Subida do nível do mar, atividade sísmica e aumento das emissões de carbono. Estes são os principais riscos apontados pelos onze cientistas portugueses que, por considerarem que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) sobre o Aeroporto do Montijo não considerou ou omitiu vários fatores, decidiram criar um documento no qual detalham estes possíveis problemas. Pedem ainda uma revisão do estudo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Vimos que um documento muito importante (…) é omisso e tem graves erros”, explicou o engenheiro geógrafo Carlos Antunes ao jornal Público, que avançou esta sexta-feira os pormenores do documento elaborado pelo grupo de cientistas.
O documento refere que, “face à localização do projeto, a subida do nível médio do mar foi considerado o parâmetro mais crítico”, existindo o risco de “inundação das instalações da estrutura aeroportuária, em particular das pistas de descolagem e aterragem”.
Se, por um lado, o Estudo de Impacto Ambiental previu que a pista do aeroporto não seria afetada pois a maré apenas atingiria os 3,42 metros, quando a cota máxima de inundação se fixaria nos cinco metros na parte sul da pista, o documento dos cientistas aponta um erro nestes cálculos.
“O EIA contabilizou 3,42 metros, mas os valores somados dão de facto 3,99 metros”, afirmou ao Público Carlos Antunes, explicando que a cota de cinco metros do projeto pode ser alcançada entre os anos 2050 e 2070, deixando a parte sul da pista submersa.
Num cenário que compreenda o ano 2100, poderão ocorrer situações em que o máximo da maré atingirá até 6,12 metros, uma vez que é provável que o nível médio do mar aumente dois metros até esse ano.
Assim sendo, o grupo de cientistas propõe que a cota máxima estabelecida pelo EIA passe para seis metros em vez de cinco, minimizando o risco de inundação.
Meta carbónica comprometida
O documento dos cientistas sugere também que o EIA omite dados sobre a emissão de gases com efeito de estufa e do seu impacto no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, implementado pelo Governo.
Pedro Nunes, outro dos autores do documento, explicou ao Público que o EIA apenas “contempla as emissões terrestres, ou seja, emissões da infraestrutura portuária, do tráfego rodoviário (…) e das emissões das aeronaves na descolagem e aterragem”, deixando de fora as emissões “produzidas na fase de cruzeiro, que são o grosso das emissões”.
Desta forma, em 2050 o aeroporto do Montijo poderá ser responsável por dez por cento do total nacional das emissões de carbono, o equivalente a um milhão de toneladas, numa altura em que o aeroporto da Portela representará o dobro dessas emissões.
Risco de sismos e tsunamis
Já em relação à atividade sísmica, o EIA considerou que esta é elevada na área destinada ao novo aeroporto, mas que “os impactos geomorfológicos da movimentação de terras” são “negativos e pouco significativos”.
Os cientistas consideram que as medidas de minimização destes riscos devem ser tomadas com pelo menos 50 anos de antecedência e que uma delas, a “relocalização de pessoas e infraestruturas”, está a ser evitada por ser “a mais difícil do ponto de vista social e económico”.
Os autores do documento decidiram divulgá-lo depois de o terem submetido na plataforma de consulta pública ao Estudo de Impacto Ambiental e, ainda assim, a APA ter dado um parece favorável condicionado à construção do novo aeroporto.
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