O presidente ucraniano entrou no circuito norte-americano com entrevistas, encontros e uma agenda que contempla a passagem por Nova Iorque, para falar perante a Assembleia-Geral da ONU. À televisão ABC disse, em entrevista exclusiva, que acredita no fim próximo da guerra com a Rússia, pelo que reforçou o pedido de mais apoio aos aliados. Já Donald Trump, que se diz capaz de pôr termo ao conflito em 24 horas, acusa Volodymyr Zelensky de querer uma vitória dos democratas nas presidenciais americanas.
Nessa entrevista, com o prognóstico de um fim próximo do conflito - e por esse mesmo motivo -, o presidente ucraniano instou Washington e restantes parceiros internacionais a continuarem a apoiar a Ucrânia e dar meios ao exército do seu país.
“O plano da vitória é fortalecer a Ucrânia”, afirmou Zelensky. “É por isso que pedimos aos nossos amigos, aos nossos aliados, que nos fortaleçam. É muito importante”.O líder ucraniano acredita que apenas a partir de uma “posição forte” Kiev pode “pressionar Putin a colocar um fim à guerra”.
A ideia seria reforçada num post da sua conta na rede Telegram, onde afirma que uma ação determinada dos Estados Unidos pode acelerar o fim da guerra já no próximo ano: “Uma ação decisiva agora pode acelerar o fim da agressão russa contra a Ucrânia no próximo ano”.
“Agora, no final do ano, temos uma oportunidade real de fortalecer a cooperação entre a Ucrânia e os Estados Unidos”, acrescentou Zelensky no Telegram depois de se reunir com uma delegação bipartidária do Congresso americano.
Sobre “o plano de vitória” que se comprometeu a apresentar neste périplo americano, Zelensky pouco adiantou para já, mas um membro do seu gabinete já veio dizer que envolve o acelerar do processo de integração da Ucrânia na NATO, um cenário que o presidente russo, Vladimir Putin, considera inaceitável.Putin já disse que as negociações de paz apenas poderiam ocorrer se Kiev abandonasse as suas ambições em relação à Aliança Atlântica. Condiciona um acordo de paz também à saída dos ucranianos das áreas do leste e sul da Ucrânia.
A Rússia controla cerca de 20 por cento do território ucraniano e tem avançado no leste, assumindo o controle de uma série de localidades num esforço para tomar a região do Donbas.
Numa decisão para inverter esta estratégia e retomar a iniciativa, as tropas ucranianas atacaram a região de Kursk, no oeste da Rússia, a 6 de agosto, o que apanhou Moscovo de surpresa e agora Volodymyr Zelensky aproveita esse feito para sublinhar o que diz ser – apesar de os russos continuarem a avançar sobre seus objetivos no Donbas – a fraqueza da posição de Putin.
“Ele tem muito medo. Porquê? Porque o seu povo viu que ele não pode defender, que ele não pode defender todo o seu território”, apontou Zelensky na entrevista à ABC.
Trump amuado
Apesar de pretender reunir-se com os dois candidatos à eleição da qual sairá o próximo presidente dos Estados Unidos – Kamala Harris e Donald Trump -, por ora o líder ucraniano terá de lidar por estes dias com o amuo do republicano, que o acusa de querer uma vitória de Kamala.
“Acho que Zelensky é o maior vendedor da história. Sempre que ele vem ao país, sai com 60 biliões de dólares”, acusou Trump num comício no oeste da Pensilvânia.
“Ele quer muito que ganhem esta eleição, mas eu faria diferente, eu consigo a paz”, garantiu o candidato republicano. Com a Assembleia-Geral da ONU na agenda, o presidente ucraniano aproveita a viagem aos EUA para manter contactos com parceiros internacionais e já se avistou com os primeiros-ministros japonês e indiano, Fumio Kishida e Narendra Modi.
Entretanto, a campanha de Kamala Harris fez sair um comunicado em que acusa Trump de não ser explícito a dizer que deseja que a Ucrânia vença esta guerra.
“A vice-presidente Harris entende que, se os Estados Unidos se afastarem da Ucrânia, Putin estará sentado em Kiev com os olhos postos no resto da Europa e nos nossos aliados da NATO”, assinalou Morgan Finkelstein, porta-voz de segurança nacional da campanha da democrata.