As principais medidas inscritas na proposta de Orçamento do Estado para 2025

por RTP
António Pedro Santos - EPA

Entre negociações, cedências e incertezas, foi entregue e apresentada na quinta-feira a proposta de Orçamento do Estado para 2025. Com uma previsão de crescimento da economia em 2,1 por cento no próximo ano e de queda da dívida pública até aos 93,3 por cento, o documento contempla medidas com um impacto orçamental de 2,6 mil milhões de euros. Quais são as principais propostas do Executivo?

IRS Jovem
Este foi um dos principais pontos de divisão entre o Governo e o Partido Socialista. Num anúncio de última hora, mas sem falar em cedências, a equipa de Luís Montenegro decidiu retirar do Parlamento a proposta de lei relativa ao IRS Jovem. No documento ontem apresentado, esta medida é alargada até dez anos e o valor de rendimento é reforçado.

Os trabalhadores (por conta de outrem ou independentes) até aos 35 anos beneficiam de um desconto no IRS que consiste numa isenção sobre 100% do rendimento, com o limite de 55 Indexantes de Apoios Sociais (IAS) no primeiro ano.

Do 2.º ao 4.º ano, a isenção incide sobre 75% do rendimento, do 5.º ao 7.º ano a isenção é de 50% e do 8.º ao 10.º anos a isenção é de 25%. Ao longo de todo este período, o limite de rendimento que pode beneficiar da isenção mantém-se nos 55 IAS (cerca de 28 mil euros coletáveis anuais).
IRC
A descida da taxa do IRC, imposto que incide sobre o lucro das empresas, em um ponto percentual corresponde a uma versão mais recuada do que a anunciada inicialmente pelo Governo, na sequência do processo negocial com o PS.

A par da descida da taxa geral do IRC, o OE2025 contempla uma diminuição dos atuais 17% para 16% da taxa de IRC dirigida às pequenas e médias empresas (PME) para lucros até 50 mil euros, com o objetivo de atingir os 12,5% em três anos.

O Governo deixou ainda cair a referência a novas descidas da taxa do IRC nos anos seguintes, tendo retirado a proposta de autorização legislativa nesse sentido que tinha enviado há algumas semanas ao Parlamento.
Saúde
Na saúde, está previsto prosseguir em 2025 a regularização das listas de espera para cirurgia, assim como a criação de uma nova prioridade clínica para os utentes oncológicos.

Entre as medidas para o próximo ano consta também a monitorização do doente crónico à distância, o reforço dos acordos com os setores social e privado para aumentar a resposta do Serviço Nacional de Saúde, e promover a desburocratização do licenciamento das entidades prestadoras de cuidados.

De acordo com o documento, o executivo propõe-se ainda a abrir em 2025 novos Centros de Referência, em áreas devidamente avaliadas, e criar "as condições ideais para o seu funcionamento e inová-los, privilegiando ativamente a sua atividade".
Ação Social
O Governo pretende gastar mais 11% com ação social em 2025, chegando quase aos 3,7 mil milhões de euros, sobretudo por causa do alargamento da rede de cuidados continuados e da medida de gratuitidade das creches.

No documento é mencionado que estão contemplados "os impactos inerentes ao alargamento da gratuitidade das creches, seja no setor social e solidário, seja no setor lucrativo e na rede pública".

Já no que diz respeito à alínea sobre prestações sociais, há um aumento de 4,1% no valor previsto para o abano de família, que atinge os 1.403,2 milhões de euros, e que "decorre do aumento dos montantes de acordo com a variação da inflação".

"Quanto às prestações de parentalidade, a despesa ascende a 956,9 milhões de euros, evidenciando um crescimento de 8% face à previsão de execução para 2024, uma vez que considera o aumento do número de beneficiários e da remuneração por trabalhador", refere o Governo.
Função pública
O Governo prevê gastar 597 milhões de euros com os aumentos salariais da Função Pública no próximo ano. Esta é a estimativa de despesa prevista à luz do acordo de valorização dos trabalhadores da Administração Pública, que foi assinado com o anterior executivo e que prevê aumentos de cerca de 52 euros, com um mínimo de 2%.
Polícias e bombeiros
O acordo do Governo com os elementos da PSP e GNR sobre o suplemento de risco vai ter um impacto orçamental de 168,7 milhões de euros em 2025, segundo a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano.

"O Governo definiu uma trajetória de aumento da componente fixa do suplemento por serviço e risco nas forças de segurança (Guarda Nacional Republicana e Polícia de Segurança Pública) de forma faseada: subirá para 300 euros com produção de efeitos a 1 de julho de 2024, para 350 euros a 1 de janeiro de 2025 e para 400 euros a 1 de janeiro de 2026", refere a proposta entregue na Assembleia da República.

O Executivo pretende ainda rever as remunerações e as novas regras para a aposentação dos bombeiros sapadores no primeiro trimestre do próximo ano.
Defesa
A proposta prevê uma despesa de 3.065,1 milhões de euros com a Defesa Nacional, o que representa um aumento de 5,38% face ao valor que tinha sido orçamentado para este ano.

No que toca à Lei de Programação Militar (LPM), o executivo prevê gastar 479,2 milhões de euros, o que representa uma redução de 69,8 milhões de euros face ao inscrito na proposta de orçamento para 2024 (menos 12,7%).

O executivo salienta que "será considerada a possibilidade de uma revisão" da LPM, a iniciar no próximo ano, e propõe-se a melhorar a execução desta lei mas também da Lei de Infraestruturas Militares (LIM), na qual prevê gastar 21,9 milhões de euros.

Estima-se um aumento de "despesas com pessoal", valor que em 2025 estima-se que atinja os 1.314,5 milhões de euros, e que representa grande parte (42,9%) da dotação da despesa total consolidada.
Ambiente
O Governo mantém no Orçamento do Estado para 2025 o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2045 e diz que vai rever o Roteiro para a Neutralidade Carbónica.

O reforço da área das energias renováveis vai levar a metas mais ambiciosas, "onde se destaca a quota de 51% de renováveis no consumo final bruto de energia a atingir até 2030, acima dos anteriores 47%".

Segundo o documento, será também preparado um Plano Nacional de Restauro Ecológico, e sobre as áreas protegidas "em 2025 voltarão a existir diretores, equipas técnicas e vigilantes alocados à sua gestão efetiva".

Na mesma área, segundo o OE2025, "será dada especial atenção às áreas marinhas protegidas", e ao nível da proteção do litoral será apresentado o Programa de Ação para a Resiliência do Litoral 2025-2040.
Ciência e inovação
O Governo fixou como meta para 2025 alcançar 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em investimento público e privado em ciência e inovação, segundo a proposta de Orçamento.

"O Ministério (da Educação, Ciência e Inovação) tem como objetivos para 2025 atingir 1,9% do PIB de investimento (público e privado) em ciência e inovação", refere o relatório da proposta de OE2025, salientando que em 2023 a despesa em Investigação e Desenvolvimento (I&D) situou-se em 1,7% do PIB, "um valor muito inferior à média europeia".
Código da Estrada
O Governo quer rever no próximo ano o Código da Estrada e alterar as regras da condução sob influência de substâncias psicotrópicas.

O documento avança também que é intenção do executivo "aumentar a interoperabilidade dos sistemas de gestão das contraordenações rodoviárias, fortalecer os mecanismos de automatização e prosseguir a desmaterialização do procedimento contraordenacional, melhorando assim a sua eficiência e eficácia".
Revisão da lei dos TVDE
A revisão da lei que rege a atividade do transporte em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica (TVDE) vai avançar em 2025, após sucessivos adiamentos, segundo a proposta do Orçamento do Estado.

De acordo com a proposta orçamental, o Governo social-democrata vai avançar com a revisão do novo regime jurídico do TVDE, depois de ter sido sucessivamente adiada desde 2022, pelo governo então liderado por António Costa (PS).
Desporto
O Governo fixou em 42,5 milhões de euros o valor da despesa no setor do desporto para 2025, menos 16% do que em 2024.

"O Governo está empenhado em reforçar o investimento no desporto em Portugal, dado o contexto desportivo internacional, aproximando-o da média da União Europeia, num momento crucial, em que se inicia um novo ciclo olímpico e paralímpico, afirmando o compromisso com a excelência e o desenvolvimento desportivo", lê-se no documento.

c/ Lusa
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