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16 de outubro: A madrugada negra e a esperança da chuva

por Cristina Sambado - RTP
Lusa

Durante a segunda-feira, 16 de outubro, o número de mortos na sequência dos incêndios continua a aumentar. Ao início da madrugada o Governo declara o estado de calamidade pública em todos os distritos a norte do Tejo. Ao início da manhã estavam ativos 65 fogos. A boa notícia chegava do IPMA, com a previsão de chuva.

À 1h00 de segunda-feira, 16 de outubro, o número de mortos é atualizado para quatro. Na A25, um condutor morreu num acidente automóvel quando tentava fugir das chamas.

Em direto na RTP 3, o Comandante dos Bombeiros de Oliveira de Frades confirmou que uma pessoa morreu na A25 quando tentava escapar às chamas.

O comandante dos Bombeiros afirmava que a situação "é muito grave. Nós precisamos da máxima ajuda possível. É a calamidade".

Meia hora depois, era divulgada mais uma vítima mortal. Uma pessoa tinha morrido em Oliveira do Hospital. Elevando para cinco o número de mortos.

Depois de ter falhado em junho nos incêndios de Pedrógão Grande, o SIRESP volta a falhar. Patrícia Gaspar, adjunta de operações da Autoridade Nacional de Proteção Civil, confirma que a rede de comunicações de emergência regista "falhas em Viseu, Aveiro e Leiria, que estão a ter impactos nas operações".

"Têm sido intermitências, as falhas não são generalizadas", especificou.

Às 2h00 a Proteção Civil registava 26 incêndios “importantes”.

Em Oliveira do Hospital, várias habitações foram destruídas pelas chamas.

Depois de uma reunião de emergência na sede da Proteção Civil, António Costa declarou o estado de calamidade pública em todos os distritos a norte do Tejo.

“Tivemos no dia de hoje temperaturas que não têm correspondência com o que é normal para esta época do ano e com ventos muito fortes. E isso gerou uma capacidade de propagação dos incêndios”, acrescentou.


Durante o dia de domingo foram vários os autarcas que sublinharam que faltavam bombeiros, uma crítica desvalorizada pelo primeiro-ministro que recordou o número de ocorrências registadas. “Quanto temos 523 fogos é evidente que não há bombeiros para ocorrer a todas as situações”.

“Este é o 22.º dia com maior número de ocorrências desde o princípio do século”, esclareceu.

Já durante a madrugada foi confirmada uma sexta vítima mortal, uma pessoas que estava dada como desaparecida em Nelas, distrito de Viseu.
36 distritos em risco máximo de incêndio
Às 8h00, o IPMA colocava 36 distritos em risco máximo de incêndio. Ao início da manhã estavam ativos 65 fogos, combatidos por quase seis mil operacionais. Por outro lado, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera previa o regresso da chuva.

O IPMA colocava os distritos de Portalegre, Leiria, Santarém, Coimbra, Castelo Branco, Guarda, Aveiro, Viseu, Porto, Bragança, Braga e Viana do Castelo sob `aviso amarelo` devido à previsão de chuva, podendo ser por vezes forte e acompanhadas por trovoada.

Nessa segunda-feira, voltavam a circular vários apelos a pedir a demissão da ministra da Administração Interna. No entanto, António Costa reafirmava a confiança em Constança Urbano de Sousa e afastava o cenário de demissão.

Durante a manhã, começam a surgir vários balanços da situação vivida durante a madrugada. No concelho de Viseu, várias aldeias tinham sido evacuadas na sequência dos incêndios que não davam tréguas. A autarquia acionou o plano municipal de emergência. Em Vagos, as escolas e as creches não abriram.

O incêndio de Monção, que tinha começado às 20h20 de sábado, foi dado como controlado cerca das 8h20.

Ao início da manhã, o presidente da Câmara de Vouzela anunciava que quatro pessoas tinham perdido a vida e que “cerca de 80 por cento do concelho” tinha ardido.

“As quatro vítimas mortais são todas da aldeia de Ventosa, tendo três delas sido encontradas dentro de suas casas e uma delas na via pública”, afirmava Rui Ladeira.

Os incêndios que lavravam no país desde sábado, levou o Sindicato dos Médicos a suspender a greve que tinha agendada para dia 18.

Em declarações à Antena 1, Jaime Marta Soares, presidente da Liga Portuguesa de Bombeiros, fala de uma "organização terrorista" que está a provocar os incêndios em Portugal.


Jaime Marta Soares diz que houve uma má avaliação das condições existentes no terreno e na forma como as condições climatéricas se estão a desenrolar.

Às 11h00 a Proteção Civil confirma que os incêndios provocaram 27 mortos e 51 feridos. Quinze dos feridos encontram-se em estado grave. Das vítimas mortais, 16 são do distrito de Viseu, dez do distrito de Coimbra, uma na Guarda e outra em Castelo Branco.

Na altura, estavam ativos 145 incêndios, 32 dos quais classificados como de importância elevada. No entanto, Patrícia Gaspar frisa que os “números não são finais” e que o “números de ocorrências não são aceitáveis”.

“Não seria sensato fechar este balanço, vamos ter de esperar pelas próximas horas”, afirmou.

A meio da manhã, no distrito da Guarda, estava ativos 13 incêndios. O combate às chamas era dificultado pelas várias frentes.

O comandante dos Bombeiros Voluntários da Guarda falava em oito frentes, quatro delas com muita intensidade, uma dessas frentes é na freguesia do Jermelo, onde o repórter da RTP, Jorge Esteves, constatou que a EN13 está cortada ao trânsito.

Durante a noite, a aldeia de Almeidinha esteve totalmente rodeada pelas chamas.

Em Monção, a descida da temperatura deu uma ajuda no combate às chamas e as autoridades davam a situação como controlada.

Mais de 20 freguesias, das 33 que compõem o concelho, estiveram ameaçadas pelas chamas. Várias casas arderam.

A ministra da Administração Interna fala em “mão criminosa”, mas também “mão negligente”.

"Tivemos muitas ocorrências, imensas ignições que não surgem do nada", afirmou, considerando que não foram necessariamente provocadas por mão criminosa mas por "mão negligente".

Constança Urbano de Sousa indicou que há "pessoas que fazem queimadas quando é absolutamente proibido fazê-las, depois fogem do controlo, o país está em seca extrema" e houve "ventos fortíssimos, muito por influência do furacão Ofélia", que passou junto aos Açores.

Urbano de Sousa voltou a afastar a possibilidade de apresentar a demissão e afirmou que “não é numa altura difícil que as pessoas abandonam o barco”.

"Para mim seria mais fácil, pessoalmente, ir-me embora e ter as férias que não tive, mas agora não é altura de demissões", frisou a ministra.

Na sequência dos incêndios, o Presidente da República cancelou toda a agenda até dia 18. Marcelo Rebelo de Sousa anuncia que vai visitar todos os concelhos afetados no final dessa semana. Também o primeiro-ministro cancelou a agenda prevista para esse dia.

A Cáritas disponibiliza 150 mil euros para “as necessidades mais urgentes” das pessoas e famílias afetadas.

Entretanto, a Proteção Civil volta a atualizar o número de vítimas. O novo balanço aponta para 29 mortos e três desaparecidos.

Poucos minutos depois, um novo balanço aponta para 31 mortos.

Em Oliveira do Hospital, o presidente da Câmara confirmou que morreram oito pessoas e mais de 100 ficaram feridas.

No concelho arderam mais de 100 casas de primeira habitação. Durante a noite centenas de pessoas passaram a noite no pavilhão municipal. O autarca fala ainda de um grande prejuízo para as empresas da região. “Perto de quatro centenas de postos de trabalho perderam-se”. Poucas horas depois é confirmado.

O Hospital de Viseu recebeu 25 doentes queimados, 14 dos quais foram encaminhados para outras unidades de saúde. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado da Saúde.

Há ainda muitas pessoas a acorrer aos serviços hospitalares devido a patologias respiratórias relacionadas muitas vezes com a inalação de fumos decorrentes dos incêndios.

Nas zonas mais afetadas pelos incêndios, a EDP colocou geradores e centrais móveis.

Ao início da tarde, as atenções centravam-se no concelho da Guarda, onde as chamas continuavam a lavrar com grande intensidade. Os bombeiros falavam em oito frentes de fogo, quatro das quais com muita intensidade.

A reportagem da RTP deu conta do esforço dos bombeiros para evitar que as chamas atravessassem a estrada nacional, aproximando-se da A25.

O incêndio no concelho de Penacova, que provocou duas mortes, estava circunscrito ao início da tarde. "Neste momento, podemos considerar que o fogo está circunscrito", mas continuam a registar-se "diversas reativações, dando muito trabalho" aos meios que se mantêm no terreno, afirma a vereadora Câmara Municipal de Penacova, Fernanda Veiga.



A Direção Geral de Saúde recomenda à população que deve evitar a exposição ao fumo dos incêndios florestais, mantendo-se dentro de casa com janelas e portas fechadas, em ambiente fresco.

Em Oleiros, arderam 40 casas, muitas delas de primeira habitação.
Em Álvaro, uma das aldeias de xisto da zona, as chamas consumiram algumas habitações.

Às 14h00, 12 estradas continuavam cortadas, a maioria no centro do país.

Os incêndios destes dois dias reduziram a cinzas a quase totalidade do Pinhal de Leiria. As chamas consumiram cerca de 80 por cento da mata nacional.

Durante a noite, várias habitações arderam e várias localidades foram evacuadas. Um dos habitantes afirmava à RTP que tinha sido uma “noite infernal”.

Marcelo Rebelo de Sousa pede “atos e não palavras”.

Em comunicado, o Presidente da República diz que "tal como ontem" está a "acompanhar a situação dos incêndios em todo o Continente". O Chefe de Estado espera a rápida estabilização dos fogos e o balanço da tragédia, e falará depois ao País, bem como irá visitar, ao longo dos dias seguintes, as principais áreas ardidas.

Marcelo recorda ainda as palavras que proferiu no sábado em Pedrógão Grande, véspera desta nova tragédia, apelando a uma mudança de ponto de vista, traduzida em atos e não em palavras. O que acabou de suceder só dá razão acrescida à sua intervenção de sábado passado."

Às 15h45, mais de cinco mil bombeiros e três meios aéreos combatiam 141 incêndios.

À mesma hora, a Proteção Civil contava 15 ocorrências importantes: cinco no distrito da Guarda, quatro no distrito de Coimbra, três em Viseu, uma em Leiria, uma em Castelo Branco e outra em Aveiro.

Meia hora depois, a Proteção Civil afirmava que dos 50 incêndios ativos, 31 dos quais classificados como “ocorrência de importância elevada”, apenas dois estavam a ceder.

Devido às condições meteorológicas, apenas dois meios aéreos estavam a operar.

O “ar irrespirável” levou a Câmara de Vila Pouca de Aguiar a encerrar as escolas do concelho a meio da tarde.

O Governo prolongou a situação de calamidade pública até às 0h00 de quarta-feira (18 de outubro). A declaração de calamidade pública determina a "adoção imediata de medidas que permitam disponibilizar recursos adicionais para ações de proteção civil" em 13 distritos do norte e centro do país: Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Lisboa, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu.

Segundo o despacho assinado pelo primeiro-ministro e pela ministra da Administração Interna, a declaração de calamidade determina a "elevação do grau de prontidão e resposta operacional da GNR e PSP, com reforço de meios para operações de vigilância, fiscalização, patrulhamento dissuasores, apoio a evacuações, cortes e desvios de trânsito".

Para tal, os elementos da GNR e PSP estão proibidos de gozar férias, folgas ou períodos de descanso.

Às 17h35 a Proteção Civil volta a atualizar o número de vítimas mortais. Sobe para 35 o número de mortos. Há ainda a registar sete desaparecidos.

São mais três vítimas mortais em relação ao balanço anterior. Foram encontradas em Albitelhe (Vouzela, Viseu), São Joaninho (Santa Comba Dão, Viseu) e Couço (Oliveira de Frades, Viseu). Menos de uma hora depois, é confirmado o óbito de um ferido que estava internado no Hospital de Viseu.

O Governo decreta três dias de luto nacional, entre terça e quinta-feira (17 e 19 de outubro), como forma de pesar e solidariedade pelas vítimas dos incêndios.

Pouco antes das 20h00, numa nova atualização, a Proteção Civil confirma que o número de mortos voltou a subir. Eram então 38 as vítimas mortais dos incêndios. Havia ainda a registar 63 feridos, 16 em estado grave e sete desaparecidos. O alerta vermelho é prolongado até às 20h00 de terça-feira.

Às 20h00 o primeiro-ministro, numa declaração ao país, afirma que o “combate aos incêndios é a prioridade” e garante que “todos os meios de combate aos incêndios foram disponibilizados”.

António Costa informa que o Governo vai reunir-se em "Conselho de Ministros extraordinário no sábado para adotar as medidas da comissão independente aos incêndios". "Este é um esforço participado e coletivo de toda a sociedade porque só assim estaremos à altura da exigência que todos partilhamos. Depois deste ano nada pode ficar como antes". "Esperamos que as conclusões da Comissão Técnica Independente sejam terreno fértil para um consenso alargado em torno das medidas a tomar", afirmou.

Na mesma declaração, António Costa volta a rejeitar a possibilidade de demissão imediata da ministra da Administração Interna. “É tempo de passar das palavras aos atos. Não é um tempo de demissões, é um tempo de soluções”, reitera.

“O dia de ontem foi um dia terrível, mas foi um dia onde o nosso sistema de Proteção Civil teve de responder a mais de 500 ocorrências, onde houve inúmeras perdas de vidas humanas, decidida pelo conjunto dessas várias ocorrências”, continuou o primeiro-ministro.

O Ministério Público instaura inquéritos autónomos nos departamentos de Investigação e Ação Penal das comarcas onde ocorreram os incêndios registados desde domingo.

“Na sequência das comunicações recebidas até ao momento, foram instaurados inquéritos nos DIAP das comarcas onde ocorreram os incêndios”, refere uma resposta escrita da PGR à agência Lusa.

Durante a noite a aldeia de Cabanões, na Lousã, foi evacuada. As chamas estiveram às portas da povoação.

As cerca de 20 pessoas que vivem na localidade foram alojadas noutros locais pela Câmara Municipal.
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