O dia 18 de outubro fica marcado pela demissão de ministra da Administração Interna. Na quinta-feira, em Santa Comba Dão, Marcelo Rebelo de Sousa afirmava que estava impressionado com a coragem das vítimas dos incêndios. As falhas no SIRESP regressam à ordem do dia, com os bombeiros voltarem a apontar o dedo ao sistema. A 21 de outubro, o Governo revela que vai indemnizar as vítimas dos incêndios. Na primeira entrevista após a tragédia, António Costa admite que o Governo subestimou os riscos e que foi essa a causa para a falta de meios no combate aos incêndios de outubro. A 26 de outubro, a Proteção Civil divulga a lista das 45 vítimas mortais. Há ainda duas pessoas desaparecidas.
O dia fica marcado pelo pedido de demissão da ministra da Administração Interna. Constança Urbano de Sousa argumenta que estão “esgotadas todas as condições para se manter em funções” e revela que logo após os incêndios de Pedrógão Grande, em junho, tinha pedido para sair.
Na carta em que pede formalmente a demissão, a ministra exorta António Costa a aceitar o pedido “até para preservar a dignidade pessoal”. O pedido é aceite pelo primeiro-ministro.
"A ministra da Administração Interna apresentou-me formalmente o seu pedido de demissão em termos que não posso recusar", pode ler-se na nota assinada pelo chefe do Executivo e enviada às redações.
Numa curta nota de dois parágrafos, António Costa agradece publicamente a Constança Urbano de Sousa a "dedicação e empenho com que serviu o país no desempenho das suas funções".
Nessa quarta-feira, antes do debate no Parlamento, os deputados cumpriram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos incêndios.
O voto de pesar foi aprovado por unanimidade e partilhado pelo Governo.
Três dias depois dos incêndios, Pampilhosa da Serra continuava sem comunicações. Vinte aldeias não tinham energia elétrica.
Nesta região, os incêndios provocaram um morto e destruíram 500 casas.
Entretanto, o presidente da Câmara de Santa Comba Dão apelava a todos os privados e entidades públicas para que disponibilizassem máquinas pesadas que permitissem a limpeza, demolição e desobstrução de edifícios em risco de ruir.
Em Santa Comba Dão, cinco pessoas morreram, todas da freguesia de S. Joaninho, e arderam 15 habitações principais e mais de 50 devolutas, ou segundas habitações.
A RTP sobrevoou de helicóptero algumas das zonas mais afetadas pelos incêndios. São quilómetros e quilómetros de um país em cinzas.
A 19 de outubro entrava mais uma preocupação na vida das populações afetadas pelas chamas. Em Alcobaça, a água da rede pública estava afetada pelas cinzas dos incêndios.
Os Serviços Municipalizados de Alcobaça recomendam a algumas povoações do concelho para não beberem água da torneira sem ser fervida.
O Governo revela que o levantamento dos prejuízos estará concluído dentro de três semanas. A garantia é dada pelo ministro do Planeamento e Infraestruturas, que esteve este reunido com os autarcas de alguns concelhos afetados pelas chamas.
Pedro Marques diz que a intenção, com as visitas a acontecer por todo o país, é "começar a reerguer e recuperar" as comunidades mais atingidas pelos fogos.
Na quinta-feira, último dia de luto nacional, a Proteção Civil volta a atualizar o número de mortos. Os incêndios florestais que assolaram o norte e o centro do país provocaram 43 vítimas mortais.
Vinte das mortes ocorreram no distrito de Coimbra: dez em Oliveira do Hospital, três em Tábua, três em Arganil, três em Penacova e uma na Pampilhosa da Serra.
No distrito de Viseu, há registo de 18 vítimas mortais, nomeadamente em Vouzela (oito), Santa Comba Dão (cinco), Nelas (uma), Carregal do Sal (uma), Tondela (duas) e Oliveira de Frades (uma).
Morreram duas pessoas na Guarda e uma na Sertã, distrito de Castelo Branco. Outras duas pessoas morreram no Hospital de Coimbra.
No final de uma visita a Santa Comba Dão, Marcelo Rebelo de Sousa diz-se “impressionado com a coragem das vítimas dos incêndios”.
O Presidente da República visitou todos os municípios afetados pelos fogos.
A 20 de outubro Marcelo Rebelo de Sousa visitará os feridos internados no Hospital de Viseu.
No final da visita, o Presidente da República afirmava ter ficado “animado” com a recuperação e com a vontade que demostravam em “seguir em frente”.
Por sua vez, os comandantes de várias corporações de bombeiros afirmam à RTP que estiveram sozinhos no terreno, sem qualquer apoio, na noite de domingo.
O comandante de Oliveira de Frades considera mesmo uma sorte não terem morrido mais pessoas nos incêndios. A cooperação de Oliveira de Frades conta com cerca de 60 operacionais.
“Quando chegavam aqui ao quartel os bombeiros que vinham da frente de combate estavam a chorar. Nós tínhamos de lhes dar ânimo para eles regressarem para o terreno”, afirmou Carla Farrede, bombeira de Oliveira de Frades que estava na central telefónica no dia dos incêndios.
“São poucos homens e nem que fossem o dobro ou o triplo conseguíamos fazer frente ou ter domínio”, afirmava Francisco Lina, comandante dos bombeiros de Santa Cruz de Trapa
“Nem SIRESP nem telemóvel, não tínhamos meios nenhuns para contactar os bombeiros. Tive alguma dificuldade e algum receio do que tivesse acontecido com algumas equipas, ao ponto de ter de me deslocar, mesmo passando pelas chamas, para ir ao encontro dos meus bombeiros que não sabia onde se encontravam”.
Ao final da tarde, a Proteção Civil confirma que os incêndios do fim-de-semana tinham provocado 44 mortos.
Uma pessoa que estava internada no Hospital de Coimbra não resistiu às queimaduras graves.
No mesmo dia, depois de visitar os concelhos de Nelas, Seia e Carregal do Sal, o Presidente recordou as responsabilidades que o cargo acarreta ao ter os “poderes mais elevados” do sistema político.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o cargo de Presidente da República tem o poder acrescido de ser o "último fusível de segurança do sistema". No entanto, são também esses poderes que lhe conferem uma responsabilidade acrescida de estar perto das populações e dos problemas.
No dia 21 de outubro, após um Conselho de Ministros extraordinário, o Governo revela que vai indemnizar os familiares das vítimas mortais. Foi aprovado um pacote de medidas de 328 milhões de euros para apoiar as vítimas dos incêndios. São 30 milhões de euros para a reconstrução de habitações e 100 milhões para reerguer as empresas destruídas. Há ainda fundos comunitários para apoiar investimentos nas zonas atingidas.
O Governo promete milhões de euros para prevenir e combater incêndios. Depois dos fogos que devastaram parte do país e provocaram vítimas, o Governo decidiu por em curso várias medidas.
Na área da Administração Interna, o Estado vai ser acionista do SIRESP e duplicar o número de redes móveis com ligação a satélite: passam de quatro para oito. Na área do Ambiente vão ser contratados mais 500 sapadores e está prometida a limpeza das linhas férreas e rodoviárias.
O movimento solidário envolve toda a comunidade de Santa Comba Dão, incluindo as crianças, que estão a ajudar na distribuição tal como pessoas que perderam tudo no incêndio da semana passada.
Muitas pessoas juntaram-se para entregar alimentos e roupa a quem precisa. Em Folgosinho, Gouveia, a população quer criar uma associação em defesa da floresta.
A mobilização da sociedade civil estende-se pelos concelhos afetados.
O especialista em incêndios florestais da Universidade de Coimbra, Xavier Viegas, refere em entrevista à Antena 1 que as medidas adotadas pelo Governo são, de modo geral, positivas.
Mas o especialista diz há poucas medidas dirigidas à população, principalmente nos meios rurais.
Xavier Viegas, um dos responsáveis de um estudo entregue ao Governo, salienta que a sociedade civil continua a ser ignorada e dá mesmo um exemplo da falta de envolvimento da população dos meios rurais.
“Fala-se de envolver mais recursos no combate e na defesa. Mas, não há uma única palavra a envolver essas populações. Que têm também capacidade e como se mostrou, as pessoas têm capacidade e sabem defender as suas próprias casas”.
A 23 de outubro, os clientes da PT/Altice afetados pelos incêndios da semana passada ficam a saber que não vão pagar a fatura de telecomunicações.
Esta isenção não é linear e só será atribuída dependendo dos prejuízos sofridos.
Lurdes Castanheira, autarca de Gois, ficou satisfeita com a informação e deu a conhecer à rádio pública a mensagem que recebeu.
As medidas anunciadas pelo Governo não satisfazem os peritos da Comissão Técnica Independente, que fizeram o relatório dos incêndios de Pedrógão Grande.
Os especialistas consideram que faltam medidas estruturais articuladas com o anunciado reforço de meios.
As seguradoras vão reforçar e estender o Fundo de Solidariedade criado para Pedrógão Grande aos familiares das vítimas dos incêndios deste mês. A Associação Portuguesa de Seguradores é recebida na manhã de dia 23 pelo primeiro-ministro, em São Bento, e refere que no caso de Pedrogão Grande a maioria dos assegurados receberam as quantias devidas em oito semanas.
O valor ainda não está fechado, mas deve rondar um milhão de euros. Os critérios vão ser iguais aos de Pedrógão
A Autoridade Nacional de Comunicações avança que a falta de limpeza dos terrenos contribuiu para a destruição das centrais de telecomunicações durante os incêndios.
A ANACOM recomenda agora ao Governo que implemente um conjunto de medidas para minimizar o impacto dos incêndios. Entre estas, a construção de cabos subterrâneos e a utilização de feixes de rádio.
A 24 de outubro morreu uma pessoa que estava internada no Hospital da Prelada, no Porto. Sobe para 45 o número de vítimas mortais.
Entretanto, o Governo garante que medidas contra incêndios não sacrificam recuperação dos rendimentos.
António Costa afirma que a recuperação dos rendimentos e o alívio fiscal se mantêm, apesar dos custos relacionados com a reforma do sistema de prevenção e combate aos incêndios.
Milhares de animais morreram nos fogos. Uma equipa de veterinários anda no terreno há mais de uma semana a salvar animais e a abater outros.
A repórter da RTP Lavínia Leal acompanhou os voluntários. A reportagem contém imagens que poderão ser consideradas chocantes.
No concelho de Oleiros, desde a primeira hora que o apoio psicológico tem estado a ser garantido pela autarquia.
Apesar de não ter havido vítimas mortais, a população perdeu quase tudo.
A 25 de outubro o primeiro-ministro anuncia 280 milhões de euros para reabilitar as empresas e as fábricas que os incêndios destruíram.
Entre verbas avançadas a fundo perdido e linhas de crédito, o primeiro-ministro deixou também soluções financeiras para quem ficou sem trabalho e sem vencimento devido aos fogos.
Em entrevista à RTP, Jean-Claude Juncker recorda que serão ativados os mecanismos de solidariedade para ajudar Portugal e Espanha na sequência dos incêndios. Promete ainda reforçar os mecanismos de proteção civil na União Europeia, criticando o elevado tempo de resposta.
“Os incêndios deflagraram num domingo e o primeiro avião europeu chegou na quarta-feira. Não é essa a Europa com que sonho”, garante. O presidente da Comissão Europeia assinalou ainda que um conhecido seu faleceu nos incêndios em Portugal, mostrando-se “ultra-sensibilizado face a tudo isso, mesmo a nível pessoal”.
A 26 de outubro, e ao contrário do que tinha acontecido uns meses antes em Pedrógão, a Proteção Civil divulga a lista das 45 vítimas mortais. Havia ainda duas pessoas desaparecidas, oriundas de Folgosinho (Guarda) e Sertã (Castelo Branco).
Oliveira do Hospital foi o concelho que registou o maior número de vítimas mortais: 12. Em Vouzela, faleceram seis pessoas. Entre as vítimas está ainda um cidadão estrangeiro, cuja identidade não foi divulgada a pedido da família.
A 29 de outubro, 15 dias depois dos graves incêndios, uma coluna com 41 viaturas, incluindo 14 camiões TIR e 24 carrinhas, segue em missão solidária a caminho do centro do país.
Mais de uma centena de pessoas partiram na última madrugada, de Esposende, para ajudar as vítimas dos concelhos afetados pelas chamas. O Grupo de Voluntários leva comida, mobílias e ração para os animais.
A 30 de outubro a Cáritas já tinha angariado cerca de 268 mil euros para apoiar a população afetada pelos incêndios deste mês.
A organização assume que os portugueses não estão a ser tão generosos como aconteceu nos fogos de Pedrógão Grande.
A 30 de outubro, na primeira entrevista após a tragédia, o primeiro-ministro admite que o Governo subestimou os riscos e que por isso houve uma carência de meios no combate aos incêndios de outubro.
António Costa afirmou na TVI que "não há crispação nenhuma “com o Presidente e que "seria uma perda para o país" se a boa relação institucional fosse afetada.
No mesmo dia sabe-se que o primeiro-ministro já escolheu as personalidades para o conselho que vai fixar os critérios a utilizar no cálculo das indemnizações a pagar às vítimas dos incêndios. O valor terá que ser divulgado no prazo de um mês.
São eles o juiz conselheiro Mário Mendes, indicado pelo Conselho Superior da Magistratura, o professor Joaquim Sousa Ribeiro, em representação do CRUP - Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas - e o professor Jorge Ferreira Sinde Monteiro, em representação da Associação de Vitimas do Incêndio de Pedrógão Grande.
Este conselho foi uma das medidas anunciada no Conselho de Ministros extraordinário de 21 de outubro, dedicado ao tema dos incêndios florestais deste verão, que causaram pelo menos 109 vítimas mortais.
A Associação Portuguesa de Seguradoras revela que os incêndios de 15 de outubro tiveram um custo dez vezes superiores a Pedrógão.
No entanto, a Associação Portuguesa de Seguradoras afirma que o setor tem capacidade para responder aos pedidos e espera resolver a maioria das situações em cerca de dois meses.
A 31 de outubro, o ministro da Saúde assina um protocolo com a União das Misericórdias Portuguesas para alargar o apoio psicológico aos cidadãos afetados pelos fogos.
Adalberto Campos Fernandes diz que não vai olhar a meios para dar as respostas necessárias às populações. Há ainda 44 pessoas internadas em vários hospitais do país.
A 2 de novembro, o primeiro-ministro afirmou que o Governo esta a preparar propostas para garantir a cobertura orçamental quer para o reforço de meios de prevenção e combate a incêndios, quer para a reconstrução.
"Estamos a fazer um esforço para que até dia 17 de novembro [prazo limite para a apresentação das alterações na especialidade] possamos ter aqui alterações que permitam responder a estas necessidades, quer de reforço de meios, quer de criação de melhores condições para os municípios poderem intervir na reconstrução dos próprios equipamentos e a ajudar a reanimar o tecido económico e social", anunciou.
A 6 de novembro, o Presidente da República pede rapidez às seguradoras das empresas afetadas pelos incêndios.
De visita a algumas unidades destruídas pelo fogo, na Tocha, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que só depois de isso estar resolvido podem ser ativados os fundos de apoio.
No dia seguinte, durante uma visita ao quartel de bombeiros de Vagos, o Presidente da República afirmaria que seria “preciso tirar lições do que correu mal”.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, ali, que "vale a pena reter as lições para o futuro para que nunca mais se repita" uma situação semelhante à vivida no dia 15 de outubro, mas preveniu que, três semanas depois da tragédia, está já "mais virado para o futuro do que para o passado".
Confrontado com as queixas dos bombeiros locais, que garantem "ter ficado abandonados no terreno" durante o combate ao incêndio que destruiu quatro mil hectares do concelho, o Chefe do Estado reconheceu que nem tudo correu bem.
"O cenário não esteve na cabeça de quem tinha de antecipar os factos", disse Marcelo, antecipando que já a partir da primavera do próximo ano o combate aos incêndios terá de ser feito com "melhores meios, mais preparados e com maior prevenção".
A 10 de novembro, dia em que a seleção de futebol jogou em Viseu numa partida solidária com a Arábia Saudita, soube-se que a tragédia de 15 de Outubro atingiu 15 distritos do país.
Em Viana do Castelo, por exemplo, arderam casas e empresas.