OLÍMPICOS - CRÓNICA DE BASTIDORES "Dia de ou(t)ro mundo"

por João Pedro Silva - RTP

Quando me falarem no dia 5 de agosto de 2021 vou lembrar-me de tudo, ao mais ínfimo pormenor. O João Pedro Mendonça na véspera: "JP vais ao Pichardo na quinta feira, vai dar medalha". Acordei como se fosse eu o candidato à mesma. Que estranha e boa sensação.

Coloquei o “equipamento” e lá fomos.

20 minutos de estrada pelo asfalto gigante e silencioso de Tóquio.

A caminho do estádio olímpico pensei:

E se subisse ao “pódio” da RTP e dissesse que um português tinha feito sorrir milhares!? Milhões!?

Respirei fundo. Fizeram o mesmo o Paulo Maio Gomes. A Fátima Andrade. O Luís Vilar. Uma parte da “nossa” equipa ali tão perto de um momento universal.

 Quatro da madrugada em Portugal. 11 da manhã no calor tórrido e húmido do Japão. A sauna estava a ter início. A par da final.

E o Pichardo lá em baixo a soltar as asas e a espantar a concorrência. Que classe.

Caramba. Dois triplos seguidos com a mesma marca. Ali de pé olhava uma e outra vez.
Até parece fácil voar em Tóquio.

O sonho tomava a forma de obra de arte.

17.98. Podem repetir? 17.98!!!!!

Meio dia e 20. Ainda mais calor. E a certeza épica.

Naquele tartan, naquela manhã, vimos um triplo feito: dois recordes batidos, nacional e melhor marca do ano e, que bom escrevê-lo, o tão desejado OURO.

O meu olhar colou se à bandeira de Portugal.

O Pedro Pablo Pichardo pôs às costas o mapa do nosso orgulho. Todos nós estávamos ali colados a ele.

Sei que naquele instante eu também tinha concretizado um sonho de criança.

Vi o Carlos Lopes na RTP, vi a Rosa Mota no mesmo ecrã, vi a Fernanda Ribeiro, vi o Nelson Évora.

Num relâmpago de uma vida, tinha ali à minha frente o quinto português medalha de ouro. Quinto! Que privilégio. Que honra.

A 6 mil km de distância e colado ao meu ouvido a voz do Manuel Fernandes Silva da régie:
“É ouro João, é nosso!!!”

Na entrevista de uma carreira, tive o atleta mais tranquilo da vida ali à minha frente.

Respondeu a tudo. Também pausadamente. Tal e qual da mesma forma como tinha deixado os adversários a léguas. Sem stresses.

Pena só não ter aquele estádio repleto. Para ouvir os aplausos tão merecidos num dia estratosférico. E Histórico.

Mais tarde a entrega da medalha. Tocou o hino. Que arrepio na espinha. É transcendente.

Na zona mista, a segunda parte do nosso enorme contentamento vinha ao meu encontro.
De Pedro para Pedro disse lhe :

“Mostre nos lá o ouro”.

E ele, esboçando um ligeiro sorriso, como a foto tirada por mim documenta, lá exibiu a medalha na casa de milhões, via RTP.

Saí daquele estádio com o pódio debaixo do braço. E levei os todos comigo:

O Carlos, a Rosa, a Fernanda, o Nélson e agora o Pichardo. 5 grandes nomes!

Já pensaram nos anéis olímpicos? São 5 !

Estes, só nossos, estão entrelaçados no Ouro.

Aconteceu de novo.

E foi, imagine se, num dia 5 em Tóquio.

Uma quinta-feira.
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