Ana Catarina Monteiro despede-se do alto rendimento

por Lusa
Ana Catarina Monteiro diz adeus à alta competição José Coelho - Lusa

Ana Catarina Monteiro, única mulher portuguesa numa meia-final na natação em Jogos Olímpicos, despediu-se em 2024 do alto rendimento, deixando um recorde nacional e dezenas de marcas históricas na modalidade.

Era um momento do qual tinha muito medo, este final de carreira, e acabei por sofrer muito com isso nos últimos dois anos. Se calhar, deixei de desfrutar e aproveitar algumas coisas com o medo de aproximar do acabar. Agora que acabei, esta fase final foi muito mais tranquila e consegui vivê-la muito melhor do que nos dois anos que antecederam esta fase”, conta Monteiro, em entrevista à Lusa.

O 11.º lugar em Tóquio2020, nos 200 metros mariposa, a sua distância predileta e em que é recordista nacional (2.08,03 minutos, em 2018), foi o ponto mais notório da carreira, como única mulher a chegar a uma meia-final em Jogos Olímpicos, mas há muitos outros destaques.

A vila-condense logrou duas medalhas de prata em duas edições diferentes de Jogos do Mediterrâneo, competiu na International Swim League, a única lusa a fazê-lo, e foi quinta nos Europeus Glasgow2018, vivendo, aos 31 anos, uma nova fase, política, da vida, como vereadora na Câmara de Vila do Conde, em fevereiro, deixando o alto rendimento em 14 de julho.

Tributo merecido

No final de um 2024 que terminou ao serviço do "seu" Vilacondense de sempre, nos Nacionais de clubes, mantendo o emblema na primeira divisão, Monteiro é uma das ausências notadas do alto rendimento nacional.

Homenageada por todos nos Nacionais em julho, com ovação e homenagem que se estendeu ao treinador, Fábio Pereira, Ana Catarina sente que não só os resultados, mas “a forma de estar”, falaram mais alto ao longo da carreira entre a elite.

Como encarei todo o meu percurso marcou a diferença nos mais novos. Essa é a melhor recompensa que podemos ter. Nos últimos anos, especialmente no último ano, senti que a minha paixão pela competição não era já a mesma. Tinha assumido o compromisso de lutar até final pelos Jogos, e foi o que fiz”, diz.

A licenciada em Bioengenharia, na Universidade do Porto, sentia que “faltava algo” durante os últimos anos, com vista a Paris2024, por que lutou até ao último dia pelos mínimos, e acabou por entender que o compromisso com o alto rendimento “já não fazia sentido”.

“Está a ser uma transição tranquila, e para mim muito importante. (...) Já tinha definido na cabeça, desde que comecei o ciclo, que Paris2024 seria o meu último grande objetivo na alta competição”, admite.

"Não dá mais, vou ter de parar"

Apesar de o saber, 2024 acabou por ser “dos anos mais difíceis da carreira a nível psicológico”.

Treinava e as coisas não saíam. Agora percebo que se calhar a minha paixão para competir não era já a mesma. Olho para trás, e em março, após o Nacional e não conseguir mínimos para o Europeu, sabendo que estava a 3 meses de completar o que me comprometi, foi a primeira vez na carreira que pensei: 'não dá mais, vou ter de parar'”, conta.

O trabalho fê-la perceber que, depois da prioridade dada à natação, podia encontrar noutras funções a mesma dedicação não só à natação, continuando a nadar e a treinar, a sentir “a paixão” pelas piscinas e o treino, como ao trabalho comunitário que sempre sobressaiu da sua postura.

Em Tóquio2020, apesar de fazer história, não ter chegado ao recorde nacional, por não estar na melhor forma, “e saber que o melhor tempo podia ter dado uma final” deixou uma sensação agridoce, mas o feito inédito só a pode deixar “orgulhosa”.

Sinto que tenho missão cumprida. Não podia ter feito mais do que o que fiz. Se voltasse atrás, poucas seriam as coisas que mudava. Ter esta sensação de que fiz tudo o que podia e as coisas surgiram é a melhor sensação que podemos ter. (...) Mais do que resultados, associo cada um desses momentos a histórias com outras pessoas. São momentos que ficam para sempre”, atira.

E, nisso, a importância da conduta e da ética é o que lhe fica. “Para mim, a grande vitória na minha carreira foi ter conseguido marcar a diferença, o meu lugar, pela forma como estive nas piscinas”, concluiu.

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