Açores. Furacão Lorenzo provoca dezenas de desalojados

por RTP
Após o período crítico de vento, as atenções centram-se agora na agitação marítima António Araújo - Lusa

A passagem do furacão Lorenzo pelo arquipélago dos Açores provocou 127 ocorrências, 15 feridos ligeiros e dezenas de desalojados. Mais de uma centena de pessoas foram retiradas das habitações por precaução. Segundo a Proteção Civil, as ilhas das Flores e do Corvo foram as mais afetadas. Várias freguesias estão sem eletricidade.

"Deveu-se nomeadamente a dois fatores - umas situações em São Jorge e nas Flores, que tiveram a ver com infiltração de água nas habitações, com o levantamento das telhas, e depois temos a situação de 19 pessoas na cidade da Horta, que necessitaram ser realojadas, porque houve galgamento do mar na zona da Avenida 25 de Abril", adiantou aos jornalistas o presidente do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, Carlos Neves.

"Em termos de ocorrências, 171, sendo que temos 66 no Faial, 23 nas Flores, 28 no Pico, 21 em São Jorge, oito na Graciosa, 20 na Terceira, duas em São Miguel e três no Corvo", adiantou, em declarações aos jornalistas, a secretária regional da Saúde dos Açores, que tutela a Proteção Civil, Teresa Machado Luciano.

Segundo a governante, foi necessário realojar 53 pessoas em três ilhas: "quatro em São Jorge, 42 no Faial e sete nas Flores".

Esta manhã foi ainda equacionada a possibilidade de se retirar uma centena de pessoas nas Lajes do Pico, por precaução, mas afinal foram apenas 50.

Todas as pessoas foram realojadas em casas de familiares ou em soluções encontradas pela Direção Regional da Habitação e pela Secretaria Regional da Solidariedade Social.

Segundo a Proteção Civil dos Açores, as ocorrências estão relacionadas, “sobretudo com obstruções das vias, danos em habitações, quedas de árvores e galgamentos costeiros”.


No Porto das Lajes das Flores, uma parte do molhe ficou destruído, “na zona onde se situa o edifício dos Portos dos Açores”. Ontem, o Governo regional dos Açores decidiu encerrar dos serviços da Administração Pública espalhados durante pelo arquipélago durante todo o dia.

Os condicionamentos nas ligações aéreas afetaram cerca de um milhar de passageiros.

A SATA cancelou a ligação entre Lisboa e Horta, na ilha do Faial. Outros 20 voos entre as ilhas, previstos para esta quarta-feira, também foram cancelados.

Em todo o arquipélago foram encerradas 61 estradas, com exceção do Corvo e Santa Maria. Na ilha do Corvo há também o registo de falhas na rede móvel.

De prevenção estiveram mil operacionais, entre bombeiros e funcionários públicos.

A rajada máxima de vento, de 163 quilómetros por hora, foi registada na ilha do Corvo, às 8h25 locais (9h25 em Lisboa).

A estação meteorológica que detetou a rajada de vento mais forte situa-se no aeroporto do Corvo. No entanto o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) frisa que, especialmente nas zonas mais altas das ilhas. É possível que tenha havido rajadas de maior velocidade não detetadas, pela ausência de equipamentos.
Aviso vermelho mantém-se

O IPMA alerta que o período crítico do furacão Lorenzo ainda não terminou e que o aviso vermelho se mantém.

"Ainda não podemos dar como terminado o período crítico porque as ilhas ainda estão sob efeito de forte agitação marítima com ondas que podem atingir os 20 metros e vento forte", adiantou Carlos Ramalho.

Segundo o meteorologista, “o aviso vermelho está em vigor para os grupos Central e Ocidental”. Freguesias sem eletricidade
Várias freguesias, de cinco ilhas, estão sem energia elétrica, sendo que parte das vila das Lajes, nas Flores, está sem energia, revelou a Eletricidade dos Açores.

Na ilha Graciosa (grupo Central) a freguesia da Guadalupe "ainda não tem energia".

Também no grupo Central, na ilha de São Jorge, a freguesia do Topo "ainda não tem energia" e na ilha do Pico a zona mais afetada é o concelho da Madalena, de acordo com a mesma fonte.

Já na ilha do Faial, na freguesia da Feteira e em parte das freguesias de Castelo Branco e Cedros ainda não foi reposta a energia.

Segundo a mesma fonte, nas ilhas de Santa Maria, São Miguel, Terceira e Corvo a energia elétrica "está em funcionamento normal".

A empresa avança estar a desenvolver "todos os esforços para a rápida reposição do fornecimento de energia elétrica às populações", adiantando que a operação "apenas está a ser dificultada pelas condições atmosféricas que ainda se fazem sentir nas várias ilhas".
Ondas podem chegar aos 12 metros
Após o período crítico de vento, as atenções centram-se agora na agitação marítima. A ondulação deverá andar entre os dez e 15 metros.

Na zona de Porto Pinho, freguesia das Angústias, cidade da Horta, na ilha do Faial, o mar galgou a muralha protetora.


O repórter da RTP Roberto Morais revela que a forte ondulação provocou vários estragos no local. Na rua eram visíveis vários peixes mortos. As pessoas permanecem nas suas habitações e várias famílias poderão ter de ser realojadas.

A Proteção Civil açoriana recomenda à população que “evite circular e esteja atenta às informações e indicações e adote medidas de autoproteção”.

Na ilha do Pico, a agitação marítima ainda está a gerar preocupação. Na baía da Vila das Lages, as ondas já atingiram os 12 metros de altura.

A direção do vento e o efeito da maré cheia poderá levar a uma subida do nível das águas, a partir das 17h00 locais, que levará a que o mar galgue as zonas mais baixas da localidade, revelou o comandante Martin, adjunto do capitão do Porto do Pico, à jornalista da RTP Marta Silva.


O responsável apelou ainda há população para que evite tomar comportamentos que coloquem em risco a sua vida ou a de terceiros.

No Facebook, o município das Lajes do Pico tem deixado vários alertas à população.

Situação de maior risco já passou
A situação de maior risco está ultrapassada. A garantia foi dada esta manhã pelo primeiro-ministro na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

António Costa revela que tem estado em “contacto permanente” com o Governo Regional dos Açores.

O primeiro-ministro frisa que, apesar de a situação ter melhorado, a agitação marítima ainda pode colocar em causa a navegação e a segurança dos portos e acrescenta que “há várias zonas onde ainda não está restabelecida a energia elétrica”.

Costa salienta ainda que o estado de prontidão dos meios se mantém e só serão desmobilizados se a situação se alterar.

"Agora o mais importante é fazer uma avaliação dos danos. À luz do dia vai ser feita uma avaliação mais rigorosa e vamos tentar perceber se existem quedas de árvores, problemas nas vias e danos em estruturas edificadas. Vamos aguardar pelas próximas horas", sublinhou.
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