O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, classifica como "muito preocupante" a greve cirúrgica dos enfermeiros que está agendada, porque vai causar grandes constrangimentos no acesso aos cuidados de saúde, sobretudo por ser prolongada no tempo.
Dois sindicatos de enfermeiros convocaram uma greve a partir de dia 22 de novembro, e com duração superior a um mês, que deve incidir em pelo menos três blocos operatórios de grandes hospitais, uma ideia de paralisação que partiu inicialmente de um movimento de enfermeiros e que recolheu já mais de 350 mil euros num fundo destinado a compensar os profissionais que ficarão sem salário.
Alexandre Lourenço considera que esta greve "pode causar muitos constrangimentos" e "lesar os cidadãos que necessitem de cuidados de saúde", apelando ao Governo e às organizações profissionais que travem esta paralisação pela via negocial, através de acordo entre as partes.
Em entrevista à Lusa a propósito do Fórum do Medicamento que a Associação dos Administradores Hospitalares promove na sexta-feira em Lisboa, o responsável considerou que "não é relevante" o meio encontrado para compensar os grevistas, através de uma recolha de fundos que já conseguiu mais de 350 mil euros.
"Só é relevante no sentido de perceber que, para se chegar a este ponto, é preciso que as coisas não estejam bem. É algo de muito atípico. Mas mais atípico é a previsão de termos uma greve por um tempo tão longo", afirmou Alexandre Lourenço.
O representante dos administradores hospitalares lembra que "há fatores que desencadearam um descontentamento generalizado e que justifica a crispação existente".
Apesar da recuperação das 35 horas semanais de trabalho ou da "melhoria de salários", Alexandre Lourenço frisa que "o mal-estar sentido pelos profissionais é justificado pelas condições de trabalho atuais no Serviço Nacional de Saúde (SNS)".
"Importa ter em consideração que existem menos recursos humanos do que existiam em 2010, particularmente na enfermagem, nos assistentes operacionais e nos assistentes técnicos há uma sobrecarga de trabalho e uma frustração em algumas profissões que não verificam a valorização na sua profissão", disse.
No caso dos enfermeiros, Alexandre Lourenço deu ainda o exemplo da diferença de critérios aplicados pelos hospitais públicos quanto às progressões nas carreiras. Há hospitais que atribuem 1,5 pontos por ano de serviço para a progressão, enquanto outros atribuem um ponto.
"Temos comportamentos diferentes [por parte dos hospitais] sem que exista uma instrução clara por parte dos ministérios das Finanças e da Saúde. Uns enfermeiros progridem mais depressa e outros mais devagar. Isso também cria um desconforto grande, quer nos profissionais, quer nas administrações", exemplificou.
O Ministério da Saúde já anunciou que está a fazer uma análise jurídica à greve prolongada dos enfermeiros em preparação em vários blocos operatórios.
Até hoje já foram angariados mais de 350 mil euros no fundo de recolha impulsionado por um movimento de enfermeiros independente dos sindicatos, sendo que a meta era conseguir 300 mil para cumprir greve em três blocos operatórios: Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, São João, no Porto, e Santa Maria, em Lisboa.
O movimento de enfermeiros prolongou, entretanto, a recolha de fundos para alargar a paralisação a mais dois blocos operatórios: Setúbal e Centro Hospitalar do Porto, mas o dinheiro para estes dois blocos adicionais ainda não foi conseguido até hoje.
Os enfermeiros reclamam nomeadamente melhores remunerações e uma carreira digna, notando que não progridem há 13 anos.
A greve arranca no dia 22 de novembro e prolonga-se até final de dezembro.