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Adeptos do Spinning enfrentam seis horas de suor na Praça de Touros de Arruda dos Vinhos

A Praça de Touros José Marques Simões, em Arruda dos Vinhos, foi o cenário escolhido para a acolher um dos maiores encontros de entusiastas da modalidade desportista Spinning. Um evento organizado pelo grupo Arruda InstudiOut, em que mais de 150 adeptos se "uniram" numa experiência única de seis horas. Não faltou muito exercício, boa música e convívio.

Mariana Silva e Sara Cardoso foram das primeiras a chegar. Sorridentes e com vontade de colocar à prova as suas resistências atléticas, estas duas adeptas do Spinning aguardam pacificamente pela passagem do posto de acreditação.

Questionada sobre a motivação que as trouxer a este evento desportivo, Sara Cardoso responde que “é a loucura da velocidade”. Já quanto à duração, até queria mais, mas “infelizmente” não lhe dão. E entre longos sorrisos, ironiza: “Isto é uma tristeza, só me dão seis horinhas. Não vale nada assim”.

Se na generalidade se aponta o ciclismo como um desporto masculino, Mariana Silva explica que já não é bem assim e apresenta-se como exemplo. Para esta “aficionada” do Spinning, este evento de seis horas é um desafio. “Mas faz-se muito bem”, conclui.
O desafio salta à vista de quem chega a este local, isto porque a “corrida”, que não é de “touros”, se realiza precisamente numa arena.

As portas foram abertas à hora prevista, 15h00, e a receber os inscritos estava um grupo de jovens pertencentes à organização do evento. Aos poucos os atletas, em fila e resguardados do calor do Sol que se sentia na pele, ainda seca, avançavam lentamente até à tenda onde, mediante a devida identificação, recebiam água, uma t-shirt, informações básicas e o desejado lugar na arena da praça de touros.

Mas o que é o Spinning e o que atrai as pessoas a andarem de bicicleta sem sair do mesmo local?

Segundo a definição, o Spinning é uma modalidade de ciclismo indoor que combina música envolvente e treino físico intenso. No entanto, procurámos saber um pouco mais, através de José Rodrigues, promotor do evento e instrutor desta atividade, em Arruda dos Vinhos, que diz ser “diferente”, além de lhe ter mudado a filosofia de vida.

“Essencialmente a diferença é que nós, no Spinning, tentamos e criamos uma viagem contínua. Obviamente trabalhamos com a técnica, com a música e criamos uma viagem contínua sem interrupção. Podemos fazer uma simulação de planos ou de montanha, ou seja, trabalhos de esforço e trabalhos intervalados”. Uma viagem para quase todas as idades que simula uma prova de ciclismo, sem sair do mesmo local, sendo esta a primeira modalidade a utilizar este conceito a nível mundial.
Spinning, RPM e indoor cycling
Embora as bicicletas estáticas sejam idênticas, funcional e esteticamente, a principal função destes equipamentos é dar a sensação - o mais próxima possível - das bicicletas de estrada tradicionais. Em algumas podemos mesmo “quase” deitar-nos nas curvas, devido a um sistema de molas amortecedoras instaladas nestas máquinas desportivas.

Com a evolução, estas bicicletas aproximam-se da realidade outdoor. E entre as modalidades que usam este tipo de equipamento, o spinning é a técnica que mais se ajusta a uma prova real de ciclismo. A modalidade consiste num treino non-stop, que pode durar no mínimo 45 minutos, num ginásio, e simula as mesmas dificuldades de um atleta que decide realizar “uma viagem” por uma qualquer estrada nacional. Mas sem curvas, trânsito ou buracos.

Os mais corajosos aceitam as denominadas “maratonas” que, como esta que decorreu em Arruda dos Vinhos, podem durar seis horas ou muito, muito mais.

Também nesta componente desportiva surgem as modalidades de Indoor Cycling e RPM - “Raw Power in Motion” (Força bruta em movimento). O Spinning é ciclismo indoor com o participante a pedalar ao ritmo de músicas “enérgicas”, com diversas intensidades, mas com algumas paragens entre faixas musicais.

Uma forma de atividade física focada na parte inferior do corpo (pernas, músculos e glúteos), mas também, quando em grupo, de um bom convívio e uma “regozijo suado”.Corrida brava na arena taurina de Arruda
As pesadas portas da Praça de Touros, em Arruda dos Vinhos, voltaram a abrir-se para uma nova corrida. Apesar de o palco sugerir uma luta brava, com homens e mulheres trajados a rigor, desta vez a demonstração de força e coragem foge ao habitual.

Uma competição, entre bancadas de Sol e sombra, para enfrentar, durante seis longas horas, os guiadores em forma de “chifres” de 150 bicicletas estáticas, numa luta aguerrida de música, suor e lágrimas de esforço.

À entrada, com sorrisos rasgados nos rostos, os corajosos aficionados não mostraram qualquer temor e rapidamente aceitaram “montar” este desafio.


José Fernandes veio de Várzea dos Cavaleiros, junto à Sertã, e apesar dos quase 200 quilómetros feitos por estrada, admite que os que ainda vai fazer neste evento não lhe tiram o fôlego, mas diz que agora vai mais devagarinho.

Hoje trocou o carro por uma bicicleta estática, mas é numa Bicicleta de Todo-o-Terreno que gosta de andar, mas o convívio e o reencontro com os amigos falaram mais alto.

Já Pedro Serra veio de mais perto, Lisboa. Também faz BTT, pontualmente é o atletismo o desporto de eleição. Este evento serve principalmente para treinar para uma maratona internacional.

Mas então o que leva a trocar, desta vez, a corrida pelo Spinning? “O convívio. Acho piada, porque embora estejamos cada um na sua bicicleta, sente-se uma energia de conjunto, nestes eventos assim”. E questionado sobre a monotonia de se estar parado, Pedro admite que comparado com a corrida isso acontece, mas depois a energia de grupo não é comparável.

As seis horas não assustam Teresa Cardoso. Com 54 anos, explica que esta modalidade “é intemporal” e que a idade é apenas um número: desde que se consiga controlar o esforço, “é libertador”.

Palavras com as quais Rafaela Rosa, a amiga, 20 anos mais nova que Teresa, concorda a 100 por cento. Apesar de a paixão ser uma certeza, ainda assim não é melhor ir um pouco mais devagar, nesta aventura? Rosa confessa que o único travão que utiliza é “aquela roda vermelha” que serve para aumentar a dificuldade nesta máquina a pedais. “Mas quando tenho que apertar, é para apertar (risos)”.
Pedalar por gosto "cansa", mas há cada vez mais adeptos
Esta não é a primeira vez que Arruda dos Vinhos assiste a um evento de Spinning. A história desta aventura começou a rolar em 2016, quando um grupo de amigos, entre eles o promotor e dinamizador José Rodrigues, conseguiu juntar 50 bicicletas para uma pequena maratona de três horas.

A experiência foi de tal forma positiva que, em 2019, foi possível reunir nesta mesma praça 270 pessoas para uma maratona de seis horas.

Infelizmente, recorda o treinador do Arruda InstudiOut, veio a pandemia da covid-19, obrigando a cancelar todas a iniciativas que envolvessem modalidades em grupo em Portugal, incluindo as desportivas.


“A pandemia ajudou e não ajudou”, refere José Rodrigues. “Se por um lado não houve aulas nos ginásios, as pessoas com o confinamento, obrigadas a trabalhar em casa, muitas acabaram por comprar este tipo de equipamento e encontrar esta modalidade nessa situação”.

Após este travão sanitário, o treinador do AIO voltou a pedalar nesta ideia e, em 2022, conseguiu juntar já 100 adeptos. Um número ainda escasso, mas que cresceu, agora para mais de 150.

Este ano houve um pequeno contratempo, refere José Rodrigues. "Uma forte chuvada, dois dias antes do evento, inundou-nos a arena da praça. E sem um piso estável era impossível colocar as bicicletas". Entre regos abertos à pressa e uns improvisados rolos de tapetes, conseguiram cobrir parte da areia molhada da Praça de Touros José Marques Simões. Uma solução 'à portuguesa' que permitiu colocar, pelo menos centena e meia de bicicletas estáticas. Mas muitas outras ficaram "infelizmente" de fora, explica conformado.

José Rodrigues acredita que, para o ano, o número de bicicletas vai aumentar, mas certo, certo é que vão ser nove horas. E acrescenta: “Se eu abrir hoje o evento, quando terminar tenho a certeza que esgota”.

Quanto ao dia de hoje, “como vê são mais de centena e meia de adeptos.” E questionado se aguentam, José Rodrigues é peremtório: “Quem, as bicicletas? (risos) Aguentam! Aguentam!”
Como fazer mais de 100 quilómetros sem sair do lugar
O Sol da tarde apelava ao convívio - numa esplanada. Mas os mais de 150 praticantes que fizeram questão de se apresentar nesta arena não se mostram arrependidos. Depois de passarem pelo check-in, é tempo de ver onde está a bicicleta atribuída. Aos poucos a arena começa a ficar preenchida, mas antes da longa etapa é preciso ajustar as máquinas.

A vontade de subir era desafiante e alguns não se quiseram esperar pelo início da sessão. Mas nem todos, como o caso de um grupo de amigos que incluía a jovem Aldina, vinda da Figueira da Foz.

A boa disposição falava mais alto e Aldina apressou-se a falar com a RTP. Perante a pergunta de ainda estar à sombra, ironiza, “somos dez e só há cinco bicicletas”. E deixa o recado: “Para o próximo ano, eu trago a minha bicicleta, no meu trator, e pedalo quanto tempo eu quiser”.
Se uns prometem vir de trator, Rui Canizes ainda pensou vir de bicicleta, mas da Póvoa de Santa Iria a Arruda e depois ainda ter de fazer seis horas seria um algo puxado. Aqui o importante é a viagem, ainda que simulada. “E com uma vantagem. É ninguém fica para trás, pois as bicicletas são fixas”, diz.
Com muitos minutos no corpo e nas pernas, o desgaste físico e o calor já se revela nos rostos esforçados e encharcados. Contudo, o ritmo da música e as ordens vindas dos seis instrutores especializados davam a deixa para continua, ora sentados, ora de pé.

Mesmo desafiando os limites pessoais, a vontade determinava que a meta seria resistir até ao fim, e “desistir é morrer”, segundo Adão Maia, com 64 anos. Faz esta modalidade há 13 anos e já perdeu a conta aos quilómetros. Confessa mesmo que, se tivesse sido na estrada, já tinha feito Portugal de cima para baixo e de baixo para cima.
Testemunhos de resistência e de muito humor de alguns dos mais de 200 “aficionados” de Spinning que se deslocaram a Arruda dos Vinhos, apesar da consciência das seis horas seguidas.

As 150 bicicletas não chegavam para todos, mas ninguém ficou chateado. Houve mesmo quem referisse, entre dentes e à sombra de uma das bancadas, que assim até era melhor: “Ela vai primeiro, até se cansar, e a seguir vou eu”.

Entre algumas trocas, pedalada e muito ritmo, o bom ambiente e convívio reinaram até ao fim.
A noite acabou por chegar e, já com prova superada, trocaram-se promessas de novos reencontros e desafios. Alguns deles foram mesmo concretizados num bar ali perto. Mas essa corrida fica para outras histórias.