Petição e carta aberta à FPA revelam indignação por futura "licença" paga para se poder correr

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Miguel A Amutio - Unsplash

Revolta, indignação, uma petição pública, promessas de desistência nas provas de atletismo, bem como uma carta aberta ao presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), são algumas das reações que hoje invadiram as redes sociais, face ao anúncio da FPA da criação de uma "licença" para se poder participar em provas de atletismo.

A Federação Portuguesa de Atletismo fez saber que partir da época 2025/26 todas as provas de atletismo em Portugal têm de estar legalizadas e a totalidade dos seus participantes precisa de estar licenciada pela federação, com um custo limite de 35 euros por época.

Domingos Castro, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), em declarações à Lusa, refere que “há uma quantidade de provas que não são legais” e querem legalizar todas e certificá-las. “Dar-lhes o devido valor”, explicou.

Uma notícia que não caiu bem para o lado de algumas associações e atletas que alegam que esta “licença” não é mais do que uma forma da Federação ganhar dinheiro e com isto afastar muitos participantes desta modalidade desportiva.

Nas últimas horas as redes sociais foram inundadas por muitos comentários e críticas, tendo surgido uma petição pública, que pede a revogação desta licença obrigatória nas competições de atletismo.

Os subescritores da petição falam “numa barreira económica injustificada à prática desportiva, contrariando princípios constitucionais e legais que regem o acesso ao desporto em Portugal, nomeadamente os consagrados na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro).” Uma petição que conta já com mais de 5900 assinaturas.

Também contra esta medida da FPA, Paulo Costa, que se apresenta como um cidadão promotor desta modalidade amadora, desde 2006, enviou uma “carta aberta” ao presidente da Federação portuguesa de atletismo, Domingos Castro, referindo para que este “tenha vergonha” por tal iniciativa, pedido “em nome do povo e atletas” para que se retratasse e recuasse na medida.

“Em nome desse povo, dessa multidão anónima de atletas amadores, gente que corre porque ama correr, porque persegue saúde, dignidade, superação, que hoje lhe escrevo. Não para lhe pedir nada. Mas para lhe dizer, com toda a frontalidade e nobreza de que sou capaz: Tenha vergonha.” – pode ler-se na carta aberta enviada.

Nesta mesma carta, Paulo Costa, recorda o presidente Domingos Castro que ainda é lembrado como “grande na pista”, mas “agora diminuto na liderança. Um bom atleta, sim!, mas que gestor é V. Exa.?”, pergunta. “Ainda vai a tempo de não ser recordado como o homem que, tendo sido herói na pista, se tornou vilão na secretaria”, reforça na carta enviada à FPA.

o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Domingos Castro, afirma que a FPA “nada está a inventar, pois isso é o que se faz lá fora”, com todos os corredores a precisar de uma licença para participar em competições, recordando que os 25.000 federados “já pagam isso aquando da inscrição”.

Eleito presidente da FPA em outubro do ano passado, Domingos Castro refere que a marca atletismo “promove muitos negócios por todo o país”, pelo que entende que a modalidade deve beneficiar também com isso. Ainda assim, garantiu que não quer “mexer com o rendimento” dos organizadores.

“Alguns não gostaram muita da ideia, mas não vamos mexer com o seu dinheiro. Rigorosamente nada. O que vão ter de pagar é as licenças dos pareceres e a legalização das provas”, esclareceu, prometendo para breve uma reunião com estes agentes para que as partes cheguem a um “entendimento bom para todos, sobretudo para a modalidade”.

Caso esta medida avance, cada atleta não federado vai ter de pagar um valor que será de três ou quatro euros por cada prova em que participe ou então 35 euros anuais. E neste caso tendo direito a “vantagens muito superiores a esse investimento”, refere Domingos Castro.
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