Crónica de bastidores. Pimenta e Constantino na hora do adeus

por João Miguel Nunes - RTP (enviado especial a Paris)

Estou sentado na zona de embarque, ao lado da Marta Beja - a nossa produtora - e enquanto espero pelo avião passam pela minha cabeça os momentos mais marcantes dos Jogos Olímpicos.

É claro que me lembro das quatro medalhas conquistadas, da felicidade de cada subida ao pódio, mas não me sai igualmente do pensamento o momento em que Fernando Pimenta desabou.

O canoísta viveu, certamente, um dos momentos mais duros de uma carreia recheada de medalhas. Já ganhou tanto, podia até relativizar, mas não: chorava compulsivamente como uma criança.

Custou olhar para tanto sofrimento, mas na altura pensei: "Como é possível viver tão apaixonadamente o que se faz? Como é possível querer tanto que caímos sem rede?".

Só alguém superlativo a nível físico e mental pode lidar com a alta competição e ganhar tantas medalhas.

Só a vontade, só a crença podem mover alguém que já não precisa de provar nada. A elite alimenta-se da superação, da insatisfação constante.

Na hora da tristeza, cerrou as lágrimas, respirou fundo e veio falar com a honestidade que o caracteriza. Deu a cara, disse que sentia que falhou. Foi transparente, não esteve com desculpas, e deixou um obrigado aos portugueses.

No fim, ainda teve a humildade de agrader aos jornalistas por terem esperado e pediu desculpa pelo tempo que tivemos de esperar.

Creio ser necessária uma grandeza quase inatingível para ter este discurso e comportamento no auge da desilusão e dor.

Deve ser também por isso que ganhou tanto.

O nosso avião chama e o do Pimenta também. Primeiro o do regresso a Portugal, depois o que o levará até a nova conquista. Acredito que não tardará.

A terminar esta crónica, uma nota para José Manuel Constantino. Cumpriu a sua missão de forma heróica até ao fim! Parte com o melhor resultado de sempre de uma missão portuguesa em Jogos Olímpicos. Que justa homenagem poética.
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