Yevgeny Prigozhin. O que se sabe sobre a morte do patrão do grupo Wagner?

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Yevgeny Prigozhin está entre as vítimas confirmadas da queda de um avião em território russo na quarta-feira, exatamente dois meses após a rebelião do grupo Wagner contra o Kremlin. Moscovo mantém-se em silêncio sobre a morte de Prigozhin, enquanto as autoridades ucranianas dizem que o acidente foi "um aviso às elites russas".

A queda de um avião na quarta-feira na região de Tver, 150 quilómetros a norte de Moscovo, provocou a morte de todos os dez passageiros que seguiam a bordo.

Na lista de passageiros estava Yevgeny Prigozhin e Dmitry Utkin, um dos fundadores do grupo Wagner.

A morte do líder do grupo de mercenários russo foi confirmada poucas horas após a queda do avião por um canal na plataforma Telegram ligado ao grupo Wagner. A Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia (Rosaviatsiya) também indicou que Prigozhin era um dos passageiros do jato privado que se despenhou.
As causas do acidente ainda não são conhecidas e a Rosaviatsiya já anunciou a abertura de uma investigação à queda.

O acidente ocorreu exatamente dois meses depois do motim de Prigozhin e do grupo Wagner contra a liderança militar da Rússia, o que está a originar teorias sobre se a queda do avião não terá sido um ato de vingança por parte de Vladimir Putin.

Prigozhin e as tropas do Wagner marcharam, a 23 de junho, em direção a Moscovo. Mas o motim acabou por ser suspenso menos de 24 horas depois, uma vez que foi alcançado um acordo com a vizinha Bielorrússia. A rebelião foi o maior desafio ao governo de Putin desde que este subiu ao poder, há 23 anos.
Acidente foi “uma aviso às elites russas”
As autoridades ucranianas interpretaram o acidente como um “aviso às elites russas”. “Foi um sinal de Putin às elites da Rússia antes das eleições de 2024. 'Cuidado! Deslealdade é igual a morte'”, disse o assessor presidencial ucraniano, Mykhaylo Podolyak.

O presidente dos Estados Unidos também sugeriu o envolvimento de Putin na morte de Prigozhin.

“Não sei ao certo o que aconteceu, mas não estou surpreso”, disse Joe Biden na quarta-feira. “Não acontece muita coisa na Rússia sem que Putin seja responsável por isso. Mas não sei o suficiente para saber a resposta”, asseverou, depois de ser questionado pelos jornalistas se acredita que Putin é responsável pelo acidente.

O diretor da CIA, Bill Burns, e o secretário de Estado, Antony Blinken, fizeram comentários semelhantes, mencionando o historial de vingança de Putin e a frequência com que críticos ou dissidentes russos morrem em circunstâncias misteriosas.

Bill Browder, um crítico de Putin, disse estar surpreso por Prigozhin ter sobrevivido tanto tempo depois da rebelião.

"Putin nunca perdoa e nunca esquece. Ele parecia um fracote humilhado, com Prigozhin a circular pelo mundo sem se importar. Isto consolidará a sua autoridade", escreveu Browder na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter.

O antigo alto funcionário das Nações Unidas, Vítor Ângelo, também não se mostra surpreendido com a morte do líder do grupo mercenário. “A morte de Prigozhin era uma morte esperada. A partir do momento em que ele se revoltou contra Vladimir Putin, mais tarde ou mais cedo o presidente russo apresentar-lhe-ia a conta”, referiu Vítor Ângelo em entrevista à Antena 1.

O Kremlin ainda não quebrou o silêncio em relação à morte de Prigozhin. O próprio Putin não fez menção ao acidente durante um discurso em Moscovo, na quarta-feira, para assinalar o 80º aniversário da vitória na Batalha de Kursk durante a Segunda Guerra Mundial.
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