Zelensky acusa Putin de "ter medo de negociações" e roga a Trump que fique ao lado da Ucrânia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Gleb Garanich - Reuters

O presidente ucraniano acusou esta quarta-feira o chefe de Estado russo de ter “medo de negociações e de líderes fortes”, depois de Vladimir Putin ter rejeitado negociar diretamente com Volodymyr Zelensky por considerar que este não tem legitimidade política. O presidente ucraniano acusa Putin de estar a tentar manipular Donald Trump e pediu ao presidente norte-americano que fique do lado da Ucrânia.

"Hoje, Putin voltou a confirmar que tem medo de negociações e de líderes fortes e que está a fazer tudo o que é possível para prolongar a guerra", afirmou Zelensky numa publicação na rede social X, acusando Vladimir Putin de querer prolongar a guerra indefinidamente.

"Todos os movimentos que faz e os truques cínicos procuram tornar esta guerra interminável", escreveu Zelensky.

Zelensky reage, assim, às recentes declarações do presidente russo. Putin considera possível alcançar um acordo com a Ucrânia que salvaguarde os interesses russos, mas rejeita negociar a paz diretamente com Zelensky por considerar que não tem legitimidade política, uma vez que o mandato expirou em maio do ano passado e que, desde então, não convocou eleições. A Ucrânia está sob a lei marcial desde o início da ofensiva russa e a Constituição ucraniana proíbe a realização de eleições enquanto se encontrar em vigor esta lei.

“Se há vontade de haver conversações para encontrar uma solução de compromisso, que elas se realizem quando for. Mas quanto a assinar acordos, precisamos da confirmação e da legitimidade de peritos legais”, disse o presidente russo em declarações à televisão estatal russa.

O presidente ucraniano acredita que é possível alcançar um acordo de paz justo e reforçou o apelo aos líderes mundiais, pedindo que não repitam os "erros do passado" em relação à Rússia.

"Putin tem capacidades significativas para minar a estabilidade global, mas é demasiado fraco para resistir à pressão real de líderes fortes", escreveu Zelensky no X, sem especificar mas frisando que é preciso atuar de forma decisiva e unida.

"A paz é possível se a Rússia for forçada a isso", reiterou o chefe de Estado ucraniano.
Zelensky pede que Trump fique do lado da Ucrânia
O presidente ucraniano alertou ainda contra ser excluído de quaisquer negociações de paz entre a Rússia e os EUA, acusando Vladimir Putin de estar a tentar manipular o desejo de Donald Trump de obter a paz na Ucrânia, para ganhar vantagem no campo de batalha.

Zelensky diz que Putin está a tentar manipular os líderes mundiais, “em particular o desejo do presidente dos Estados Unidos de alcançar a paz”.

O chefe de Estado ucraniano fez esta afirmação depois de ter tido conhecimento do último relatório dos serviços secretos de Kiev sobre a capacidade de o Kremlin manter as atuais ofensivas.

Em entrevista à Fox News, Zelensky pediu a Donald Trump que fique do lado da Ucrânia, afirmando que Putin “não tem medo da Europa”.

"Queremos que Trump esteja do lado da justiça, do lado da Ucrânia", disse Zelensky na entrevista exibida na noite de terça-feira. "Putin não tem medo da Europa”, asseverou.

Com o regresso de Trump à Casa Branca, o apoio dos EUA à Ucrânia é incerto. Após o início da invasão russa, os Estados Unidos, sob a Administração Biden, enviaram mais de 175 mil milhões de dólares em ajuda para a Ucrânia, incluindo mais de 60 mil milhões em assistência de segurança.

No entanto, com a Administração Trump, não se espera que a ajuda norte-americana a Kiev se mantenha, pelo menos a este ritmo. Principalmente depois de Trump ter suspendido todos os programas de apoio externo, à exceção do suporte humanitário ao Egito e a Israel, o que pode agravar as dificuldades operacionais na Ucrânia em vários setores.

Trump, que regressou à Casa Branca a 20 de janeiro, prometeu acabar com a guerra entre Moscovo e Kiev “em dois dias”, sem fornecer mais detalhes.

O republicano também já expressou a sua disposição em falar com Putin sobre um acordo para a paz.
Rússia diz ter abatido 100 drones ucranianos
O Ministério russo da Defesa anunciou esta quarta-feira que abateu 104 drones ucranianos em nove das suas regiões durante a noite, num dos maiores ataques deste tipo em território russo desde o início do conflito.


Todas as 104 aeronaves foram "intercetadas e destruídas pelos sistemas de defesa aérea", incluindo 47 na região de Kursk, de acordo com a declaração do Ministério, publicada no Telegram.

Uma criança de dois anos e a sua mãe foram mortas num destes ataques na região fronteiriça russa de Belgorod, segundo o governador.

"O ataque de drones a uma casa residencial na aldeia de Razumnoye (...) resultou no pior: uma criança de dois anos e a sua mãe foram mortas", escreveu o governador Vyacheslav Gladkov no Telegram, acrescentando que outra "criança e o seu pai" ficaram feridos na mesma casa. Na região de Nizhny Novgorod, destroços de um drone provocaram um incêndio numa refinaria, de acordo com autoridades e os meios de comunicação locais.

"Os destroços de um drone caíram no terreno de uma fábrica na zona industrial de Kstovo", escreveu o governador regional Gleb Nikitin no Telegram. "Os bombeiros estão a combater o incêndio no momento. De acordo com os relatórios iniciais, ninguém ficou ferido", acrescentou.

Ao mesmo tempo, as forças russas afirmam ter capturado a vila de Novoielyzavetivka na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, segundo informou a agência de notícias estatal RIA esta quarta-feira, citando o Ministério da Defesa.


Kiev intensificou os seus ataques aéreos contra instalações militares e energéticas russas nos últimos meses, uma campanha descrita como uma resposta justa ao bombardeamento implacável da Rússia contra as suas cidades e rede elétrica.

Desde uma ofensiva surpresa lançada em agosto, Kiev diz ter recuperado o controlo de centenas de quilómetros quadrados de território ucraniano.

c/agências
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