O campeão em título Amaro Antunes recuperou hoje a ‘sua’ amarela, no regresso da W52-FC Porto ao seu passado recente, numa oitava etapa da Volta a Portugal em que o ciclista norte-americano Kyle Murphy 'bisou'.
“[A amarela] era o objetivo. Foi com esse objetivo que eu e a equipa viemos para a Volta a Portugal. Esta camisola, tenho vindo a dizer, dá uma força extra e, de facto, cheguei lá. Tenho-a em minha posse. A equipa hoje mostrou o verdadeiro ADN do FC Porto, fizemos uma corrida, na minha opinião, perfeita. Estamos na frente, estamos de amarelo e faltam dois dias duros, mas que iremos encarar com foco e muito querer”, declarou, depois de subir ao pódio.
Esperava-se muito da primeira de três etapas decisivas, mas o Larouco ‘pariu um rato’, com as diferenças entre os candidatos à geral a contarem-se em segundos, num dia em que a W52-FC Porto voltou às suas raízes, sem o sucesso de outros tempos.
A fórmula (desinteressante) das três etapas anteriores repetiu-se hoje nos 160,7 quilómetros entre Bragança e o ponto mais alto de Montalegre: uma sucessão de ataques desembocou em nova fuga numerosa, integrada, entre outros, por Henrique Casimiro (Kelly-Simoldes-UDO), o 15.º da geral, e o seu companheiro Luís Gomes, em busca da camisola dos pontos, assim como Bruno Silva (Antarte-Feirense), o líder da classificação da montanha, e aquele que haveria de ‘bisar’ nesta edição, o norte-americano Kyle Murphy.
Sem elementos entre os fugitivos, a W52-FC Porto e a Efapel lançaram, respetivamente, Daniel Mestre e André Cardoso para tentar alcançar a frente da corrida, uma tentativa infrutífera que manteria a fuga restrita aos 18 elementos iniciais, com uma vantagem que nunca superou os cinco minutos.
No início da escalada a Torneiros, uma subida de quase cinco quilómetros de extensão, catalogada como de primeira categoria, a W52-FC Porto assomou em força à dianteira do pelotão, repetindo a tática tão bem sucedida nas edições anteriores.
O ritmo violento imposto pelos ‘dragões’ ‘rebentou’ o pelotão – Rafael Reis (Efapel) perdeu a amarela aí -, mas também os próprios, deixando João Rodrigues e Joni Brandão como escudeiros únicos de Amaro Antunes, a mais de 30 quilómetros para a meta e ainda com o Larouco para escalar.
Com o campeão de 2019 a abdicar, novamente, das suas aspirações individuais em nome da W52-FC Porto – houve até um momento em que gritou a Brandão para trabalhar, quando estava a atravessar maiores dificuldades -, o grupo de candidatos chegou ao início da subida em versão reduzida, integrando ainda Figueiredo, Mauricio Moreira e António Carvalho, os inevitáveis Efapel, mas também Marque e o líder da juventude, Abner González.
No sopé do Larouco, os últimos resistentes da fuga dispunham de uma margem superior a dois minutos, suficiente para o valoroso Murphy, que atacou a quatro quilómetros do alto, cortar a meta isolado, com o tempo de 04:12.06 horas, 13 segundos antes do espanhol José Parra (Kern Pharma). Casimiro foi terceiro, a 25 segundos, mas ‘recebeu’ como prémio de consolação a entrada no ‘top 5’ – está a 57 segundos da amarela.
Mas a vitória de Murphy, que até esta Volta não sabia o que era ganhar e, agora, tem dois triunfos no palmarés, foi ainda assim um mero pormenor num enredo muito mais interessante: o Larouco desvendou o que já se sabia e, hoje, ficou provado que, apesar das promessas do início da temporada, Brandão só trabalha para Brandão.
O ‘portista’ até puxou no grupo, depois de acelerar a dois quilómetros da meta com Antunes na roda para fazer descolar António Carvalho, cada vez menos líder da Efapel – é nono a 02.15 minutos – e González, com o seu ritmo a deixar Marque em dificuldades (perdeu 19 segundos para o novo camisola), mas acabou mesmo por atacar, para roubar dois segundos ao seu colega na meta e colocar-se na sexta posição da geral, a 58.
A atitude de Brandão, que passou longos quilómetros no último lugar do grupo dos favoritos enquanto Rodrigues deixava ‘a pele’ na estrada pelo seu ‘vizinho’ algarvio, desagradou a Antunes, que, num primeiro momento, evitou um abraço do seu companheiro, que lhe ia dizendo ‘o que interessa, estamos à frente ou não?’, antes de, ciente da presença de jornalistas, aceitar, finalmente, o cumprimento.
Sim, Antunes está de amarelo, mas, depois de uma oitava etapa em que a sua equipa se desgastou mais do que qualquer outra, tem apenas 14 segundos de vantagem sobre Marque, um dos maiores especialistas da luta contra o cronómetro no pelotão nacional, e 50 sobre Mauricio Moreira (Efapel), o quarto classificado que hoje voltou a atacar nos derradeiros metros para recuperar mais seis segundos em relação ao líder da geral.
A dois dias do final da 82.ª edição, e com a nona etapa a ligar Boticas e ao alto da Senhora de Graça (Mondim de Basto), no total de 145,5 quilómetros, o pódio parece entregue aos seis primeiros da geral.