Um grupo de agricultores do Baixo Vouga Lagunar queixou-se de que as defesas dos campos que rebentaram nas cheias de dezembro continuam sem intervenção pelas entidades adequadas, ao contrário do que aconteceu no Mondego.
"Nós aqui temos o campo todo à maré, a apanhar água salgada e ninguém quer saber", disse à Lusa Artur Resende, produtor de gado em Estarreja.
Para aquele proprietário, a situação no Baixo Vouga Lagunar é ainda mais grave do que aconteceu no Baixo Mondego, onde foi parcialmente destruído o sistema de irrigação, porque nos campos de Salreu, Canelas e Fermelã, a água salgada está a entrar pelos rombos abertos pelo temporal, nos muros de proteção dos caminhos.
"A água está a entrar em vários rombos, desde a ponte do Porto das Vacas até ao dique. Está tudo rebentado, ao longo do caminho e as terras estão à mercê da maré. Quantos anos vamos demorar a tirar o salitre dos terrenos? Assim nem daqui a uns 10 anos", critica.
Segundo aquele produtor, "praticamente todo o Baixo Vouga Lagunar está a ser afetado" e nem os proprietários conseguem chegar aos seus terrenos, porque partes do caminho até ao dique desapareceram com a força das correntes, muito menos o gado pode ser lá apascentado.
"Nem se pode passar para baixo, nem a pé, nem de bicicleta porque o caminho desapareceu em vários sítios, entre o porto das Vacas e o dique e na vala dos Moleiros, então nem se fala", descreve.
Resende lamenta que a Câmara de Estarreja, que noutras ocasiões agiu, apesar de poder não ser da sua competência, desta vez nada tenha feito: "via pelo menos tapar onde está a entrar água salgada e depois quando viesse verba então faziam a obra de recuperação dos muros, que foi o que em tempos já fizeram, noutras situações de cheia. Desta vez está tudo parado".
Serão cerca de meia centena os produtores atingidos, com várias centenas de cabeças de gado que se alimentam, em liberdade, dos pastos do Baixo Vouga.
"Todos os agricultores aqui estão a ter prejuízos enormes e ninguém quer saber disto", lamenta o criador de equinos.
A Lusa tentou obter da Câmara de Estarreja um comentário à situação, tendo esta reconhecido a gravidade da situação e dado conta de que remeteu a informação recolhida às entidades competentes.
"Face à gravidade da situação e mais uma vez substituindo-se à administração central, a Câmara Municipal de Estarreja procedeu de imediato ao levantamento dos danos provocados pelo aumento dos níveis do caudal de água no Baixo Vouga Lagunar, em toda a zona do Baixo Vouga integrada no Município de Estarreja, tendo remetido essa informação para as entidades competentes (Ministério da Agricultura, Ministério do Ambiente, Agência Portuguesa do Ambiente)", reporta numa nota enviada à Lusa.
A Câmara de Estarreja sublinha que, "mesmo não tendo nem a competência nem a responsabilidade sobre a matéria, tem socorrido os agricultores, realizando as intervenções necessárias sempre que novos rombos surgem e, também agora irá avançar para a realização de obras provisórias de reparação, com ações de reposição das margens e de arranjo dos caminhos, de forma a garantir condições de circulação e defesa dos campos da entrada de água salgada".
Segundo a autarquia, "o valor estimado para reparação estrutural de todos os estragos causados pela tempestade Elsa no território de Estarreja do Baixo Vouga ascende a cerca de 220 mil euros".