1º programa de reprodução de gato bravo em Portugal começa em 2007

por Agência LUSA

O gato bravo, espécie felina em vias de extinção no mundo, vai pela primeira vez em Portugal ter um programa de reprodução em cativeiro a partir de 2007 num jardim zoológico de Monchique, no Algarve.

O jardim zoológico Ómega Parque, localizado em Monchique, é a infra-estrutura que vai receber a partir do próximo ano 12 gatos bravos, um número mínimo para garantir a diversidade genética, explicou hoje à agência Lusa o biólogo Miguel Rodrigues, elemento da Organização Não Governamental (ONG) SOS Lince.

A SOS Lince é a única ONG do mundo que se dedica à causa dos dois felinos selvagens ibéricos em vias de extinção - lince e gato bravo.

O início do programa de reprodução em cativeiro do gato bravo arranca este sábado em Monchique, com a assinatura de um protocolo entre o Parque Ómega e a SOS Lince.

As duas entidades vão unir esforços para que até 2007 se consiga construir uma infra-estrutura o "mais semelhante possível ao habitat natural do gato ibérico", ou seja, com o mínimo contacto com o ser humano, explicou Miguel Rodrigues.

O primeiro objectivo da construção deste cativeiro é ajudar a salvar o gato bravo, um felino esquivo e nocturno com menores dimensões que o lince ibérico, mas maiores que os gatos domésticos, pois têm uma cabeça mais maciça e uma cauda mais espessa e podem atingir os três quilos de peso.

O gato bravo não está tão ameaçado como o lince ibérico - que tem também um programa de reprodução em cativeiro no Parque Doñana (Andaluzia Espanha) - mas "tem falta de alimento, de habitat natural" e "há sérios riscos de hibridação com o gato doméstico", adiantou o biólogo da SOS Lince.

Segundo Miguel Rodrigues, os coelhos são uma das fontes de alimento preferidas para os gatos bravos e os linces, mas também aquele herbívoro está a desaparecer devido a doenças.

Trazer o lince ibérico para o programa de reprodução em cativeiro no Algarve é um objectivo da SOS Lince e do jardim zoológico de Monchique, mas mais a longo prazo.

"Quando existirem linces ibéricos disponíveis no parque Donaña, poderemos ter alguns exemplares em cativeiro em Portugal", afirmou o especialista.

Em 2005 nasceram três crias de linces ibéricos no Parque Nacional Doñana - só dois sobreviveram (um macho e uma fêmea), lembrou.

"Pela primeira vez na história da espécie do lince ibérico, nasceram exemplares em cativeiro", observou Miguel Rodrigues.

O lince ibérico mede cerca de um metro de comprimento e 70 centímetros de altura no estado adulto e pesa entre 12 a 15 quilos - as fêmeas podem ir dos oito aos dez quilos.

O animal, de olhos amarelados e brilhantes, pintas e tufos nas orelhas e cauda curta, define-se também por nunca ter atacado um ser humano e satisfazer a fome com um coelho por dia.

O lince ibérico percorre todo o barrocal algarvio, mas as serras de Monchique e Caldeirão e a região Vila do Bispo são as zonas classificadas de "ocupação efectiva" da espécie, disse à Lusa a bióloga Ana Fernandes, da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) do Algarve.

O projecto de reprodução em cativeiro de gatos bravos em Portugal conta com o apoio científico da directora de reprodução do lince em Espanha, Astrid Vargas, e será conduzido em conjunto com o Instituto de Conservação da Natureza (ICN).

No início, o programa de reprodução de gatos bravos em Portugal vai ser fundado com 12 animais - feridos ou crias doentes que na natureza não sobreviveriam.

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