Zelensky descreve ataques russos como "sinal claro" de que Moscovo não quer "paz real"

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Valentyn Ogirenko - Reuters

A Rússia voltou a atacar a Ucrânia durante a noite, com recurso a uma centena de drones. Para o presidente ucraniano, estes ataques são “um sinal claro” de que Moscovo “não procura uma paz real”. O Kremlin, por sua vez, disse estar satisfeito com o progresso das negociações com Washington, mas exige uma série de condições para implementar o acordo de cessar-fogo no Mar Negro, anunciado pelos Estados Unidos na terça-feira.

De acordo com Volodymyr Zelensky, o exército russo lançou "117 drones explosivos" contra cidades e vilas ucranianas na noite de terça, acrescentando que “um número significativo foi abatido”.

“Lançar ataques em grande escala após as negociações de cessar-fogo é um sinal claro para o mundo inteiro de que Moscovo não procurará uma paz real”, escreveu o presidente ucraniano na rede social X.

“Desde 11 de março que existe uma proposta dos EUA para um cessar-fogo total, uma interrupção total dos ataques. E literalmente todas as noites, através dos seus ataques, a Rússia continua a dizer “não” à proposta de paz dos nossos parceiros”, acrescentou, apelando aos seus aliados que "pressionem" o Kremlin "para pôr fim aos ataques russos", exigindo em particular "mais sanções dos Estados Unidos".

A declaração de Zelensky surge um dia depois de os Estados Unidos terem anunciado que chegaram a acordos separados com a Ucrânia e a Rússia para cessar os combates no Mar Negro e travar os ataques contra alvos energéticos.

O Kremlin disse estar satisfeito com o progresso das negociações com Washington e garantiu que está a dar continuidade aos seus contactos intensivos com os EUA.


"Estamos satisfeitos com a forma pragmática e construtiva com que o nosso diálogo se está a desenvolver e com a forma como está a produzir resultados", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos jornalistas. Peskov disse que os contactos entre a Rússia e os EUA permitiram que uma lista de instalações russas e ucranianas abrangidas por uma moratória temporária sobre ataques contra alvos energéticos fosse acordada rapidamente.

No entanto, Moscovo e a Ucrânia têm trocado acusações sobre ataques a instalações energéticas. Esta quarta-feira, o Ministério da Defesa russo acusou a Ucrânia de tentar atacar a infraestrutura energética civil russa em três áreas diferentes.

Por sua vez, Peskov garante que o acordo está em vigor e está a ser cumprido pelas forças armadas russas.
As condições de Moscovo para o acordo do Mar Negro
Os Estados Unidos anunciaram na terça-feira que chegaram a acordo com Kiev e Moscovo para implementar um cessar-fogo no Mar Negro. Segundo o comunicado da Casa Branca, o entendimento visa "garantir a navegação segura, eliminar o uso da força e impedir o uso de embarcações comerciais para fins militares".

No entanto, este compromisso permanece muito incerto nesta fase, uma vez que Moscovo exige uma série de condições antes da sua implementação.

O Kremlin alertou na terça-feira que este acordo só poderá entrar em vigor após o "levantamento" das restrições ocidentais ao comércio de cereais e fertilizantes russos - uma condição que parece pouco provável de ser cumprida e que poderá dar tempo ao exército russo, que está numa posição favorável nas linhas da frente.

O porta-voz do Kremlin disse que estas condições são as mesmas que foram impostas pela Rússia na altura do acordo original do Mar Negro. Segundo Peskov, “todas as condições foram cumpridas, exceto aquelas referentes ao lado russo”. “Então desta vez a justiça deve prevalecer e nós vamos continuar o nosso trabalho com os americanos", asseverou.

Moscovo retirou-se em 2023 da Iniciativa do Mar Negro, negociado pelas Nações Unidas e pela Turquia em 2022, que permitia à Ucrânia exportar os seus produtos agrícolas por via marítima. Na altura, a Rússia considerou que os obstáculos às suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes não tinham sido atenuados conforme prometido nos termos do acordo.

Desde então, a Ucrânia estabeleceu um corredor marítimo que lhe permite negociar, mas os seus portos e navios são atacados regularmente.

c/ agências
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