2024 em revista: Iúri Leitão brilhou em Paris na última missão olímpica de Constantino
Iúri Leitão foi o protagonista da melhor missão portuguesa em Jogos Olímpicos, a última de José Manuel Constantino, que morreu ao ‘cair do pano’ de Paris2024, onde Simone Biles, Léon Marchand e ‘Mondo’ Duplantis foram as figuras internacionais.
No espaço de dois dias, Leitão inscreveu para sempre o seu nome na história do olimpismo português: primeiro, foi prata no omnium e, depois, juntamente com Oliveira, sagrou-se campeão olímpico no madison, com os dois ciclistas a conquistarem o primeiro ouro para Portugal fora do atletismo.
O jovem ciclista entrou, assim, de rompante na galeria dos melhores olímpicos lusos de sempre, superando Rosa Mota, Fernanda Ribeiro ou Fernando Pimenta e igualando o ‘pecúlio’ de Carlos Lopes e Pedro Pichardo, que em Paris2024 juntou a prata no triplo salto ao ouro de Tóquio2020.
Para entrar na lista dos olímpicos mais medalhados por Portugal, o saltador ‘voou’ 17,84 metros, ficando a apenas dois centímetros do ouro, conquistado pelo espanhol Jordan Díaz.
No ‘rescaldo’ da passagem pela capital francesa, ‘ameaçou’ acabar a carreira, cansado da falta de apoios e do diferendo com o Benfica, uma ideia que aparentemente abandonou, depois de sagrar-se vencedor da final da Liga Diamante.
Mas a melhor prestação portuguesa de sempre em Jogos Olímpicos – superou Tóquio2020 na ‘cor’ das medalhas – começou a escrever-se em 01 de agosto, quando a judoca Patrícia Sampaio conquistou o bronze nos -78 kg.
A da recém-coroada campeã nacional foi a primeira medalha em Paris2024, mas a sorte da Missão portuguesa, que até aí acumulava deceções, começou a mudar um dia antes, nas provas individuais de triatlo: Vasco Vilaça e Ricardo Batista fizeram uma prova de trás para a frente para serem, respetivamente, quinto e sexto classificados, e ainda se uniram a Maria Tomé e Melanie Santos para conquistar um novo diploma, graças ao quinto lugar na estafeta mista.
Numa comitiva ‘recheada’ de estreantes e com as mulheres pela primeira vez em maioria, a ginástica mostrou uma renovada vitalidade, com a experiente Filipa Martins, que entretanto terminou a carreira, a ser a primeira portuguesa a chegar à final ‘all around’ da ginástica artística em Jogos Olímpicos, e o jovem Gabriel Albuquerque, o ‘caçula’ da delegação com apenas 18 anos, a tornar-se no melhor de sempre nos trampolins, com o quinto lugar na final.
Na senda dos ‘diplomados’, destaque para os velejadores Carolina João e Diogo Costa, que na distante Marselha foram quintos na classe 470, mas também para o ciclista Nelson Oliveira, sétimo no contrarrelógio, Maria Inês Barros, pioneira no tiro com armas de caça e oitava no fosso olímpico, e Jéssica Inchude, oitava no lançamento do peso.
Se uns surpreenderam, outros ficaram aquém do esperado, como os canoístas Fernando Pimenta, que procurava a terceira medalha olímpica e foi sexto no K1 1.000 metros, e a dupla João Ribeiro/Messias Baptista, os campeões mundiais que foram quintos no K2 500 metros.
No entanto, os três saíram com diplomas da capital francesa, ao contrário do que aconteceu com o skater Gustavo Ribeiro, a primeira esperança lusa para abrir o medalheiro e apenas 17.º na prova de street, mas, sobretudo, Diogo Ribeiro, que falhou na piscina (e fora dela).
Campeão mundial em título dos 100 metros mariposa, o jovem nadador, então com 19 anos, ‘só’ conseguiu o apuramento para as ‘meias’ nos 50 livres, mas caiu prematuramente nos 100 livres e na sua distância de eleição, ‘culpando’ tudo e todos – menos ele próprio – pela prestação dececionante.
Para o país, e mesmo para o olimpismo internacional, Paris2024 é também sinónimo de perda, a de José Manuel Constantino, o pensador do desporto que presidiu ao Comité Olímpico de Portugal desde março de 2013 e que morreu durante a cerimónia de encerramento dos Jogos, após anos de luta contra o cancro.
Nesse dia 11 de agosto, a capital francesa passou o testemunho a Los Angeles2028, numa cerimónia em que Léon Marchand assumiu um papel tão central como aquele que desempenhou durante os Jogos, nos quais se tornou no primeiro francês a conquistar quatro medalhas de ouro numa mesma edição.
Herói de uma nação que organizou aqueles que provavelmente permanecerão como os mais belos Jogos da história – uma realidade que fez esquecer erros como a aposta num Sena ainda poluído para a natação de águas abertas e o triatlo -, o nadador dividiu protagonismo nas piscinas com Katie Ledecky, que igualou a ginasta soviética Larisa Latynina como a mulher com mais títulos na história do olimpismo (nove).
Outra norte-americana, a ‘regressada’ Simone Biles, mostrou estar recuperada dos problemas de saúde mental que a afetaram em Tóquio2020, e deixou a capital francesa com três ouros e uma prata.
Tão previsível como o domínio de Biles na ginástica era o ouro, com recorde do mundo, de Armand ‘Mondo’ Duplantis no salto com vara, uma ‘certeza’ não extensível, por exemplo, ao título olímpico do tenista sérvio Novak Djokovic, que finalmente cumpriu o sonho de uma vida ao alcançar o ouro em singulares.
Entre os destaques de Paris2024, Remco Evenepoel tem um lugar na galeria de ‘honra’, após conseguir o feito inédito de sagrar-se duplo campeão olímpico na estrada – venceu o ‘crono’ e a prova de fundo.