De coração tomarense, sem nunca esquecer as raízes, o crescimento no judo da possível futura jornalista Patrícia Sampaio sempre foi uma certeza, desde os tempos em que liderou as categorias mais jovens na modalidade.
Conquistas que a catapultaram entre 2017 e 2019 para a liderança nas categorias mais jovens, mas com uma vida que se começava a dividir entre Tomar e Lisboa, numa lufa-lufa entre treinos na Sociedade Filarmónica Gualdim Pais e o curso de Comunicação social.
Em Lisboa, Patrícia Sampaio apostava no treino no Centro de Alto Rendimento e no apoio do Judo Clube de Lisboa, nos momentos em que não ia ter com o irmão, treinador e ídolo, Igor, à sociedade tomarense, numa cave quase sem luz, ilustrada com uma moldura do fundador do judo mundial, Jigoro Kano.
“Tenho uma ligação emocional a este clube [Sociedade Gualdim Pais] e, claro, também passa pelo facto de o meu irmão ser meu treinador, há uma proximidade diferente, que nem toda a gente tem a sorte de ter. Sinto-me muito bem aqui, cresci aqui…”, disse à agência Lusa em 2019.
Os primeiros resultados prometeram, até Sampaio chegar a lutar, aos 20 anos, pela primeira medalha num Campeonato do Mundo, em 2019, em Tóquio, mas a ficar então à beira do pódio, derrotada pela brasileira Mayra Aguiar, que sempre considerou uma referência.
Resultados que demonstravam um potencial sério de Patrícia Sampaio, que nesse mesmo ano ainda foi medalha de bronze nos Mundiais de juniores.
A afirmação em seniores começou pouco depois, no ano seguinte, de 2020, ma foi também quando surgiram os primeiros contratempos físicos, já depois de medalhar no início de 2020 em provas do circuito internacional (Telavive e Düsseldorf).
Uma grave lesão, fratura com luxação na perna direita, em outubro de 2020, afastou-a dos tatamis, com um regresso apenas em abril de 2021, nos Europeus em Lisboa, onde se voltou a lesionar, desta vez com uma microrrotura muscular.
Uma ‘maré’ de azar que a tirou de competição e que, talvez, por isso a judoca vá afirmando a necessidade de se ‘reinventar’ uma e outra vez.
“A necessidade de nos reinventarmos constantemente e aprendermos mais e melhor, a resiliência que adquirimos ao superar obstáculos e a sensação que advém disso”, disse Sampaio em declarações ao Comité Olímpico de Portugal, e em relação ao que mais gosta no judo.
Um espírito que a levou novamente a transcender-se em maio de 2022, quando, nos Europeus, em Sófia, gritou de dor ao lesionar o ombro direito e foi obrigada a desistir da competição, em que lutava por um lugar na final.
Uma lesão que a forçou a nova paragem prolongada, mas a tomarense foi buscar a tal resiliência e matéria que faz os campeões para renascer, qual fénix, em 2023, com a medalha de ouro a abrir o circuito: no Grand Prix de Almada.
Foi um ano de apuramento olímpico que trouxe muitas medalhas à judoca, nos Grand Slam (Telavive, Tashkent, Antália, Barysy, Ulaanbaatar) e o primeiro bronze num Europeu, em novembro em Montpellier.
Proezas acompanhadas de perto, lado a lado na seleção, por Marco Morais, o selecionador que ‘reeditou’ com a judoca uma ligação especial que já tinha na formação e, tal como o irmão, com boa quota-parte no seu sucesso.
Em Paris, Patrícia só não foi cabeça de série, um objetivo que tinha para evitar alguma ‘elite’, mas o contexto mais adverso não a impediu de ‘limpar’ quase tudo o que lhe apareceu pela frente, 'unstoppable' [imparável] como a sua música preferida.