O especialista em política internacional Luís Andrade afirmou hoje que a não ratificação pelo Congresso norte-americano do Acordo das Lajes, assinado em 1995 entre Portugal e os EUA, "leva a um menor empenhamento americano na sua concretização".
Luís Andrade, professor universitário de Ciência Política e Geoestratég ia e que foi representante dos Açores na Comissão Bilateral de Acompanhamento do Acordo de Cooperação e Defesa, adiantou à agência Lusa que, por isso, "os EUA v êem no acordo apenas uma parceria entre administrações".
"Para Portugal, que tinha a esperança de que os norte-americanos ratifi cassem o acordo no Congresso, ele vale como um Tratado Internacional, enquanto p ara os americanos não passa de um compromisso", sublinhou o professor da Univers idade dos Açores.
Segundo este especialista, "a falta de firmeza na exigência de cumprime nto integral do acordo e a inexistência de uma reacção política portuguesa à sua não ratificação pelo Congresso americano revela um ponto de fraqueza" da parte portuguesa.
Portugal tem, por isso, perdido muito em matéria de cooperação nas mais diversas áreas, uma vez que a falta de obrigatoriedade jurídica em os americano s cumprirem o acordo é um "empecilho ao alargamento e aprofundamento da cooperaç ão", alegou.
Para Luís Andrade, que ao longo de sete anos participou em diversas reu niões entre portugueses e norte-americanos, "ainda hoje é inaceitável que nos qu isessem oferecer, por três vezes, um rebocador obsoleto, destinado a operar num dos portos açorianos".
"Nunca compreendi esta atitude dos norte-americanos", disse.
Para a resolução do problema, Luís Andrade apenas vê a possibilidade de Portugal "denunciar o acordo em vigor e proceder à sua renegociação, ou, a mant er o texto actual, dinamizar e incrementar a cooperação".
"Não existem outras saídas", considerou este especialista em declaraçõe s à Lusa.
O actual Acordo de Cooperação e Defesa foi assinado em 1995 e significo u, entre outras alterações, o fim de um pagamento anual de vários milhões de eur os destinados ao Orçamento dos Açores.
A base portuguesa das Lajes, onde se encontra estacionado um destacamen to militar norte-americano, destacou-se, nos últimos 60 anos pelo seu papel deci sivo no apoio às forças americanas que intervieram em vários conflitos bélicos.
Em 1943, no auge da II Guerra Mundial, Portugal cedeu a Base das Lajes aos ingleses, que a utilizaram em missões de ataque aos submarinos alemães que p ovoavam as águas desta parte do Oceano Atlântico.
Os norte-americanos ficaram, durante esse período, estacionados na ilha de Santa Maria, onde construíram um aeroporto.
A partir de 1945, instalaram-se nas Lajes, tendo firmado em 1951 o prim eiro acordo com Portugal, para a sua utilização permanente.
As Lajes foram essenciais na ponte aérea que alimentou Berlim contra o cerco soviético, na maior acção de ajuda humanitária de sempre e, posteriormente , na ponte aérea de Berlim para os EUA, denominada "Operação Vittles" que levou ao trânsito de mais de 3 mil aeronaves.
Apoiaram, ainda, as forças militares americanas nas suas intervenções n o Líbano (1958), nos esforços de paz das Nações Unidas no Congo (1961) e durante a Guerra do Yom Kippur entre Israel e Países Árabes (1973).
A base funcionou ainda como ponto de reabastecimento da operação "Tempe stade no Deserto", posta em marcha para o Golfo Pérsico (1991), na Guerra do Kos ovo (acção militar da NATO nos Balcãs) em 1991, e mais recentemente, em 2003, no apoio à invasão do Iraque.
Pela Base das Lajes passaram igualmente alguns dos presidentes norte-am ericanos, entre os quais Dwight Eisenhower (1960) e Richard Nixon (1971), que se reuniu no arquipélago com o seu homólogo francês Georges Pompidou.
Também o presidente democrata Jimmy Carter passou pelas Lajes em 1979, com o primeiro-ministro egípcio, Anwar Sadat, no meio de negociações de paz para o Médio Oriente.
Em 2003, a base foi o palco da cimeira que decidiu a invasão do Iraque, entre o presidente George W. Bush e os primeiros-ministros Tony Blair (Inglater ra), José Maria Aznar (Espanha) e Durão Barroso (Portugal).
Os Açores e as Lajes têm sido, devido à sua posição estratégica entre a Europa e a América, uma plataforma essencial para o reforço da defesa do contin ente europeu e ponto de projecção americana para o Mediterrâneo, Norte de África , Médio Oriente e Ásia.
As instalações militares são, ainda, o local para o descanso das tripul ações, reabastecimento de aeronaves e apoio às missões de vigilância aérea e sub marina com os aviões P-3 Orion.
Os militares portugueses têm, por seu turno, responsabilidades nas evac uações médicas de doentes entre as diversas ilhas, bem como o socorro médico e r esgate de tripulantes de navios que cruzam o Atlântico.
A base está implantada em 520 hectares de terrenos e as suas instalaçõe s estendem-se por 101 hectares, incluindo estruturas de comando, hangares, posto s de transmissões, depósitos de combustível e instalações subterrâneas.
A base possui, igualmente, depósitos de combustível com capacidade para mais de 2 biliões de litros, o segundo maior da Força Aérea americana em todo o mundo.
A pista com 3,2 quilómetros de extensão e 91 metros de largura está pre parada para receber todo o tipo de aeronaves, incluindo o Space Shuttle, enquant o o aeródromo tem uma placa com dez quilómetros quadrados.
Naquele perímetro está, também, implantada uma aerogare civil que serve as ligações aéreas das companhias regional SATA e nacional TAP e apoia a escala de diversas aeronaves civis charter que cruzam o Atlântico.