesidade, pois têm o risco das probabilidades de morrer ou de s ofrer uma falha do órgão no primeiro ano após o transplante, conforme concluiu u m estudo sobre a influência da obesidade na sobrevivência do paciente a curto e a longo prazo após a transplantação renal.
Publicado recentemente na revista Transplant Internacional (publicação mensal da responsabilidade Sociedade Europeia para a Transplantação e da Associa ção Europeia de Transplantação de Fígado e do Intestino), a investigação conclui u que há um relacionamento significativo entre a obesidade e a falha do transpla nte ou a morte aumentada.
O rim é o órgão mais transplantado na Europa (16.176 em 2005), seguido do fígado (6.095), coração (2.004), pulmão (1.169), pâncreas (720), coração-pulm ão (55), intestino (37) e os multiorgânicos (147).
Em Portugal, o transplante de rim é o segundo mais efectuado, com 380 i ntervenções em 2005, seguindo o da córnea (498). Nesse ano, foram igualmente tra nsplantados 185 fígados, 46 corações, nove pâncreas e dois pulmões.
Contudo, a "procura" de um rim para transplante é muito superior à ofer ta, sendo a doação em vida (um dador vivo doar um rim para transplante) uma solu ção para esta necessidade.
Um dos entraves a esta dádiva de órgãos em vida era a existência de uma legislação em Portugal que obrigava à relação de parentesco até ao terceiro gra u entre dador e receptor (doente).
O Governo decidiu, entretanto, alterar esta legislação, tendo apresenta do uma proposta cujo principal objectivo é "facilitar a efectivação de transplan tes", acabando com a limitação à colheita de órgãos não regeneráveis, quando se trata de dador vivo, à existência de uma relação de parentesco até ao terceiro g rau.
Sobre esta proposta governamental, o Conselho Nacional de Ética e Ciênc ias da Vida (CNECV) emitiu recentemente um parecer no qual afirma concordar com o levantamento da restrição à colheita e dádiva de órgãos em vida, mas alerta qu e tal medida pode vir a "facilitar" a sua comercialização.
Para o CNECV, o fim desta limitação é "positivo" e permite a doação de órgãos por conjugues, por exemplo.
Contudo, o parecer do CNECV refere que a ausência desta restrição "pode rá vir a facilitar a comercialização de órgãos, tecidos e células".
O Conselho defende a criação de requisitos que evitem estes riscos, nom eadamente a existência de uma posição próxima afectiva e estável entre dador e r eceptor.
"O carácter afectivo e estável dessa relação deve salvaguardar os risco s indesejáveis da comercialização de órgãos", de acordo com o parecer do CNECV.